2005-08-31

Verbo do Dia - Estatística

ESTATÍSTICA

Quando eu nasci havia em Portugal
(em Portugal continental
e nas ridentes,
verdes e calmas
ilhas adjacentes)
uns seis milhões e uma tantas mil almas.
Assim se lia
no meu livrinho de Corografia
de António Eusébio de Morais Soajos.
Hoje, graças aos progressos da Higiene e da Pedagogia,
já somos quase dez milhões de gajos.

António Gedeão

E lá fui eu...

E lá fui eu levar um pêssego e um cachinho de uvas ao nosso querido Livreiro!
Coma lá isso, mê lindo!!!

A propósito...

A propósito do texto das "Quiromâncias", lembrei-me que uma vez na Escola fizemos um teatro com os alunos, em que vários se vestiram de borboletas e abelhinhas.
Mas algo se passou de aflitivo para um desses "frágeis insectos".
Uma borboleta levou o tempo todo a vir à beira do palco numa grande aflição:
- Professora, uma abelhinha está a chorar!....
Agora penso: Seriam as asas???
(Kanuthya, como vê, nem só as asas das borboletas dão problema!...)
Mas, o pior de tudo é NÃO TER ASAS!!!!

2005-08-30

A Pituxa!!!

Lembrei!
Lembrei-me desta velha amiga, que no meu texto "o forn(inho)", deu tão propositadas "dicas".
Só tu!!!
Mas, como poderia lembrar-me se, naquele tempo, tu eras mais de DOCAS do que de DICAS???...
Lembras-te? No Inverno em que nos conhecemos, tu carpias mágoas, nas tascas perto do Tejo, porque o teu marujo de água doce te trocara por outra.
Trabalhava ele num cacilheiro, (venderia paladares?) .
Tu espreitavas todas as carreiras, Lisboa/Cacilhas, Cacilhas/Lisboa, na ânsia de o rever.
Grandes "molhas" apanhavas encostada e escondida atrás das colunas do cais!!...
(Sim, porque naquele tempo os invernos ainda tinham chuva, vento e trovoadas).
Ai que saudades dum Inverno a sério!!!
Boas madrugadas passámos, entre ginginhas e jeropiga, numa nuvem de fumaça. Tu fumando a tua eterna cigarrilha negra e mal cheirosa. Eu com o meu cachimbo, oferta de um velho marinheiro (este sim, de água salgada)!
Éramos as sereias da doca!!!
Mas... sempre tudo dentro do respeito, porque naquele tempo, para além de chuva também havia respeito!
Quem se atreveria a desrespeitar aquelas duas MULHERAÇAS de pêlo na venta e faca na liga??
Belos tempos!
Pituxa, se me queres rever aparece em Sines!
Quem sabe, não faremos ainda umas "faenas"???!!!...
Cacilheiros não há!
Petroleiro, serve???

Palavras - XXXVII

a casa onde vives alimenta-se com o sorriso
da criança que estende as mãos para ti
enquanto o turvo líquido da velhice escurece
a memória desse tempo sem palavras

Al Berto

2005-08-29

O Banho de 29 em Sines

Transcrevo as recordações do banho de 29 de alguém de Santiago, pelas particularidades, que me parecem dignas de menção e que são anteriores às da minha geração:

" (...) No dia 29 de Agosto, ainda era mais engraçado; chamava-se o banho de 29 e dizia-se que valia por nove. Todos procuravam tomar banho nesse dia que aumentava de nove o número dos que efectivamente tomavam. Não eram só as pessoas que recebiam essa benesse do mar, mas também bois, vacas, cabras,ovelhas... Muito antes de nascer o sol, os lavradores dos campos próximos dirigiam-se à praia com os seus rebanhos ou mandas para tomarem esse banho virtuoso. Apesar da hora matutina, havia muitos espectadores (...); os pastores tinham um trabalho difícil para obrigarem os animais a entrarem na água: armados de grossos cajados, distribuiam panacada a torto e a direito a faziam uma gritaria que se misturava com o berrar das cabras, o balir das ovelhas, o mugir dos bois e vacas e o rolar das ondas.

Depois do banho do gado, era o das pessoas. (...), de todas as idades, mesmo velhos trôpegos encostados a cajados penetravam na água gelada, mal se aguentando em pé, com tanto tiritar ou com o ímpeto das ondas. Às vezes era preciso pescar alguns (...) e tinham de ser aquecidos com umas copadas de aguardente, além das mantas e de fatos de fazenda (..)

Durante toda amanhã nos divertíamos à custa dos outros, mas quando chegava a vez do nosso banho era uma fita. Cada um gritava para seu lado, quando os pais ou as vizinhas forçavam os moços e as moças a entrar no mar para aproveitarem a benção (...)"

M. Assunção Vilhena

Aos Meus Verdadeiros Amigos

A mão do amigo dentro da mão
ilumina
o caos.

Casimiro de Brito

Encontrei...

... uma mensagem de amor escrita num livro:

" 28 de Março de 1993

Perfeita e eterna, feita de amor é a nossa amizade!
Bé"

Obrigada, querida afilhada, amiga, irmã, menina terna que acolheu com sorrisos a minha adolescência, abraçou com carinho os meus filhos, teus afilhados!

Para ti, jardins de flores, céus azuis com sol, perfume de mar, porque não posso oferecer-te todas as maravilhas do mundo!

Papel Florido

Uma senhora de idade, de ar débil, pele e cabelos brancos sobressaindo no seu vestido preto e andar um pouco desequilibrado, apesar de apoiar-se numa bengala, trazia, insatisfeita, dois rolos de papel de cozinha na mão, inquirindo-me sobre se havia com flores.

Voltei atrás e lá encontrei, com uns discretos e esbatidos traços, que observou, mas não lhe satisfizeram o apetite pela cor, pois desejava saber se eram os únicos desenhos. Contentou-se com a falta de escolha e agradeceu com uma doçura de voz e delicadeza de gestos invulgares.

Devia meia volta e lá estava ela ao pé de mim, sorrindo timidamente, perguntando-me onde podia encontrar as bolachinhas...

Reflexos - LXIV

Amigo é o erro corrigido (...)
(...) É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!

Alexandre Ó Neill

Daniela

O sangue quente de Cabo-Verde e de S. Tomé dá uma dinâmica especial à Daniela, de apenas dois anos, que surpreendeu e enterneceu as espectadoras do seu número de dança, sacudindo a anca, ondulando o rabito, sorrindo sempre, ao ouvir uma musiquinha que mal enchia um gabinete de trabalho!

Linhas e Entrelinhas - XVII

Paris, Agosto de 1898 (?)

Meu querido Zezé

Rosa voltada em direcção da janela do teu quarto chama-te para um passeio de bicicleta.
E eu mando-te um beijo.

J.

Eça de Queiroz

2005-08-26

O Pedro...

O Pedro tem aquele sorriso bom de gente boa!
Tem cerca de trinta anos e uma filha bonita.
Há anos que trabalha em Londres mas, agora está em Portugal.
Usa um penteado de trancinhas enrodilhadas e compridas!
Ele resolveu ir a Santiago visitar uma tia.
A tia Eduarda é uma velha senhora que vive sozinha num apartamento.
O Pedro entrou e daí a pouco ouviram-se pancadas fortes na porta:
- Polícia!! Abra se faz favor!
Surpreendidos abriram e só depois de bem esclarecida, a polícia voltou a sair e os deixou.
Alguém da vizinhança tinha visto aquele jovem de "aspecto estranho" entrar na casa da idosa e desprotegida senhora e avisara as autoridades.
É bom haver vizinhos tão atentos!
É bom haver polícia tão pronta e zelosa!
Mas é mau e triste que julguemos as pessoas pelas aparências!
Mais do que o nosso velho e provinciano preconceito, o que nos domina é a INSEGURANÇA destes actuais e atribulados tempos.
Mas... enquanto sobrinhos como o Pedro, visitarem velhas e solitárias tias, o MUNDO não estará perdido!!!
Mesmo disfarçados e com trancinhas, o Amor e a Solidariedade ainda existem!!!...

2005-08-25

Hoje...

A pintora Graça Morais e seu marido Pedro Caldeira Cabral almoçaram no Zé Becinho!
( Claro que vocês não têm nada a ver com isso, mas apeteceu-me contar.)

2005-08-24

Baahh!...

Que dia mais sem graça!!!!

Reflexos - LXIII

CERTEZA

Não:
Nunca saberás quem sou.
Apesar destes beijos que te dou
E destas ironias que te digo,
Vou contigo
Como vou
Ao lado dum inimigo.

Miguel Torga

Coimbra, 6/11/1936

Arco-Íris - XXIII

Concordâncias


Nos exemplos, o * assinala a forma incorrecta.

A aposta é de dois mil euros. (* são)

A gente vai ao cinema. (* vamos)

A maior parte da malta vai a pé. (* vamos)

A renda são cem euros. (* é )

Aquilo (isto) parecem flores. (* parece)

Convidei-as a aparecerem. (* aparecer)

Hoje são dois de Agosto. (* é )

Migalhas é pão. ( *são)

O meu jantar são uvas. ( *é )

2005-08-23

Linhas e Entrelinhas - XVI

"(...)
Primeira lei: acreditar no aluno. Se o campo é bom e se a semente é bem lançada, até uma inicial vontade de enganar a contraria, agindo no espírito do aluno a nossa boa-fé. E depois há o ficar tranquila a nossa consciência. (...)
(...) antes ser levado do que arriscar-me a ser cruel, a ofender, a estragar. (...)"

Sebastião da Gama

Reflexos - LXII

ADAGIO SOSTENUTO

A música outra vez, de vaga
em vaga, colina
em colina;
concertada voz de sete
estrelas, primeira respiração
do mundo, alta
e prometida harmonia;
dói, fere
fundo; também apazigua,
acaricia, ilumina
a terra, tornada
próxima; de colina em colina,
vaga em vaga - a música,
nua, bárbara.

Geninho

O forn(inho)...

Que susto!
A minha prima ontem à noite entrou-me pela casa dentro com um presente!
UM MINI-FORNO ELÉCTRICO!!! ( Uma gracinha de forninho...)
Não tenho escapa possível.
Vou aprender a cozinhar.
Batam a asa franganitos da zona e raspem-se.
Dêem à barbatana sargos e postas de bacalhau.
Secretos de porco preto e alcatras de vaca malhada esconda-se nos entrefolhos dos talhos, porque a partir de agora, não há febra que escape às quenturas do meu forninho!
Restinguinha, Jójó, Zé Becinho e Bom Petisco até ao meu regresso, à boa-vida-do-comer-fora.
Que loucura varreu o miolo da minha estimada prima para gastar este DINHEIRÃO???!!!
Se bem que me informou, logo, que aquilo seria uma antecipada prenda de aniversário e de Natal. ( De vários Natais, pressuponho eu, se bem a conheço...)
Veremos se dou conta do recado!
A propósito:
  • Para assar perna de perú depila-se primeiro a dita cuja?
  • E o bacalhau? Assa-se tudo, ou extrai-se primeiro o BACA e tostamos apenas o LHAU?

As maçãs já sei. Lá dizia a minha avó: Nunca se deve assar uma maçã sem se tirar primeiro o til!

Adeus amigos bloguistas! Voltarei entre uma e outra grelhadela.E se vos cheirar a esturrico chamem os Bombeiros se ainda os houver livres!!!

Ah! A cedilha da maçã pode ser assada!!!

2005-08-21

Pois!

Estou a ficar muito preocupada com ISTO, apesar de ainda "me" não ter ardido nada, a não ser o MEU PAÍS!!

Apontamentos da manhã!

Hoje no café:
Ela é doce, mimosa e mimada!
Tem um marido, um filho e um cão!(Vinha só. Veio buscar pão para o mata-bicho).
- QUERO SEIS CARCACINHAS E UM PÃOZINHO!
Depois saiu com passinho miudinho e o "luluzinho" preso na trelinha.
Também saí num passo incerto, sem marido nem filho nem cão!
Mas...
Que diabo! Está resolvido!
Ao menos um piriquitinho numa gaiolinha hei-de conseguir!!!
Ah!...Só por inveja e para contrariar comprei um PÃO!

Verbo do Dia - Luto

Alvorecer de mármore, perfumado de luto doloroso, asfixante, destruidor.
Fato de noite longo com braços destapados, ágeis, mas impotentes, em rostos desesperados, corações destroçados, olhos nublados, ardentes!
Jardim tristemente nu, regado pelas lágrimas e suor dos lusitanos!

2005-08-20

Se...

... o discurso do que escrevi há pouco não estiver claro, nem coerente, e a comida que fui preparando entretanto - cabeça aqui, pé na cozinha - não apresentar o ponto esperado, não sei bem se a culpa é de quem escreveu / cozinhou, ou se de quem teve a ideia brilhante de se criar este blogue...

Pétalas de Bem-te-Quer - 23.ª

Pétalas de flores silvestres para a D. Barbinha, que preparou um almoço real para as amigas, já prometido quando fizera as suas famosas favas.

As sopas de tomate tinham de ser no Verão, quando tivesse tomates do seu monte, ovos das suas galinhas, houvesse figos.

Sentaram-se catorze mulheres à mesa, à volta da gigantesca tigela alentejana, com fatias de pão da zona a nadar num delicioso caldo.

Dispostos aos lados, uma travessa com as batatas e os ovos escalfadas; um pirex com toucinho e linguiça fritos - perdição de algumas comilonas -; uma pranto enorme, lindamente decorado com carne estufada, circundada de montinhos de cenoura ralada, salada diversa, alternadamente; taças com azeitonas, pratos com figos, garrafas de sumo e vinho, pão.

Muitos sorrisos e conversas divertidas, que ainda acompanharam as talhadas de melancia gigante e o café de máquina.

Quando chegou, apressado, o filho da Sr.ª para almoçar, ouvi-o perguntar pelo touçinho e dizer para si: "As maganas comeram tudo"! - e tinha razão!

Um dos temas preferidos, e divertido, foi o cão:

- uma lamentava a sorte do cão a quem a colega põe um cachecol do Benfica sempre que há jogo - um cão verde por dentro, dizia ela...

- outra queixava-se de não ter jantado bacalhau com natas que o cão devorara - dava para cinco pessoas - transportando-o inteligentemente na caixa para o terraço...

- alguém sugeria que o cão devorador, acrobada, utilizador de "Atarax" em situações de urgência, fosse para uma escola de treino, a da Quinta das Tílias em Palmela...

Uma benfiquista pôs termo ao asssunto, ao exibir um apito vermelho e branco, colocado numa bolsa, preso por um fio, ambos daquela cor, executado pelos "velhotes do Lar lá de Santiago"...

Muito Obrigada, D. Barbinha, pelo manjar, pelo acolhimento, por ter-nos proporcionado este momento único!

Zelo

Uma linda menina, ensonada, com quatro anos de idade, reparou que tinha cortado demasiadamente uma unha de um dedo do seu pé, num momento de distração - ou permissão?- da avó e queixou-se de dor, receando que aparecesse sangue...

A mãe tranquilizou-a quanto a esta possibilidade, fez-lhe considerações sobre o sucedido e inquiriu-a sobre o que ela devia fazer, ao que a menina respondeu:

- Vou à casa de banho, molho um papelinho e ponho aqui.

- Pois, filha, só molhas o papelinho, não pões o dedo debaixo da torneira, para não estragares água, não é? - retorquiu-lhe a mãe.

Um sim com um sorriso foi a resposta da menina, que voltou, pouco depois, vitoriosa com papel higiénico embebido em água e lá procedeu, com sucesso, ao seu tratamento.

Bom dia!

O silêncio...
... embala a madrugada refrescante,
... orquestra a dança da brisa com os jarros do cortinado,
... chama o farol brincalhão, ora de sorrisos luminosos, ora escondido,
... debruça-se sobre o melão fervilhando no açúcar, que o beija docemente com sussurros discretos,
... perfuma a vida de paz!

2005-08-19

Hoje...

Hoje não estou para aqui virada!
Muitos afazeres!
Por exemplo:
  • regar as sequiosas flores
  • lavar 3 blusitas
  • dobrar a roupa lavada ( aqui não há "passassões" a ferro)
  • meter a roupa nas gavetas
  • dormir a sesta (já estou atrasada)
  • deve haver mais qualquer coisita para fazer, mas não me lembro...
  • Assim sendo, inté...

2005-08-17

No jardim...

Hoje, no Jardim do Rossio (Sines), li :
"A SAGA DO REI ARTUR AO ALCANCE DO PERFEITO IDIOTA" , um conto do Miguel de Castro Henriques.

«A menina que tinha uma lagartixa na testa vivia muito triste e muito infeliz : toda a gente troçava dela.
... a cauda da lagartixa parecia um pára-brisas e ora se via em cima dio nariz, ora a meio dos olhos, ora em cima das orelhas.
.... a única coisa boa de ter a lagartixa é que quando chorava a cauda da lagartixa limpava-lhe as lágrimas.
( e depois de algumas peripécias hilariantes apareceu...)
O Príncipe ajoelhou-se logo, tirou a sua máscara de humano e atrás da máscara via-se a sua cabeça de Príncipe Lagarto.
(e tal como nas histórias "com pés e cabeça")
Casaram e tiveram muitos filhos.»

(E eu que também gosto de inventar coisas direi que):

todos os rapazes teriam
uma lagartixa em vez de "pilinha"
e as raparigas, um lagarto pintado
em cada "maminha"

Este seria o fim que eu daria ao conto.

Palavras - XXXVI

"(...) numa palavra se podem conter todos os fenómenos da vida. (...)"

M. Rodrigues Lapa

Sabores à Portuguesa - XV

PONCHA DA MADEIRA

Ingredientes

4 dl de aguardente de cana
0,5 dl de mel
1 dl se sumo d elimão
Açúcar q.b.

Misture a aguardente, o mel e o sumo de limão, adoce e bata* bem, até se formar uma espuma nas bordas do jarro; sirva de imediato.

Nota: Esta bebida é de origem rural e prepara-se na frente do cliente.
* Bate-se com um utensílio de cabo de madeira, que termina numa roda dentada - "mexilhão" -, rodando o cabo nas palmas das mãos (substituam-no por algo semelhante).

Linhas e Entrelinhas - XV

A ANA DE CASTRO OSÓRIO*

Macau, 3 de Junho de 1921

Minha bondosa amiga

Escrevo esta ao largar do vapor de Hong Kong, para ser portador dela o meu amigo Sr. Raul Boaventura Real, meu antigo companheiro da maçonaria daqui - que muito deseja ser-lhe apresentado, e que eu muito estimo a minha bondosa amiga tenha ocasião de conhecer e ouvir.

Sobre os muitos assuntos que me acodem à mente em turbilhão (o que eu queria estar aí a conversar), escrever-lhe-ei ainda hoja, sem falta, uma carta tão extensa quanto a minha anemia mental o permitir.

Mas não quero deixar de agradecer-lhe, penhoradíssimo, a publicação da esquecida Clepsidra, e os cuidados da disposição (que é como eu próprio a faria) e da ortografia.

Igualmente me cativou a notícia da conferência feita pelo João, que tão meu amigo é e cujo fino e equilibardo talento eu tanto aprecio. Não haveria meio de eu a poder ler?

Acredite que foi das mais doces comoções da minha vida e da minha surpresa, ao ver assim evocada a carinhada diante dos meus próprios olhos a minha pobre alma - há tantos anos morta...

Muitas saudades para todos; e, por tudo, lhe beijo reconhecido a mão.

Camilo Pessanha

P.S. - Seria uma iniquidade pedir-lhe que me escrevesse; mas, quando houver jornais, continuo a pedir-lhe que não se esqueça de me mandar um ou outro, de vez em qaundo - e que eu reconheça no endereço a sua letra. É também para mim uma doce evocação familiar.


* Escritora e pedagoga portuguesa (1872-1935), natural de Mangualde, fundadora da literatura infantil em Portugal.

Entre Elas...

Dizia uma jovem determinadamente divertida:

- " Se nós fôssemos homens, havia muitas mulheres felizes"!

- " Podes crer"! - respondeu-lhe a interlocutora entre gargalhadas.

Faúlhas de Cupido

TERROR DE TE AMAR

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.

Sophia

Arco-Íris - XXII

Ortografia - Algumas grafias correctas

Acoriano

Brócolos / brocos (grafia dupla)

Camoniano

Cabo-verdiano

Catrapus / catrapós (grafia dupla)

Crânio

Deteriorado

Ensosso / insosso (grafia dupla)

Escrivaninha

Inclusive

Intervindo

Obsesão / obcecar

Percalço

Pirenéus

Pormenor

Quaisquer

Rubrica

Reflexos - LXI

SOBRE O LINHO

Desse céu de camponeses trouxe o azul, o azul limpo do linho, o azul branco. Aqui o estendo, onde a noite é mais dura (exactamente como outrora na ribeira mulheres antiquíssimas estendiam a roupa pelas pedras da manhã) e nele me deito. Pudesse eu, como elas, agora dormir tranquilo, a tarefa cumprida.

Geninho

2005-08-16

É muito quente...

É muito quente a garganta dos pássaros
e o seu canto nocturno, veloz,
altera o sentido do tempo,
e deixa-nos mais quietos.

Desculpa,

mas a vida atirou-me
para outros espaços.E estou aqui
por estilhaços ainda

dessa mesma vida.

(Rogério Carrola- Um olhar no Joe's Bar)

2005-08-14

Os tais livros...

Os tais livros do tal Miguel de Castro Henriques têm por título : UMA NUVEM NUM POTE DE BARRO (deu o Duarte) e UMA MENINA DE SETE GATOS OU O SALDO DE EULER ( comprei).
O autor que "conheço de vista", é um homem alto e magro que usa bigode branco. Brancos, também são os cabelos e talvez por isso, ( mas não só por isso), eu acho que ele tem cabeça de nuvem!
E isso não é só por causa dos cabelos é toda a expressão do rosto em particular dos olhos.
Direi mais, se calhar o homem não tem cabeça de nuvem, ele próprio parece uma nuvem!
Será???
Se não é, pelo menos é lá que parece viver! (Isto é o que eu penso e cá na minha cabeça mando eu!)
Os seus escritos são duma imaginação delirante!
As suas associações absurdas põem-nos a rir, por vezes de gargalhada e outras vezes põem-nos a meditar.
Estou a achar o estilo interessante e fora do comum!
Como exemplo vou transcrever o início de alguns dos contos:
"Era uma vez uma madrasta que era muito boa e preta e uma menina que era branca e muito má."
"Era uma vez um pintor que só tinha um pêlo no pincel."
" O rapaz subiu a um banco de jardim todo coberto de folhas caídas e disse para quem o quisesse ouvir: -Esta tarde não quero ter nome!"
"O Diabo estava sem dinheiro e isso deprimia-o tanto que tinha um chifre caído para baixo..."
" Era uma vez um médico que tinha uma estante muito grande. Dentro da estante estavam postas dentro de frasquinhos coloridos todas as doenças que havia no mundo e todas as doenças que havia de haver."
" Depois de matar uns pardais estava Santo António todo contente a dançar o trolaré, pensando como é que havia de os comer quando..."
E pronto, se querem mais comprem os livros.
Vão à D'as Artes e digam que leram "As Sardinheiras".
Descontos o Livreiro não fará, porque anda a tentar encher de notas o seu POTE DE BARRO, mas talvez ofereça dois rebuçadinhos de fruta a cada cliente.

2005-08-12

Dar livros.

O verdadeiro "dador" de livros, não compra livros para dar!
Informa-se discretamente do gosto do "presenteado", porque sabe que um livro que se recebe pode ser uma fonte de prazer ou um grande suplício (passe o exagero...).
Assim sendo, e porque o Duarte também sabe que os livros são para ser gostados, vou contar como tudo se passou.
Entrei na livraria e anunciei em voz bem alta (para me ouvir a mim própria e resistir às tentações):
- HOJE SÓ VENHO VÊ-LO (ao Livreiro, tenho um"fraquito"por ele) NÃO VENHO COMPRAR NADA!
Resposta (amável...deve ser por isso que eu tenho o tal "fraquito") :
-RAIO DA MULHER! !! EU OBRIGO, LÁ, ALGUÉM A COMPRAR LIVROS???!!!
Nem respondi! (A "gente assim", não se dá confiança!!! )
Deambulei pelas estantes e daí a minutos já estava ao balcão com dois livros.
Na verdade, não é o Livreiro que obriga, mas deve ter pacto com os livros.
(Gente desta é capaz de tudo!!!).
Pois, é que os livros começam a abanar as lombadas, a fazer um "chinfrim" com as folhas, a assobiar uns "psst...psst" com as badanas, a exalar uns vapores hipnóticos!!...
O que se sabe é que pessoas como eu "facilmente manobráveis "caem que nem patinhos!
Ele disse:
- Pague um e deixe aí o outro porque há alguém que lhe que oferecer um livro!
Fiquei muito intrigada e lá saí com o meu livrito.
( Dei voltas ao miolo e das 2 ou 3 hipóteses, que congeminei, confesso que o Duarte me passou pela cabeça...).
Ontem, voltei e parei o carro à porta da livraria e o Joaquim lá me entregou, o livro que eu escolhera na véspera e informou: É O DUARTE QUE OFERECE!
E o livro que ESCOLHI (sem saber que não era eu a pagar), chama-se:
"Uma Nuvem Num Pote De Barro" , o autor Miguel de Castro Henriques.
(Como a conversa já vai longa, amanhã voltarei ao tema para falar dos livros, eles próprios!!!)

2005-08-11

Palavras - XXXV

Coimbra, 7 de Julho de 1950

A SOMBRA DAS PALAVRAS

As palavras renascem.
Folhas de clorifila humana,
Brotam, crescem,
Murcham, desaparecem,
Mas renascem.

Que frescura teria a caravana,
A caminho da morte ou do nirvana,
Se os poetas cantassem!

Miguel Torga

DUÁÁÁRRRTE!!!...(gritado aos 4 ventos!!)

Mas como é que eu me vou recompor DESTA????
Estou estupefacta, boquiaberta, olhos em bico, enfim....sem fôlego!!!
Como é que um rapaz, que está sempre a contar os cêntimos, que vive com as dificuldades que nós sabemos (???), se atreve a entrar em despesas e ....(atenção leitores), ME OFERECE UM LIVRO!!!! UM LIVRO!!!
Como estou sem palavras, é com o coração que digo bem alto, aos 4 ventos: OBRIGAAAAADA!!!!
(Ele há dias em que nos sai assim a sorte grande!...)

2005-08-10

E por isso informo o João e outros curiosos...

Estou a ler "UMA COISA EM FORMA DE ASSIM" de Alexandre O'Neil.
( São textos de O'Neil publicados na imprensa).

Contou-me...

Contou-me o Joaquim da Livraria que o João Ricardo, seu amigo e meu ex-aluno, costuma entrar na loja e perguntar:
- Então que livros tem na sua mesa de cabeceira?
Parece que o João pergunta isto a muita gente.
Achei interessante, louvável e engraçada esta curiosidade do João.
Eu também sofro daquele "mal"!
Sinto sempre uma grande e irreprimível vontade de saber o que é que cada um anda a ler.
Se estou numa livraria e alguém pede um livro, eu fico logo de ouvido alerta.
Se estou num espaço público, jardim, café, etc, e vejo algum "leitor", entra-me um frenesim e dou voltas e mais voltas, espreito, espio, aproximo-me disfarçadamente... enfim uso todos os recursos possíveis para descobrir o título do livro.
E com mágoa, confesso que raramente consigo.
Faço votos para que a "pouca vergonha " não me leve ao extremo de chegar ao pé de desconhecidos e perguntar : -Importa-se de me dizer que livro está a ler???
Certamente me mandariam "dar uma volta"!
Cá por mim confesso que gostaria que me fizessem essa pergunta!...
Na verdade, João podemos inventar um provérbio : "MOSTRA-ME O QUE LÊS, DIR-TE-EI QUEM ÉS!!!
Beijinho para ti!

Querem saber o que eu vi?!...

Conto-vos amanhã, porque agora não tenho tempo, sim?
Desejo-vos um bom dia!

Reflexos - LXI

Acaso o nosso destino, tac!, vai mudar?

Alexandre O´Neill

2005-08-09

Convite!

No Domingo recebi um convite para almoçar!
O primo Joaquim ia fazer um dos seus famosos grelhados!
Outros compromissos me chamavam, (até parece que tenho uma agenda mt preenchida...),e por isso não pude aceitar.
Não fui, mas se fosse...
Lá comeríamos no jardim floridíssimo (porque a prima é uma grande jardineira),para além de também ser Flor (com alguns espinhozitos...confessemos...).
Na hora do repasto, lá teríamos de pegar no camaroeiro e pescar os três sapinhos (Dudu, Carol e Xôxô) de dentro da piscina.
Comeríamos em Paz (penso eu de que...Bobi Tareco!!!).
A Xô comeria 3 "pratadas", a Carol acompanharia a refeição com salada, o Dudu não comeria fruta, NUNCA!
A carne estaria UM DELÍCIO,ou não fosse o primo a grelhar!
A prima Conceição teria para sobremesa, uma vez mais,o famoso bolo de banana (com alguma variante,talvez maçã misturada ou cenoura).
Depois da refeição,iríamos dormir os três uma bela sesta, enquanto "os moços" brincavam ou implicavam uns com os outros.
E era assim se eu tivesse ido almoçar a Santiago.
Não foi um dia bem passado??
Bjs primos e obrigada!

Verbo do Dia - Pachos

Era uma senhora à janela, de olhos postos no mar, uma toalha vermelha sob o queixo, pachos nas bochechas.
Camomila?!... - interroguei-me?!
Acne juvenil ou algum bicho que lhe mordeu?!...

2005-08-08

Reflexos - LX

INTERMEZZO

Hoje não posso ver ninguém:
sofro pela Humanidade.
Não é por ti.
Nem por ti.
Nem por ti.
Nem por ninguém.
É por alguém.
Alguém que não é ninguém
mas que é toda a Humanidade.

António Gedeão

Vamos lá ao baú

E
se de repente
eu abrisse a janela
e gritasse:
-Ei, cactos - andantes!
Não ouvem?
Respirem
abram o coração
rebolem-se na relva
enfeitem-se de malmequeres
perfumem-se
de rosmaninho
e alecrim

porque
a partir de hoje
eu proíbo
as rosas
de enfeitar
jardins

2005-08-07

Reflexos - LIX

Eu andei para marinheiro
mas pus óculos e fiquei em terra.

Alexandre O´Neill

Pétalas de Bem-te-Quer - 22.ª

Pétalas imensas, vermelhas, amarelas, mescladas de dálias e azuis com perfume de alfazema para a Delegada de Saúde de Sines, pela sua disponibilidade, empenhamento, presença constante, divulgação e defesa da saúde pública.

Partilho convosco algumas das recomendações sobre precauções a tomar, devido às elevadas temperaturas e ao aumento dos níveis do ozono, que nos transmitiu, enquanto entregava folhetos informativos e outros sobre a sida, a uma colega, para distribuição no festival do Sudoeste.

Sobre o calor:

- as saídas para o exterior devem ser evitadas, sobretudo: pelas crianças, idosos, asmáticos, alérgícos e portadores de doença respiratória ou cardíaca;

- as actividades ao ar livre só devem realizar-se nos períodos de menos calor, recorrendo-se ao protector solar e chapéu, e beber muita água;

- as habitações devem ter a luminosidade reduzida quando está muito calor e serem arejadas à noite - não é esta a prática dos alentejanos do interior?


Sobre o ozono

- optimizar a energia;

- evitar derrames de combustível no abastecimento dos veículos, verificar a pressão dos pneus e proceder à manutenção automóvel regularmente;

- utilizar preferencialmente os transportes públicos;

- optar pelas tintas, vernizes e outros "amigos" do ambiente e respeitar as regras de utilização.

" Descobertas"

Dois jovens, ela de biquini e ele de calções, saboreavam o fresco da relva que atravessava as suas toalhas, protegidos pela sombra das árvores no Jardim das Descobertas, destacando-se dos seus haveres uma geleira azul de bom tamanho...

Num banco relativamente próximo, outro casal aquecia os seus corpos bem juntos e perdia-se num beijo interminável.

Interroguei-me se estaria perante uma imitação, reflexo ou coincidência, de um outro par que vira momentos antes nos mesmos trejeitos, mas encostado aos arbustos que circundam este espaço tão bem aproveitado!

2005-08-06

Reflexos - LVIII

O INFANTE

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo.
E viu-te a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

F. Pessoa

Arco-Íris - XXX

O Decreto-Lei n.º 32/73 determina o seguinte:

" São eliminados da ortografia oficial portuguesa os acentos circunflexos e os acentos graves com que se assinalam as sílabas subtónicas dos vocábulos derivados com o sufixo -mente e com os sufixos iniciados por z".

Exemplos:

Sôfrego -> sofregamente;
Só -> somente.

Café -> cafezinho


Advérbios em -mente

a) Estes advérbios formam-se acrescentando o sufixo ao adjectivo na forma feminina.

Ex.: Lindo -> lindamente.


b) Se o adjectivo for unifome, junta-se o sufixo.

Ex.: Amável -> amavelmente.


c) Quando empregamos adjectivos seguidos na mesma frase, apenas o último apresenta o sufixo -mente.

Ex.: Amigalhaça, tu ages calma, sábia e prudentemente, parabéns!

Sabores à Portuguesa - XIV

Tomatada com Ovos

Ingredientes

0,5 kg de tomate
250g de cebola
0,5 dl de azeite ou 1 colher de sopa de banha
1 dente de alho
1 folha de louro
Salsa q. b. (facultativo)
3 ovos
Sal e pimenta q. b.

Preparação

Corte a cebola às rodelas, pique o alho e refogue lentamente na gordura*, sem deixar cozer completamente. Junte os tomates cortados, previamente limpos de peles e sementes, a salsa picada e o louro. Tempere com sal e pimenta e ponha a cozer e a apurar.

Distribua a tomatada por recipientes individuais que possam ir ao lume e à mesa, abra espaços no meio, coloque os ovos, tempere-os com sal e pimenta e escalfe-os.

Se preferir, pode pôr os ovos sobre fatias de pão frito ou cortá-las em triângulos e rodeá-los.

* Para ser mais saudável, misture um pouco de água e vá acrescentando, se necessário, adicione uma colher de chá de polpa de tomate e utilize maior quantidade de cebola.

Bom apetite!

2005-08-05

Recado/Pedido

Duarte, e que tal os tais endereços aparecerem aqui do lado direito das Sardinheiras?
Sem pressas nem exigências!
(Entre uma "fazedela" de barba e uma reunião; entre uma sessão de ginástica e 2 maçãs assadas...)

Mil Folhas...

O Mil Folhas de sábado, trazia 4 endereços que me pareceram ter interesse.
Aqui vos deixo:
www.blogcasmurro.blogspot.com
www.outro-eu.blogspot.com
www.oficinadolivro.pt
(Façam com eles o que entenderem e vos for possível).
Com os meus cumprimentos
carolina

Linhas e Entrelinhas - XIV

"Paris, 20.6.70

Meu Caro

(...)
Vamos ter muito que falar a propósito da História da Literatura. Cada vez me convenço mais de que o estudo das circunstâncias histórico-sociais das obras literárias apenas pode determinar os limites exteriores delas, as margens onde elas acabam ou começam. A literatura, como a música, vira as costas à prática social, à acção. Lembrei-me da história do Lenine que durante anos não quis ouvir Beethoven porque isso o amolecia para a acção.

Tudo isto me voltou à superficie ao responder a um inquérito de um brasileiro, professor de Teoria da Literatura em Porto Alegre, Dionísio Castelo, que está reunindo uma série de depoimentos franceses, italianos, espanhóis, portugueses, etc., sobre teoria da literatura. Tu e eu contamo-nos entre os raríssimos portugueses da colectânea. Resolvi sistematizar o que tenho pensado sobre o assunto, e que se resume ao seguinte:

I) A obra literária não é uma mensagem normal, porque se caracteriza por querer conter dentro de si mesma o Emissor, o Receptor, os referentes e o código, constituindo um mundo autónomo, sobre si. (Por aí, afasta-se deliberadamente da prática social).

II) A literatura procura destruir o valor representativo do sinal linguístico, no sentido de confundir a Palavra e a Coisa (e também por aí volta as costas à acção).

III) A função principal do crítico literário é determinar a autonomia da obra, o grau em que ela constitui uma estrutura sobre si.

IV) Na obra, é o todo que dá sentido às partes. O crítico não deve portanto partir das partes para o todo, mas inversamente.

V) Entre o autor e o crítico (ou leitor) só há comunicação ao nível subjectivo, isto é a obra só se consuma quando desperta no leitor a corrente subjectiva da comunicação, a sympathia.

(...) Fui votado para dirigir o Instituto Português de Amsterdam(...). Entre outros concorrentes, o J. de Sena e o Coimbra Martins. (...)

Continuo a querer ir para o Porto, mas havia pessoas ( e entre elas suspeito que o Mário Soares) dispostas a interpretar essa ida como um compromisso político meu. Irei quando toda a gente perceber que não preciso disso. (...)

Abraços para ti e para os teus do António José".

Nota: Carta de António José Saraiva para Óscar Lopes

Papel Mata-Borrão - 19.º Pingo de Tinta

O sol nascia e alguém, de roupão cinzento de cetim, chinelos de quarto pisando a terra, braços caídos, mãos abertas, olhos fechados, de pé, rezava voltada para nascente, indiferente ao mundo.

Retirei-me discreta, silenciosa e respeitosamente do local donde presenciara, involuntaria e brevemente, este momento íntimo, apercebendo-me, ainda, de que a mão direita se erguia para a testa, preparando-se para a despedida com o sinal da cruz.

Reflexos - LVII

No infinito sorriso das espumas
No chamar da maresia, no convite das brumas
Na exaltação de cada maré cheia
No ritmo de dança e bebedeira
O que procuro e encontro extasiada
É a tua alma viva, nunca profunada.

Sophia

2005-08-04

Hoje...

Hoje, de interessante, só vi uma gaivota que encontrou um peixe agulha na praia.
"Abicanhou-o"(esta até parece do Mia Couto), e imediatamente o bando se aproximou para lhe roubar o petisco.
Levantou voo, com o peixe no bico, perseguida (nos ares) por quatro ou cinco "garganeiras".
Resultado: ao grasnar (com toda a certeza) um PALAVRÃO de raiva, o bicho soltou-se e caiu no mar.
Nem para uma, nem para as outras!
Quem tudo quer tudo perde!
O seu a seu dono!
Mais vale um caboz na poça que um peixe agulha a voar!
Ao peixe agulha e ao borracho põe-lhe Deus a mão por baixo!
E de GARGANEIROS está o mundo cheio!
Os mais assanhados têm braços (e não asas), têm pernas (e não patas) .
Ou será que têm PATAS???
Bico não têm; apesar de mandarem "calar o bico" uns aos outros. Ou então, o que é pior ainda, nunca estão de "bico calado"!
Já agora, Bloguistas, para animar o dia, ajudem-me lá a inventar palavrões marinhos.
Por exemplo :
Merdanguejo (mistura de m... com caranguejo).
Cornujo (mistura de corno com caramujo).

Vá, puxem lá da "cachola"...

Faúlhas de Cupido

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Reflexos - LVI

TU ÉS

Senhor, tu és:
a Fome que deve ser saciada,
a Sede que deve ser apagada,
o Nu que deve ser vestido,
o Sem casa que deve ser hospedado,
o Doente que deve ser curado,
o Abandonado que deve ser amado,
O Rejeitado que deve ser acolhido,
o Leproso que deve ser lavado,
O Mendigo que deve ser socorrido,
O Bêbado que deve ser escutado,
O Louco que deve ser protegido,
O Insignificante que deve ser abraçado,
O Cego que deve ser acompanhado,
o Sem voz que precisa que falem por ele,
o Coxo que necessita que alguém caminhe com ele,
o Drogado a quem se deve oferecer amizade,
a Prostituta que deve ser reconduzida ao caminho recto,
o Idoso que deve ser servido.

Madre Teresa de Calcutá

Linhas e Entrelinhas - XIII

Por favor, não me maltratem, tornando-me mais desbocado do que uma língua viperina!
Obrigado!

Silêncio.

"Ao Muro"

O amarelo debruça-se sobre a baía e a praia redimensionando a paisagem de alegria colorida.
As indecisões da sua apresentação foi só uma questão de tempo.

Palavras - XXXIV

VIAGEM

Iremos juntos separados,
as palavras mordidas uma uma,
taciturnas, cintilantes
- ó meu amor, constelações de bruma,
ombro dos meus braços hesitantes.
Esquecidos, lembrados, repetidos
na boca dos amantes que se beijam
no alto dos navios;
desfeitos ambos, ambos inteiros,
no rasto dos peixes luminosos,
afogados na voz dos marinheiros.

Eugénio de Andrade

Dois Sorrisos

Eram dois jovens sorrisos à janela de um segundo andar, cumprimentando-nos à chegada.

Horas depois, brilhavam ainda mais quando nos acenavam do rés-do-chão de outra rua da cidade, sobrepondo-se a qualquer vestígio de cansaço.

Era a Primavera que se desprendia e perfumava o ar.

Matinal

As estridulações das cigarras e a brisa marinha embalam a madrugada sob a vigília dourada do farol e um céu de estrelas adormecidas.

A respiração suspende-se para beber sofregamente estre trago de bom dia.

A voz do poeta ergue-se...

" Podes confiar-me sem receio
as pequenas tarefas matinais.
Deixa ficar as nuvens,
a poeira acesa nos telhados,
os martelos da tristeza sobre a mesa.
O meu país é entre junho e setembro,
antes da primeira neve chama por mim".

Geninho

2005-08-03

Cheira bem!

Bife de cebolada!
Que cheirinho...

Vou comer um bife
de porco talhado
cama de cebola
com alhos tapado

Um pouco de salsa
vinho branco e tinto
Não aguento mais:
-Que fome que sinto!

(Não sei se isto se chama "falta de imaginação" ou "delírios do paladar"!!
Uma coisa é certa: O miolo anda avariado!!!)

E... se aproveitar a receita, não se esqueça do sal e do azeite! Bom apetite!!!!

2005-08-02

Poente

Espelhos
na poça
teus olhos
são lume

fresco
nas ondas
tu és o nascente

estátua
de sangue
vais com o poente

teu corpo de limos
teu sopro maresia

a lua
é um sol
e a noite
é dia

2005-08-01

Os Belgas chegaram!

Wim e Wouter chegaram ontem!
Por volta das doze horas chegaram, os valentes ciclistas que percorreram mais de 3000 Km, da Bélgica até Sines, em cerca de um mês.
Foram recebidos por muitoa amigos belgas que cá se encontram, num estágio de tumbling e trampolim.
Também não faltaram portugueses, pois esta família MICHIELS há perto de 30 anos que elegeu Sines como a sua segunda "pátria"!
Costumam até dizer: - Temos mais amigos em Portugal que na Bélgica!
O seu amigo e compadre João Grulha, montou uma enorme cama elástica, frente ao restaurante A Lota, onde os amigos e os ginastas, esperavam por Wim e Wouter.
Foi um bonito e comovente encontro de AMIGOS!!!
Parabéns a toda a família Michels e muito particularmente aos corajosos ciclistas.
Para mais informações consulte :
www.ride2walkagain.be

Ainda...GATOS!

Gatos dos quintais,
gatos dos portões
gatos dos quartéis,
gatos das pensões.

Vêm da Índia, da Pérsia,
da Nínive, Alexandria.
Vêm do lado da noite,
do oiro e rosa do dia.

GAtos das duquesas,
gatos das meninas,
gatos das viúvas,
gatos das ruínas.

Gatos e gatos e gatos.
Arre, que já estamos fartos!

(Eug. de Andrade - logo ele que, pelo que consta, adorava gatos!)