É por isso que ele vagueia praia abaixo, praia acima.
Não tem mais nada que fazer!
Há uns anos atrás, antes de arranjarem a falésia, ele tinha uma hortinha, ali mesmo à esquerda de onde agora há um laguinho (com rãs, felizmente).
Por ironia, construiram uma escadaria com 3 ou 4 degraus que não levam a lugar nenhum, mas que iria ter à horta se não a tivessem destruído.
-Cabrões!- clamava ele, na altura.
E eu concordo.Porque aquilo até devia ser perseverado e considerado património do recém- eleito "calçadão"!
O Alberto tinha lá de tudo e até organizava petisqueiras com os amigos que muitas vezes lá vi.
Depois disso, cheguei a encontrá- lo a "esgravatar" debaixo duma palmeira:
- Talvez os gajos me deixem fazer aqui uma horta. Vou pedir!
Claro que não está lá horta nenhuma. Ou não pediu, ou não deixaram.
Um dia, vi- o caminhar pela areia, com um saco de plástico cheio de água que tinha ido buscar a uma torneira.
Fiquei a observar...
Chegou junto de um grande "pé de celca" que tinha nascido junto ao muro da praia e regou- a com a água do saco.
Durante dias, vi- o sentado numa pedra (com queixo pousado nas mãos) a cuidar da sua "horta".
Mas...desta vez, foi o "ar do mar"que lhe acabou com o tesouro.
E é por isso que ele vagueia pela praia, apanhando tudo o que a maré traz e ele acha aproveitável.
- LIXOS!!!- disse- me ontem a mulher, que finalmente conheci e me perguntou se o tinha visto por ali.
E desabafou: - Anda sempre aqui de um lado para o outro. Eu então não dou nenhum valor ao mar!!!
Ai... Ai... porque é que só as fadas têm varinha mágica? Se eu tivesse, faria duas coisas:
- Devolvia a horta ao Alberto
- Dava- lhe uma mulher que "desse valor ao mar"
1 comentário:
Não tem uma varinha mágica, mas tem um espírito observador e humanidade raras. Ainda bem que escreve estas memórias do olhar. Obrigado. Também é mágico...
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