AO EDUARDO LOURENÇO,
NA FLOR DA IDADE
Era bonita mas tão provinciana
a cidade. Dos seus muros pasmados
a luz fina caía preguiçosa
nas areias do rio. Mas o resto
era vulgaridade e sonolência.
Só as árvores não eram vulgares:
de tão formosas, tornavam o céu
de cristal, como se o verão fora
imortal entre plátanos e choupos.
Ali nos encontrámos certo dia,
éramos jovens e mais jovens que nós
era a poesia que nos acompanhava.
Holderlin, Keats, Pessanha, Pessoa
eram então - e não o serão ainda? -
os nosso amigos. O mais, gente ideias
costumes, tudo tinha o mesmo cheiro
de caserna aliada a sacristia.
Dessa cidade em nós nada ficou.
De nós, que ficará nessa cidade?
21.10.83
Eugénio de Andrade
2005-10-13
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