2012-06-29

Pés descalços...



Havia dois ou três dias que Matilde não ia à escola. Estava doente.
Dolores foi visitá-la e disse: Vê se amanhã podes ir, a professora disse que iam distribuir sapatos.
Matilde, que era muito pobre e andava descalça, fez um esforço e mesmo com febre foi à escola.
Ao vê-la entrar a professora disse:
Ai hoje vieste? Já te passou a doença? Querias, talvez, uns sapatos e por isso apareces. Pois fica sabendo que não os levas.
Matilde voltou para casa muito triste, chorando. Ao vê-la o pai perguntou-lhe o que se passava. Ela contou. Furioso o pai foi à escola e depois de discutir com a professora disse:
AGORA FIQUE SABENDO QUE A MINHA FILHA NUNCA MAIS CÁ VOLTA!!!
E é por isso, pela "burrice" destes dois "adultos" que Matilde, hoje com 70 anos, nunca aprendeu a ler nem a escrever. Isso, claro, nunca a impediu de fazer a sua vida e de ser uma das pessoas mais espertas e "desenrascadas" que eu conheço.
Mas é pena, que pela insensibilidade duma professora e autoritarismo de um pai, aquela menina deixasse de ter acesso ao ensino da leitura e da escrita.
Naquele tempo era assim....
E hoje?
Claro que hoje (que tanto se apregoam os direitos das crianças) nem tudo é um mar de rosas, haverá (há) outros "assins" que também marcam pessoas, destruindo sonhos!

( Esta é uma história verídica. Os nomes são fictícios.)

2012-06-14

Naufrágio (Amália Rodrigues)


Belíssimo o poema de Cecília Meireles!

2012-06-11

Adélia, a cigana!

Se os "portugueses" ( como ela nos chama) fossem desenrascados, empreendedores e simpáticos como ela, talvez que a crise passasse mais ao lado... (digo eu...).
Tem 30 e tal anos, bonita, morena, cabelo com madeixas, unhas de mãos e pés pintadas de azul!
Blusa também azul a condizer com as unhas, barriga "ao léu" e saia comprida mas justa.
(Ai se a Ti Amélia Baloa, cigana da minha infância, visse isto...)
Entrou no café e "despachou" a nora (dezassete enfezados anos) para a Câmara, com um grande saco de T.shirts para vender, vaticinando (ñ vai conseguir vender nada...)
Descontraída, a Adélia entabulou conversa com o pessoal do café e dizia no seu belo sotaque cigano:
"S'a genti quer fazer denhêrooo nan pode ficar parado. Tem que sorrir, ser amável e sem insistir demais fazer com que a cliente compri."
Às tantas, a minha colega Tânia, (nome fictício) confessou que também ela vendia perfumes e cremes.
A partir daí a conversa foi entre as duas e bons conselhos sobre marketing a Adélia lhe deu.
E acabaram já a tratar-se por tu e ficou no ar este convite:
"NO SÁBADO, APARECE LÁ NO MERCADO. ARRANJO-TE UM LUGARZINHO NA MINHA BANCA E AJUDO-TE A VENDER OS CREMES. E VAIS VER QUE AS MELHORES CLIENTES VÃO SER AS PRÓPRIAS CIGANAS!!!"
E sábado lá irei eu passar no "mercado dos  ciganos" para ver se a minha amiga "Tânia" está a fazer bom negócio!...

Para finalizar: A nora, afinal fartou-se de vender blusas na Câmara e a Adélia, como quem não quer a coisa, só no café vendeu seis...

2012-06-04

Caminante...

Caminante, son tus huellas
El camino, y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
Sino estelas en la mar.
( António Machado, poeta sevilhano)

Notas:
 huellas»» rastos
se hace»» faz-se
senda»» vereda, caminho
sino estelas»» senão sulcos