2009-04-25

Memórias!

(Hoje apeteceu-me repor esta postagem, reavivando "as memórias" daquele já longínquo dia)
Alvalade do Sado! Faz hoje 35 anos!
Levantámo-nos às 7 da manhã como habitualmente. A Escola começava às 8h.
De repente a D. Luzia, dona da casa onde morávamos (eu e a minha colega Ana Maria), apareceu na sala meio estremunhada, meio apreensiva: "Senhoras, na telefonia diz que houve uma revolução e que devemos permanecer em casa. As escolas estão fechadas!"
Um nervoso miudinho tomou conta de nós. Passámos a manhã com o ouvido colado na dita telefonia.
Não me recordo já como foi, mas penso que no dia seguinte fomos trabalhar.
A população de Alvalade estava eufórica como de resto todo o País.
Nós também eufóricas!
E começou a "operação limpeza"!
"Limparam-se" duas ou três fábricas que havia na terra.
E falava-se que se iria também limpar a Escola.
Eu e as minhas colegas aguardávamos a "vassoura", confesso que sem grande temor pois tínhamos cá uma fé, que nada nos iria acontecer porque fazíamos falta. Quem tomaria conta dos filhos daquela gente?
Uma noite houve uma reunião "muito assanhada" na escola. De repente ouço uma voz de homem (o Sr. Romão, pai de um aluno meu) :
"Como algumas professoras que em vez de ensinar os moços, os mandam dar uma voltinha a correr em volta da escola para acalmarem!"
Santo Deus, ele não nomeou ninguém mas a visada era Eu! Fiquei mais "caladinha que um rato!..." Eu, acabadinha de sair do Magistério, cheia de ideais pedagógicos, onde se aplicava normas como :
«Se um aluno estiver muito inquieto e desatento, em vez de lhe ralhar, deixemo-lo ir dar uma voltinha no pátio e voltará com mais calma e disponibilidade para aprender.»
Era esta norma pedagógica que eu aplicava ao meu aluno Francisco Romão. Era um garoto de 7 anos, verdadeiro pardal sempre à solta pelos campos, e que agora na escola era obrigado a estar "engaiolado" cinco horas. E digo-vos que a voltinha resultava e era pedagógicamente muito correcta!
Mas... (acobardei-me) e nunca mais me atrevi!
O 25 de Abril não tinha chegado para todos!
O meu aluno nunca se deve ter apercebido porque razão, apartir daquela reunião na Escola a sua LIBERDADE foi afectada e os seus passeiozinhos pelo recreio foram cancelados.
Para ele o 25 de Abril não foi naquela data!
Fiquei sempre com este "remorso"!
Quem sabe se fosse hoje, eu não seria mais corajosa capaz de enfrentar "as massas" e defender os meus pontos de vista em relação à pedagogia e aos interesses dos meus alunos?!

14 comentários:

Juja disse...

Bonitas as tuas memórias, tantas vezes relacionadas com as crianças e a sua forma tão pura de estar. Na altura dominava a emoção. Era impossível “enfrentar” fosse o que fosse, sem graves consequências. Também aqui na cidade grande as coisas não foram diferentes. Todos de cravo na mão, independentemente do seu passado, desfilando pelas ruas em intermináveis manifestações. Agora, a frio, esses factos, podem ser vistos à luz da verdade e não da emoção… Por alguma razão a história só se faz na posteridade.
Um beijinho

Anónimo disse...

Lindas memórias só a Carolina para contar coisas lindas, não falo muito do dia para mim foi triste, eu sei que estava muito mal, mas perdi a minha terra, um beijinho.

Jelicopedres disse...

Fui ali...
Já voltei!!!
Beijinhos para a Carol.
(^_^)

O céu da Céu disse...

É bom recordar...e acredita que me apetecia mandar uns quantos políticos dar umas corridinhas à volta de S. Bento para ver se acalmavam...
Beijinhos

Anónimo disse...

Grande ideia a da Ceu! Mas que boa ideia mesmo! O pior era se o hemiciclo ficava quase vazio!!!!...Um abração
Lena Tereno

Anónimo disse...

.. "uma gaivota voava, voava..."

Uma gaivota voava loucamente
E na tua varanda foi poisar!
Piou três vezes e depois, serenamente,
Voou direitinho ao mar!
Era eu essa gaivota que te fui cumprimentar!
Já tinha saudades tuas,
fui ter contigo a voar.
Depois, como não entendeste,
Fui-me embora para o Mar!
Agora, se uma gaivota
pousar na tua janela
pensa em mim e dá-lhe um beijo
Quem sabe se EU sou ELA !!!...
Lena Tereno
Porem tu não entendeste, era mais uma a piar!!!

Carolina disse...

Juja: O 25 de Abril em 74 foi vivido duma forma muito intensa. Dava gosto ver a alegria e a esperança das pessoas. Depois uns continuaram alegres outros entristaceram e tiveram problemas. Mas, tens razão a história só se faz na posteridade!

Carolina disse...

Maria José, a tua visão do 25 de Abril é outra e muito compreensível!
Nem todos ficaram felizes nem poderiam!
bjh

Carolina disse...

Teresinha, foi ali e já voltou!
Bons olhos te vejam!
Ss calhar, até 3ª feira nas Cantorias.
;)

Carolina disse...

Céu, tens razão!
Mas olha que o Sócrates farta-se de fazer crosses!
Ainda vai contigo a Fátima...
;)

Carolina disse...

Ó Lena esse poeminha merece blog. Vou pô-lo no Canto das Letras. Olaré!
bjhs e obrigada!

Anónimo disse...

Olá ... a propósito do 25 de Abril , não tendo de forma alguma a pretensão de mudar a cor do "cravo", permitam-me apenas manifestar a minha preplexidade ao ver de relance imagens do tal hemiciclo na TV durante as comemorações..
Lá estava a tão maltratada Assembleia da República que normalmente está vazia, mas desta vez estava repleta , com os seus 230 elementos escondidos atrás de outros "quase" tantos cravos vermelhos... digo quase , porque nem todos "O" tinham!...esqueceram-se , ou esgotaram??? Porque seria?
O PR tbem não tinha!... mas as bancadas dos assistentes era um autêntico jardim, cheio de militares e civis que há décadas vivem para o 25 de Abril e "do" 25 Abril...
E nós !... cá continuamos a gozar da "tão desejada e alcançada " liberdade de expressão... mas pf
(XXXIIIUUU, falem baixinho)
Cump
JP

lami disse...

Ás vezes penso que ao fim de tantos anos ainda termos muito que aprender sobre Liberdade!
O que é?
Como se alcança?
Até onde vai?
O que implica?
Quando está em perigo?

Isto é só um desabafo...

Anónimo disse...

Em resposta mais directa à LAMI eu creio que está dentro de nós e sempre teremos que a buscar e cultivar aí. Como sempre, as pessoas esquecem-se disso e depois culpam o 25 de Abril de não lhes ter "trazido" o que sonhavam!!!... Como se não fora uma caminhada a percorrer por todos e cada um com humildade e coragem, com honestidade e respeito por si e pelo próximo, E assim, achamos preferível "culpar" e Revolução pelos fracassos e traições que cometemos aos ideais. Esperavamos um milagre?! Um milgre que nos salvasse do nosso egocentrismo e de... tudo aquilo de que nos lamentámos? É por isso que eu acho que 25 de Abril ... SEMPRE, nos nossos corações, na nossa alma, tentando viver e conquistar o que perdemos.
Helena Tereno