Zé Pedro, na fila de cima o 4º a contar da esquerda, um dos corações mais bondosos que passaram pelas Escolas onde andei.
A minha secretária e uma das filas de mesas dos alunos ficavam mesmo na direcção da porta da sala de aula. No Inverno, quando soprava o vento, uma corrente de ar frio vinha na direcção dos nossos pés gelando-os. Hoje, facilmente se compra uma daquelas protecçõs que se põem na portas e janelas para evitar a entrada de frio e chuva. Naquele tempo era preciso fazê-las, com uma tira de pano cozida como se fosse uma cobra e cheia com serradura ou areia. A isso dávamos, ou damos popularmente o nome de "chouriços":
- Meninos, não terão uma mãe ou avó simpáticas que façam um "chouriço" para colocarmos na porta e evitar esta frieza? - perguntava eu com frequência aos meus alunos, pensando que estava a ser explícita no meu pedido.
Passou um Inverno e nada!
No Inverno seguinte, quase diariamente eu repetia a mesma pergunta.
Até que um dia...
Até que um dia o Zé Pedro, com um ar muito contristado me respondeu:
- Professora, eu estou farto de pedir à minha avó, mas ela diz que só tem linguiças!
Não pude evitar uma gargalhada e ao mesmo tempo constactar que « a língua portuguesa é muito traiçoeira».
Lá expliquei a toda a turma a confusão linguística e todos rimos com o caso.
(Para os mais curiosos, informo que tive que ser eu a fazer o tal "chouriço!...)
14 comentários:
Pois é, Carolina! A Lingua Portuguesa é mesmo traiçoeira! Mas as situações equívocas geradas são, muitas das vezes, hilárias e acabamos galhofando assim como aconteceu contigo e os teus alunos! Ainda bem! A tua historiazinha é verdadeiramente deliciosa!
Até sempre, Carolina!
Espero que depois de resolvido o equívoco, tenhas arranjado o “chouriço” ainda a tempo de ajudar a suportar o frio que não era brincadeira nos edifícios escolares. Quando dei aulas para os lados de S. Domingos da Serra, havia uma lareira na sala de aulas mas não funcionava por falta de lenha.
Beijinhos
Linda história só a Carolina para se lembrar de tudo e dos alunos, um bem haja para ti gosto muito das suas histórias.Um beijinho.
Banalidades, este Zé Pedro é o filho da nossa colega Gabriela Esteves que certamentew conheces. Foi meu aluno 4 anos. Mocinho impecável e amoroso.
;)
Juja, quando dei aulas em Alvalade do Sado os mocinhos levavam de casa umas latinha com brasas que poisavam num tijolo debaixo das mesinhas, junto aos pés.
Eu achava lindo!
Latinhas entornadas e cinza no chão, rapidamente a funcionária da limpeza acabou com aquilo para tristeza de todos nós.
;(
Mª José, vou recordando as história mais marcantes e vou partinhando convosco essas memórias.
;)
Não era mau se alguém trouxesse mesmo um chouricinho:))
Nesse dia sempre se aquecia o estômago, não era?
kandandu
gosto das tuas histórias.todo o mundo fazia dessas cobras que passavam a vida a "qiobar" a malta,eram protecção para tudo, inteméries, lagartos,etc.
Além de protecção para as portas e janelas ... que gostosos instrumentos para as "batalhas" que à socapa se travavam!....
Actualmente tenho um "chouriço" imagina só ... com uma farfalhuda cabeça de leão ao centro. Alguma vez deixarei de ser criança?!...
Beijão à 1ª gaivota que passar!
Lena Tereno
Lami: teria sido uma bela ideia, assadinho no álcool! Hum...
Arlete: o que queres dizer com "quiobar"?
Eu penso que em África tinham que "calafetar" bem, portas e janelas por causa da bicheza!
;)
Lena:estou à janela esperando a tal gaivota!
bjhs
O Zé Pedro foi também meu aluno já há anos! Sim, era um bom rapazinho!
Acho que já está formado e suponho com o devido sucesso tanto a nível profissional, como pessoal.
Banalidades,ainda faltam umas "cadeiritas" ao Zé Pedro, mas penso que não demorará muito a acabar o curso!
;)
Carolina, como os miúdo são giros e falam abertamente, não te explicas-tes bem sobre o que era o chouriço para a porta, os miúdos pensavam que era para comer, bjhs
Pois, a língua portuguesa é muito traiçoeira!...
;)
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