Afinal este vento traz água no bico!
"Passou- se um dia sem que a chuva descesse. Nos juntámos na varanda interrogando os céus. Sob o alpendre fazia muito silêncio. Meu avô, no assento de balanço, chefiava a vigília.
Ao lado, a cadeira sagrada de sua falecida esposa, nossa avó Ntoweni. Desde que ela morrera, o assento nunca mais fora ocupado por ninguém.
E agora ali estávamos nós, calados, incapazes de raciocínio e com medo de entender. Por fim, meu avô ousou falar.
- Essa chuva traz água no bico.
Foi de repente, meu pai se ergueu e anunciou o pensamento: havia que bater naquela água, forçá- la a tombar. Deu uns passos por diante e, e num gesto largo, comandou:
- Tudo a remexer!
Saímos todos com pás, vassouras e panos. Todos menos o avô que mal se erguia sozinho. E varremos o ar, socando as gotas como se agredíssemos fantasmas. "
(Do livro A CHUVA PASMADA de Mia Couto)
E eu digo: - Se calhar foi por isso que choveu...
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