"Breviário das Almas", Prémio Manuel da Fonseca 2008, é um livro de contos, mas pode, segundo o autor, Joaquim Mestre, "ser lido como uma narrativa ou até um romance pois tem um final e conta a história de uma família". ..... Li-o de um fôlego! O Breviário das Almas apresenta-nos várias histórias de amor. Partidas e regressos, recordações deixadas em casas por onde se passa, gente com que nos cruzamos ao longo do caminho. Uma linguagem interessantíssima, usando termos que cairam em desuso.Fez-me recuar ao tempo dos avós em que a vida no campo não era senão o que ele tão bem descreve. .Conheci o autor, há cerca de um ano na Livraria em Sines, no lançamento de um livro seu. Era o homem sorridente que vemos na imagem! Morreu não há muitos dias, vítima de doença (que nem foi prolongada...). Lamento pelo Homem e pela Literatura em Portugal que ficou mais pobre!
Era Junho, Dia da Criança e toda a Escola se deslocava para um grande jardim onde os alunos pudessem brincar livremente. Mal acabámos de chegar, o Carlos Manuel pregou um pontapé nas canelas do João que o deixou a sangrar e a choramingar. Eu: "Ó Carlos Manuel, como pudeste fazer uma coisa destas? Era um dia para estarmos alegres e brincar sem agressões!" Ele: "Pois é! Não sei porque fiz isto, se eu até sou amigo do moço!..." Eu: "E é assim que tratas os amigos?" Ele: "Mas, olhe professora quem teve a culpa foi a minha mãe!" Eu (absolutamente espantada com a resposta): " A tua mãe? Mas se a pobre da senhora está em casa como pode ser culpada da maldade que tu fizeste?" Ele: "Pois! É que eu disse-lhe «mãe, não me calce as botas caneleiras, é melhor eu levar as sapatilhas... »Está a ver? Se eu trouxesse sapatilhas tinha-lhe dado o pontapé e não lhe teria feito mal!" Com tal resposta eu não pude deixar de dar (interiormente) uma gargalhada. Lá lhes pedi que apertassem a mã0 como verdadeiros amigos que eram. E lá foram brincar. Um com as dores mais aliviadas, o outro com a consciência mais tranquila! E são assim as crianças!...
Um dia disse ao meu Pai:
- Sou filha das tristes ervas...
Ele respondeu, versejando com muita graça:
"FILHA DAS TRISTES ERVAS
MAS NÃO DA ERVA DANINHA
FILHA DA MANA BIA
E DO MANO ZÉ PALMINHA!"