2005-07-30

O gato da velha

Era um gato com tanta personalidade
com tal raça
tal centelha
que toda a gente dizia:
- Era uma vez um gato que tinha uma velha.

(Carlos Pinhão)

2005-07-29

Enredos!

Terminei de ler "Rosa Brava" de José Manuel Saraiva.
(ROSA BRAVA ou a vida de Leonor Teles, uma mulher emancipada, numa corte de lúxuria e sedução.)
Li com interesse e a conclusão é :
Ó PAÍS DE ENREDOS!!!!
O jogo de interesses perpectua-se. No passado tal como hoje, é o "salve-se quem puder!"; o particular sempre à frente do colectivo; a intriga e a traição!
E não vejo a luz "ao fundo do túnel".
Vamos continuar a ser este país pequenino!...

2005-07-28

Reflexos - LV

" A quem faz pão ou poema
só se muda o jeito à mão
e não o tema".

Agostinho da Silva

2005-07-27

Pétalas de Bem-te-Quer - 21.ª

Pétalas perfumadas de girassol e de frésias para: a Sr.ª Vereadora da Cultura da Câmara de Santiago de Cacém, os profissionais da Biblioteca Municipal e demais pessoas envolvidas, pela oportunidade, acolhimento e reconhecimento das capacidades e desempenho do J.R.

Acima dos reflexos de uma partida que a vida lhe pregou um dia na estrada, existe um jovem igual a todos os outros!

Muito Obrigada!

Verbo do Dia - Professora

(...) "Deram-me o endereço de um blogue aqui de Sines, da minha professora Carolina e de outra pessoa". (...)

"A minha professora Carolina é que era boa para falar comigo! Podíamos almoçar todos um dia".

" Uma vez, ela perguntou o que tínhamos feito no fim-de-semana e eu respondi-lhe:
- Era para ter ido às (...), mas o meu irmão disse que eu tinha (...)."

"Ela ficou calada e os outros não perceberam"...

Retalhos de Tira-Teimas - 11

Livro Acéfalo - exemplar que não apresenta rosto, nem as primeiras páginas.

Livro de Alumínio - livro feito com folhas de alumínio e escrito pelo sistema Braille, para leitura de invisuais.

Livro Apócrifo - aquele cuja autoria não está provada.

Livro Ascético - livro de temática mística ou teológica.

Livro de Cordel - opúsculo em verso ou prosa - conto, auto, pequena novela - de leitura popular.

Reflexos - LIV

A PEQUENA VAGA

Mar de pequena vaga e céu azul:
a irrupção das frésias na manhã
faz destas ruas um jardim do sul.

Eugénio de Andrade

Linhas e Entrelinhas - XII

" Que queres, se não me sinto bem em parte nenhuma e ando cheio de ansiedades de coisas que não posso nem sei realizar".

Casário Verde


Carta para Silva Pinto - 1877(?)

Palavras - XXXIII

UM CARNAVAL

Vem ao baile vem ao baile
Pelo braço ou pelo nariz
Vem ao baile vem ao baile
E vais ver como te ris

Deixa a tristeza roer
As unhas de desespero
Deixa a verdade e o erro
Deixa tudo vem beber

Vem ao baile das palavras
que se beijam desenlaçam
Palavras que ficam passam
Como a chuva nas vidraças

Vem ao baile oh tens de vir
E perder-te nos espelhos
Há outros muito mais velhos
Que ainda sabem sorrir

Vem ao baile da loucura
Vem desfazer-te do corpo
E quando caíres de borco
A tua alma é mais pura

Vem ao baile vem ao baile
Pelo chão ou pelo ar
Vem ao baile baile baile
E vais ver o que é bailar.

Alexandre Ó Neill

2005-07-25

Verbo do Dia - Avó

"Já sou avó!" - gritou-me, eufórica e com um sorriso interminável, a Isabel.

"A Ritinha tem um menino, que graçinha!"

"Agora já sei o que é ser feliz, sou feliz!"

Reflexos - LIII

pergunto se posso dizer o teu nome a uma flor
flor o teu nome sussurrado pétala a pétala
letra a letra uma flor desfolhada na terra

José Luís Peixoto

Agora clamo eu...

Que cor tão "desmaiada" é aquela do muro da praia?

Efeito da saudade do pintor / cantor brasileiro?
Inadvertida junção de água na tinta?
Primeira demão?
Daltonismo, simplesmente?

Onde está o tradicional amarelo?

Clamores!

Uma clamava falando no telemóvel : Nunca vi terra mais estúpida do que esta! Fecharam a avenidada principal, não sabemos para onde nos virar!

Outro clamava : Concordo! Concordo com as Músicas do Mundo! Mas... e os outros? Nós, os do povo? Não poderia vir assim mais qualquer coisa ao nosso gosto?

Eu clamo : Que raio! Em Sines espectáculos ao relento é crime!!!
Não há osso que aguente tanta humidade!
Para o meu esqueleto "osteoporado", é interdito!!!

Mas... alguém CANTA!!!
Um brasileiro que neste momento pinta os muros da praia, (as escadinhas que descem da igreja para a marginal), canta em alta e bela voz canções da sua terra!!!

Vale a pena parar para ouvir!
A isto eu também chamo :
- MÚSICAS DO MUNDO e para o mundo!!!!

2005-07-24

Verbo do Dia - Ópera

A Ópera Forgotten Boys - What Xavier Left in Japan, a decorrer no Castelo de Sines - o frio obrigou algumas pessoas a abandonarem a "arejada sala" pouco antes do termo -, assinala um "momento histórico" na cultura desta terra. De facto, o espectáculo é digno de registo, apresentando um único senão: as legendas estavam demasiado baixas, impossibilitando aos espectadores a compreensão da expressão oral.

Maria, uma senhora belga apaixonada por Sines e por Portugal, conhecia a história, segundo me disse, através da sua professora de Português, mas "não é assim, mais romântica", comentou com alguma tristeza - a barreira da língua e a inacessibilidade às legendas talvez a tivessem levado a esta conclusão.

Perdi

Perdi
a invenção
do gesto
que nunca ousei

Perdi
o som
que nunca foi
senão silêncio

Então
porquê o desalento?

Linhas e Entrelinhas - XI

Sines, 24 de Agosto de 2005

Querido Amigo,

Despedimo-nos na 6.ª feira entre flores sem fim e lágrimas contrapostas ao seu sorriso sereno.

Recordo-me perfeitamente da 1.ª vez em que o vi. Caminhava sozinho, elegante, na Rua Marquês de Pombal, depois da Vogue, voltado para nascente; eu ia em sentido contrário. Havia mais uma pessoa na rua: uma senhora idosa que tentava limpar uns vidros. Quando reparou nela, aproximou-se, tirou-lhe o pano das mãos cansadas e fez o seu trabalho, determinado e sorridente.

Fiquei maravilhada com a sua generosidade despida de preconceitos.

Ao longo dos anos, partilhámos diversas alegrias, tristezas, moda, momentos de Fé, carnavais.

Nestas festividades, enchia Sines de cor e alegria, lamentando a sua curta duração - só três dias?!... Talvez por isto, senti que a minha justa homenagem seria apresentar-me no nosso último encontro na terra com o fato que usei quando acompanhou o nosso grupo folião, de deslumbrante Carmen Miranda, mas, rodeada de padrões sociais, recuei no meu propósito, profundamente contrariada... Quem compreenderia?!...

Nesta limitação, optei por colocar-lhe sobre a mão direita, três gerberas cor de fogo, simbolizando o júbilo daqueles momentos - muito Obrigada!

O seu amigo Francisco de Assis esperava-o, não é verdade? E que abração que lhe deu!

Beijos, meu amigo, e até ao paraíso!

"Menina Aurora"

2005-07-23

Conheci hoje...

Conheci hoje, na Livraria "A das Artes", Rogério Carrola.
E da livraria trouxe, oferecido, (o autor não vende) , um livro de capa azul com uma fotografia a preto e branco, tirada penso eu, no Joes's Bar( Ilha da Madeira).

E desse livro transcrevo, para começar, este texto:

Eu?

Não. Amanhã tomarei o avião
e depois seguirei
para junto de Santiago.

Do promontório de Sines
contempla-se outra solidão

de mar.

Agreste e desafiando

todos os adamastorianos.

Experimenta um olhar.

(Do livro "Um olhar no Joe's Bar")

Arco-Íris - XXIX

Não diga...

1. "Cumprir com", mas cumprir a ou o.

Exemplos:

- Cumprir a lei; (..) a missão; (...) a ordem; (...) a palavra; (...) a pena; (...) a promessa; (...) a obrigação; (...) a vontade, etc.:

- Cumprir o contrato; (...) o dever; (...) o estabelecido; (...) o mandato; (...) o preceito; (...) o regulament; (...) o serviço militar, etc.


2. "Custa a crer", "custa a fazer"; custa a viver", mas custa crer, custa fazer, custa viver .

Sabores à Portuguesa - XIII

Carapaus Alimados à Mestre Jesus

Ingredientes

1 Kg de carapaus de tamanho médio
400g de batatas
Sal, azeite, vinagre, pimenta, cebola e água q. b.

Preparação

Amanhe os carapaus, retirando-lhes as cabeças e as tripas. Disponha-os num recipiente às camadas, cobertos com sal.
No dia seguinte, sacuda-lhes o sal, coloque-os num tacho com água e deixe levantar fervura.
Depois escorra-os, cubra-os com água fria e retire-lhes: a pele, as espinhas laterais e o rabo, de cima para baixo, com os dedos.
Limpe-os, passando-os cuidadosamente por água, e deixe-os repousar noutra água, para que não fiquem muito salgados.
Antes de servir, cubra-os com água quente, só para aquecerem e prove-os.
Coloque-os numa travessa com as batatas cozidas e leve-os à mesa.
Tempere-os a gosto com: rodelas de cebola, azeite, vinagre e pimenta.
Pode completar o acompanhamento com legumes cozidos e/ou salada.

Bom Apetite!

2005-07-22

Presente de Aniversário

DIA DE ANNOS

Com que então, caiu na asneira
De fazer, na (...) feira,
Vinte e (...) annos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse...
Mas...fazê-los...não parece
De quem tem muito miolo!

Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o anno passado...
Agora, o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo! Coitado!

Não faça tal...porque os annos...
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho.
Faça outra coisa, que, em summa,
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho,
Mas...annos...! Não caia nessa!
Olhe...que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois, se se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los...queira ou não queira!

João de Deus

P.S.: Eu fazia outra coisa: deixava de fumar para repetir os annossssss!
Parabéns!

Palavras - XXXII

Uma palavra só em que te avise
de que em sossego fiques e não ames
senão o que de amor nenhum precise.

Agostinho da Silva

Reflexos - LII

REFLEXO

Como um lago o poema
não repete reflecte.

Gastão Cruz

Faúlhas de Cupido

POEMA DE AMOR

Esta noite sonhei oferecer-te o anel de Saturno
e quase ia morrendo com o receio de que ele não
te coubesse no dedo.

Jorge de Sousa Braga

Sopa no Cercal do Alentejo

Integrado no Gaspacho para o Guinness Book que será preparado em 24 de Julho no Cercal do Alentejo, realizar-se-á um colóquio subordinado aos temas: Sopa; Benefícios da Sopa; Dieta Mediterrânica.

A Dr.ª Micaela Pereira, Nutricionista, prelectora, pretende proporcionar aos presentes um debate sobre os referidos temas - vá lá e participe!

Noite

Noite

Sozinha estou entre paredes brancas
Pela janela azul entrou a noite
Com o seu rosto altíssimo de estrelas.

Da Sophia...(claro)!

2005-07-21

Os Porquinhos!

Andava um porquinho
a passear no jardim.
Encontrou uma porquinha
que lhe disse assim:

Não comas demais!
Ouve o que te digo.
Se ficas gorducho
acabam contigo.

Eu faço dieta
sou porca elegante,
não quero estar na montra
de qualquer talhante!

Não sejas pateta
Porquinha janota!
Eu quero é milho
e muita bolota!

Ele não ligou
ao que ela dizia
e em breve o levaram
p'ra charcutaria.

E agora no talho
há muito toucinho.
Que é tudo o que resta
daquele porquinho!...

2005-07-20

Reflexos - LI



Falas - é és a Pastora.
Não contes a visão, nem as palavras
que a Senhora te disse: apenas fala.
Falas e em tudo creio. Até no Mundo.
És a Pastora, fala. Fala apenas.

Sebastião da Gama

2005-07-19

Havia...

...um jardim onde reinava a esperança: no chão, esgueirando-se no ar entre flores e frutos, no lago poluído, nos olhos cansados dos idosos que cavaqueavam, nos abraços fugidios dos namorados, nas crianças que corriam dos adultos, divertidas.

O tempo era favorável ao deleite oferecido por aquele pequeno espaço.

Uma senhora de bata azul e chapeú na cabeça arrastava atrás de si uma mangueira enormemente serpenteante. Pouco depois, tentava desligá-la da torneira, mas nem o seu corpo possante, nem as suas mãos papudas tinham força, apesar dos seus esforços físicos que lhe coloriam o rosto de vermelho e dos aliviantes e diversificados insultos ao cornudo do colega que apertara aquilo.

Um jovem alto e magro, originário das terras de África, dirigiu-se-lhe, pediu-lhe licença e aliviou-a simpática e rapidamente daquele tormento, afastando-se com um sorriso, enquanto a jardineira o bendizia.

Quer ouvir?

Quer ouvir a Paloma Negra?
Clike na setinha de esquerda.
E...ligue o som!
Foi o Duarte!
Obrigada!!!

2005-07-18

Um chá com sotaque brasileiro!

Fui tomar chá com Dona Germana.
Tarde agradável!
D. Germana, nascida em Trás - os - Montes, foi para o Brasil com os pais, quando tinha dezassete anos.
Hoje, misturam-se nela, a firmeza do granito transmontano e a beleza, doçura e simpatia do povo brasileiro.
Ela diz: " No Brasil se nota que sou portuguesa pelo (ainda) sotaque!"
Ao nosso ouvido ela soa brasileira!
Falou-me da sua vida e da sua família, ilustrando o relato com belas fotografias, que víamos folheando um livro de memórias, organizado por uma irmã de seu falecido marido.
Este, era filho de libaneses que em tempos idos, também emigraram para aquelas paragens, em busca de melhor vida.
Tarde muito agradável!! (repito)
E...quanto ao seu bolo de banana...INESQUECÍVEL!! (Ainda lhe sinto o paladar!)
Obrigada pela simpatia e pelo bolo, cuja receita vou aqui deixar (no blog), para que as minhas amigas e amigos doceiros possam experimentar.
Nota: Em tempos, foram os pais de Dona Germana rumo ao Brasil.
Agora são as as filhas de Dona Germana que fazem a viagem de volta, rumando a Portugal em busca de melhores condições de vida.
Quem sabe se os netos não ficarão por cá?...
Tal como a água, também as famílias, têm os seus ciclos num "vai - vem" constante!!!

Receita de Dona Germana!

BOLO DE BANANA

2 xícaras de açúcar
1 xícara de óleo
3 ovos inteiros
4 bananas grandes e maduras, cortadas em pedaços

Bater tudo no liquidificador
Despejar nesta mistura duas xícaras de farinha de pão ralado
Uma colher (sopa) de pó royal

Junte tudo numa tigela
Forma média untada

FAROFA

1 xícara de açúcar
1 colher (sopa) de manteiga
1 colher (sopa) de canela em pó
Misture estes ingredientes

Coloque esta FAROFA em cima da massa crua do bolo.
Leve para assar em forno já aquecido.

BOM APETITE! ( Diz D. Germana e digo eu que já me deliciei com esta maravilha, feita por ela). OBRIGADA!!!

Papel Mata-Borrão - 18.º Pingo de Tinta

Bebo o silêncio matinal à janela com os pássaros adormecidos, entre goles de chá, casas às escuras, carícias frescos da brisa, saudações de uma estrela respirando luz crescente que guia e beija o mar e a terra sob um céu de bochechas cinzentas, e projecto um bom dia que só a vida alcança.

Recordo este canto de Cecília Meireles: (...)" O silêncio da manhã é um longo muro, ainda, entre este mundo e o céu.(...)"


E, da voz do Geninho...

AO OUVIDO

Fica um pouco mais, fala
da terra iluminada
abrindo à última chama

do verão; tu conheces
a sua sede, a sua respiração.
Um pouco mais, sê

como sopro da tarde, acaricia
com mão pequena embora
o que no fundo da noite
resta da manhã; fala da leve
embarcação do vento, levando
consigo a poeira, o sarro

do tempo entornado no chão.
A terra é boa; ao meu ouvido
volta a dizê-lo.

2005-07-17

Faúlhas de Cupido

Eu ontem vi-te...
Andava a luz
Do teu olhar,
Que em seduz
A divagar
Em torno de mim.
E então pedi-te,
Não que me olhasses,
Mas que afastasses,
Um poucochinho,
Do meu caminho,
Um tal fulgor
De medo, amor,
Que me cegasse,
Me deslumbrasse
Fulgor assim.

Ângelo de Lima

2005-07-15

SOS

Sardinheiras pedem rega de chá príncipe para imagem mais viçosa do seu jardim.
Agradecimentos floridos!

Palavras - XXXI

QUE DIREMOS AINDA?

Vê como de súbito o céu se fecha
sobre dunas e barcos,
e cada um de nós se volta e fixa
os olhos um no outro,
e como deles devagar escorre
a última luz sobre as areias.

Que diremos ainda? Serão palavras,
isto que aflora aos lábios?
Palavras?, este rumor tão leve
que ouvimos o dia desprender-se?
Palavras, ou luz ainda?

Palavras, não. Quam as sabia?
Foi apenas lembrança doutra luz.
Nem luz seria, apenas outro lhar.

Eugénio de Andrade

Reflexos - L

" Os livros. A sua cálida,
terna, serena pele. Amorosa
companhia. Dispostos sempre
a partilhar o sol
das águas. Tão dóceis,
tão calados, tão leais.
Tão luminosos na sua
branca e vegetal e cerrada
melancolia. Amados
como nenhuns outros companheiros
da alma. Tão musicais
no fluvial e transbordante
ardor de cada dia."

Eugénio de Andrade

Ó Duarte!

Tu que és um técnico destas coisas, podias fazer um favor?
Davas aì a conhecer, talvez no teu blog, esta voz??(CHAVELA VARGAS)
Estou a ouvi- la.
Fui ao Google e depois Terra Rádio.
Seleccionei o album Frida, e ouvi Paloma Negra.
É de cair para o lado... (p'ra frente ou p´ra trás) !
Põe aí!
Acho que é um bom acompanhamento para um chá (ainda que príncipe).
Bjs
(Se achares que é abuso, não ponhas!)

Chavela Vargas!

Quem me arranja discos desta MULHER!
Pagam-se os discos e dá-se gorjeta!

2005-07-14

Pedras Preciosas

Há algum tempo atrás, encontrei entre retalhos de Sines numa pastinha com ferragem, de um azul desbotado, que na contra capa tinha escrito:

" Ter uma amiga fiel
é uma grande felicidade!

Pois é!!!

Aqui vai isto
para a minha
amiga
fiel"

E no fim de uma breve colectânea de poemas, dactilografada, um, manuscrito:

"Quando o meu filho estiver
doente, levo-o ao jardineiro
porque ele é uma flor"

"Tenho uma amiga
que se chama
Aurora
leve e fresca
como uma
nascente.

(nos olhos
tem mares
de terras distantes)

Veste-se de espuma
da costa do norte
cabelos de bruma
que dançam
no vento
quando o vento é forte.

as mãos
são gaivotas
que num voo
desenhado
tecem madrugadas
p´ro seu namorado

na voz
uma aragem
-canção de mimar-
é que
aurora tem
do ventre saído
um fruto mimoso
que quer embalar

clarins
d´alvorada
já podem tocar
brindem
a aurora
que está a chegar

CAROLINA
Janeiro/82"

E agora, de um modo muito seu, pergunto-vos com as suas palavras: " Atão que tal?"

Quanto custa?

Ó senhor crescido
quanto custa a Lua?

Não custa dinheiro,
se quiseres é tua.
Ó senhor crescido
e o sol é caro?

Não custa dinheiro
este sol tão claro.

Ó senhor crescido,
mas a terra então?
Meu pai diz que a terra
custa um dinheirão
e eu vi no jornal
que o metro de terra
custa um conto e tal!

(Luísa Ducla Soares)

2005-07-12

Variação...

(Variação para o tema de ontem)

já não há castanho
já não há luar

nem cantigas verdes

hoje
é tudo azul
igual ao do mar
que põe frio nos olhos
e apaga (dos pássaros)
os risco no ar

resta só a esperança
de saber inventar

Pétalas de Bem-te-Quer - 20.ª

Eram pétalas de amor de mãe-menina, transformadas numa frágil e fantástica caninha amarela e três peixinhos, para o seu menino pescar na banheira num dia em que a ama não podia recebê-lo...

Ele batia palmas e ela lançava foguetes com os olhos cintilantes.

Verbo do Dia - Natália

"Natália Correia deixou na vida intelectual portuguesa um espaço vazio e dificilmente colmatável. Ela era antes de mais a paixão pela cultura, um amor activo, que tinha por suporte o seu talento poético e dramatúrgico e uma impressionante experiência de leitura, de saberes vários, de erudição e contacto com o povo, de vocação de liberdade."

Urbano Tavares Rodrigues


Cantos e flores de Natália:

" Não sou daqui. Mamei em peitos oceânicos
Minha mãe era ninfa meu pai chuva de lava
Mestiça de onda e de enxofres vulcânicos
Sou de mim mesma pomba húmida e brava.(...)"

"Eu sou livre na prática quotidiana de um sonho difícil."

" Cada mulher é uma cascata de trevos."

" A meta da poesia é a libertação do homem."

" Quem não é capaz de enfrentar um escândalo por amor, não é capaz de amar...."


" Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de Diamante,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizra as partes dissonantes,
Creio que tudo é etero num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen"

Reflexos - XLIX

EU, ETIQUETA

Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de baptismo ou de cartório,
um nome...estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu ténis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.(...)
Agora sou anúncio,
ora vulgar ou bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
da minha anulação.

Carlos Drummond de Andrade

2005-07-11

Papel Mata-Borrão - 17.º pingo de tinta

A Maria andava muito atarefada com o serviço e não sabia para onde se virar: o telefone tocava, batiam à porta avisando-a de que tinha outra chamada do exterior, entrava um e outro no gabinete pedindo informações, tinha um mapa inadiável para completar, o sistema informático não funcionava...

Não se demotivou a formiguinha e lá foi tocando os seus instrumentos conforme podia, de olhos postos no tal mapa...

Pareceu-lhe ouvir o silêncio, ligou para um gabinete mudo; chegou a equipa de limpeza apressada a encerrar as janelas, excepto as suas, ignorando a claridade e o fresco do entardecer; percorreu o espaço à procura de uns dados e ouviu as ventoinhas soprando leve brisa iluminada pelas luzes acesas...

Sentia fome, mas não lhe apetecia rebuçados, nem bolachas de água e sal esquecidas no fundo da lata. Lembrou-se do bolo de aniversário que não provara de manhã, dirigiu-se ao refeitório e provou o restaurador pão-de-ló com recheio de ananás...

Saiu depois das oito e meia fazendo contas às horas que o patrão fantasma não lhe pagaria, sentiu uma carícia da brisa, deu uns passos e lembrou-se que tinha o carro no estacionamento. Foi deixá-lo numa garagem distante do domicílio e recebeu o prémio do dia: um delicioso passeio a pé até casa...

Quando tudo era verde...

recorte castanho
no azul do mar
hoje verde
(da cor do luar)

porque tudo é verde

até o cantar
do pássaro azul
que põe riscos no ar

Lua

Está uma lua árabe!

2005-07-10

Estou a ver...

Estou a ver que a "crise" não impede a malta de ir às tasquinhas!

Fui petiscar nas tasquinhas
para ver o meu benzinho
comi salada de búzio
bebi dois copos de vinho

Choco frito polvo assado
um jarrinho de sangria
rematei com 3 ameixas
e um naco de melancia

E ao subir a ladeira
estava muito admirado
não " me tinha nas canetas"
não "me dava equilibrado"

Pensei com os meus colchetes:
- Mas que noite tão lixada!
Fui à tasca embebedei - me
e não vi a minha amada!




Reflexos - XLVIII

Quando as crianças brincam
E eu as oiço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa por se alegrar

E toda aquela infância
Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma,
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto do meu coração.

Fernando Pessoa

Pétalas de Bem-te-Quer - 19.ª

O Igor " valente e perfumado", que conheci ontem, ofereceu-me um sorriso enorme, lindamente desdentado, enquanto me estendia as mãos com olhos suplicantes.

Aproximei-me para acariciá-lo, ao mesmo tempo que ele retribuia alegremente este afago à Minie e à Daisy que pareciam desafiá-lo no meu vestido.

Reconheceu o Sr. Emídio ao longe, chamou "avó" para que ela também o visse e acenou-lhe satisfeito, descobrindo o mundo, levando-a consigo, aliviando-lhe o peso da sua dor -"É a filha."


Esta criança é a Primavera a despontar num Outono de chuva gotejante, a raiz luminosa de uma flor perfumada, a música que dá a vida.

Verbo do Dia - Nevoeiro

"Viera do rio pela mão duma criança.
A cidade é agora de porcelana branca."

Eugénio de Andrade

2005-07-09

Retalhos de Tira-Teimas - 10

ALARVE - a sua origem a al-'arab, significa os árabes.
Ao povo de Marrocos que vinha para a Península chamava-se "alarves" - pessoas grosseiras, sem maneiras.

ANAFADO - vem do árabe an-nafala, que originou anafa, planta herbácea da família das papilionáceas, também conhecida por trevo silvestre, que servia para engordar cavalos.

BADAMECO - provém do latim vade mecum, que significa " vai comigo".
Na Idade Média designava a pasta de papéis ou livros dos estudantes, por extensão passou a prontuário, registo de dados ou fórmulas e foi vulgarizado, significando "pouca importância" - "homem de pouco préstimo; rapaz atrevido e pretensioso".

Sabores à Portuguesa - XII - Esclarecimento

A D. Sardinheira "nascida e criada em Santiago" sempre ouviu bem o nome do doce típico de Santo André e Santa Cruz - alcomonia -, a que dediquei o Sabores à Portuguesa supracitado.

O registo alconomias não adveio do ouvido pouco apurado de uma menina de Sines no qual soava o início e o termo do vocábulo, mas de uma publicação de Receitas "Tradicionais-Saudáveis" do Distrito de Setúbal editada pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo - Sub-Região de Saúde de Setúbal, integrada no Programa CINDI, 1994, fruto de uma "aturada recolha".

No Vocabulário Português de Origem Árabe de José Pedro Machado encontramos: "alcamonia, alcomonia, s. Do ár. al-Kammuniia, do adj. Kammunii, que tem cor do cominho".

A palavra alcomonia aparece no Vocabulário Portuguez e Latino, em 1712 pela mão do Padre D. Rafael Bluteau.

Obrigada pela colaboração, amiga Caló, e cuidado com o dicionário de 9 Kg, porque ainda fica "arrombada" e lá terei de levá-la ao "Homem dos Pereiros" - não será preferível outra viagem?!...

É bonito...

Ora aqui vai, enviado por uma amiga, um poema de REINALDO FERREIRA:

Passemos, tu e eu, devagarinho.

Passemos, tu e eu, devagarinho
Sem ruído, sem quase movimento,
Tão mansos que a poeira do caminho
A pisemos sem dor e sem tormento.

Que os nossos corações, num torvelinho
De folhas arrastadas pelo vento,
Saibam beber o precioso vinho,
A rara embriaguez deste momento.

E se a tarde vier, deixá-la vir
E se a noite quiser, pode cobrir
Triunfalmente o céu de nuvens calmas

De costas para o Sol, então veremos
Fundir - se as duas sombras que tivemos
Numa só sombra, como as nossas almas.

2005-07-08

Pétalas de Bem-te-Quer - 18.ª

Elas são meninas-mães, trazendo pela mão outras meninas ou meninos, crianças também, com quem partilham a sua adolescência entre sorrisos inocentes, condescendências sem limites, colos brincalhões, penteados que não tiveram tempo de fazer, óculos de sol sonhados, projectos esboçados...

Algumas deixam os seus brinquedos falantes esvoaçar como papagaios de papel, seguindo com o olhar e batimentos ansiosos do seu peito o encantamento dos seus movimentos; outras sufocam-nos de cuidados, tolhendo os seu crescimento, tentando defendê-los do mundo que as atropelou...

Procurando-se entre si, dão as mãos e seguem balões de fantasia multicolorida entre as curvas do caminho...

2005-07-07

Reflexos - XLVII

A Língua

Língua viperina, logo depois da prova da maçã?
Língua de mel, antes de babel, saboreando os frutos
do paraíso? Porquê língua de sapo?
Porquê língua afiada, amolada em pedra de esmeril?
Pela língua morre o peixe. Dobre a língua - diz-se-
sugerindo reverência. Sinal de maledicência o dar à
língua?

Dar com a língua nos dentes
e não se parte a língua de encontro à muralha canina...
Na língua reside o paladar, o prazer de saborear
Dom de gostar, degustar sólidos e líquidos
vegetais, peixes e outros animais,
frutas agri-doces e sumarentas, suculentas,
Mas a língua porquê a língua? deu nome à comunicação
foi feita para falar. Dizia-se, em tempos antigos,
língua, o tradutor intérprete, o elo de ligação.
Comunicação -comunhão fazem-se através da língua.
Discretos gestos de agressão fazem-se com a língua:
deitar a língua de fora... só inocente zombaria?
Em cada dia a língua cumpre a sua missão de
sentido gustativo e órgão adjuvante do falar
Se a língua se me entaramelar, será, acaso, Senhor
porque de Sião me esqueci? E como o salmista perdi
(ou não perdi?)
a memória do teu gosto e do teu rosto?

Maria de Lourdes Belchior

Do baú (e sem título)

Tenho
saudades de mim

de inventar
um eco

de sentir
um fluido

de ouvir
uma voz
(a tua voz)
que com a minha voz
cantava

de me sentir
tão leve
e tão pequena
que no abrigo dos teus olhos
repousava

2005-07-06

Reflexos - XLVI

Chove, é o deserto, o lume apagado,
que fazer destas mãos, cúmplices do sol?

Eugénio de Andrade

Linhas e Entrelinhas - X

" 24 - 10 - 19312

Ó Fernando Pessoa - você, por amor de Deus, não esteja zangado com o Sá-Carneiro por ele ter saído da Brasileira com o Cortes-Rodrigues. Ele há que tempos estava para sair. Lembra-se?...
Bem. Então perdoe-lhe, sim, coitado!...

Adeus! Um grande abraço!...

Eu-próprio eu-mesmo "

Mário de Sá Carneiro

Verbo do Dia - Sines

"Sines parece vir de Sinus, seio ou enseada.(...)

Desde a Senhora das Sallas até ao Rocio terá 9 minutos de caminho, e 1 a 1 e meio de largura. As suas ruas principaes são na direcção do seu comprimento. A maior (rua direita) atravessa quasi toda a sua extensão.(...)

A Villa tem três largos: o Arieiro, o Rocio e a Praça. Destes o Rocio é o mais consideravel em tamanho, mas o mais solitário e humilde. (...)

De Verão ha mais animação na Villa,especialmente d' Agosto a Novembro, pela concorrencia de gente que vem a banhos.

Uma centena d' Alemtejanos e Alemtejanas, vem aqui annualmente apagar no mar os ardores do sertão. A maior parte por doença - poucos por dandysmo.

Chegão a armar-se na praia 20 barracas de banhistas. Les baigneuses em geral apresentão-se pela manhã a tomar os banhos sans costume. (...)

Estas senhoras sempre bem pregadas e refrescadas depois do banho, retirão para a Villa por uma estrada mais íngreme que a calçada da Gloria; repousão a meio caminho n' uma meia laranja, que diz para o mar, e recomeção a sua improba tarefa d' ascenção (...). A maldita ladeira!!!"

Francisco Luiz Lopes, 1850

O ladrão de Blogs!

Era uma vez um ladrão
Que só roubava Blogs
Não andava encapuzado
E nem usava bigodes.

Tinha barraca na feira
E fazia o seu pregão
Não faltava clientela
Àquele grande ladrão

Não tinha mesmo vergonha
Que larápio descarado!
E ninguém desconfiava
Que o produto era roubado

- Olh'ó Blog fresquinho!
Tenho toda a qualidade
Pr'a chorar e para rir
É grande a variedade!

Há Blog p'ra criança
Há Blog com "bolinha"
Venha já não se demore
Compre aqui na barraquinha!

Num instante ficou rico
Hoje é ladrão respeitado
Tem um lema na barraca:
Blog ? Não há fiado!!!


2005-07-05

Sabores à Portuguesa - XII

Alconomias

São uma delícia, doce recordação da feira de Santo André da minha infância, misturada com os colares de bolotas, que senhoras de lenço na cabeça, " bem encaradas" e simpáticas, ou senhores de chapéu e bigode ofereciam à clientela a troco de alguns tostões.

Ingredientes

1Kg de açúcar
1/2 l de pinhão torrado
2 kg de farinha torrada
1/2 l de água

Preparação

Coloca-se a água num tacho, adiciona-se o açúcar e leva-se ao lume até fazer ponto. Junta-se o pinhão torrado e a farinha aos poucos e mexe-se até formar uma bola.

Põe-se a bola numa mesa previamente polvilhada com farinha e tende-se com um rolo.
Corta-se às tiras na diagonal.


E esta, pessoal de Santiago com panelas mágicas para confecção de todo o tipo de comida?!...

Bom apetite!

Vou ali...

Vou ali à janela para "ver se vejo"alguma estrela.
Nem uma!!!
Onde é que isso andarão????
E o pior é que nem consigo inventá-las.
Tá mau!...

2005-07-04

Arco-íris -XXVIII

Geladaria

O sufixo-aria acrescenta-se a um substantivo para designar uma actividade ou ramo de negócio, dando origem a outro substantivo, portanto de gelado deriva geladaria e não "gelataria".

Outros exemplos:

Alfaiataria, barbearia, camisaria, carpintaria, confeitaria, cutelaria, gravataria, lavandaria, leitaria, livraria, mercearia, padaria, papelaria, pastelaria, perfumaria, ourivesaria, retrosaria, vidraria, sapataria, salsicharia, tabacaria, tinturaria, etc.


Café

Do vocábulo café - semente do cafezeiro; bebida preparada com esta semente - poderá derivar cafearia, mas o uso consagrou café - estabelecimento onde se serve esta bebida - e não "cafetaria"

Reflexos - XLV

"Numa livraria"

"Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria. (...)"

José de Almada Negreiros


" Acho que as relações dum escritor com o seu leitor só começam a ter dignidade para lá das portas da livraria. Cada qual na sua intimidade. A árvore, longe do fruto que já lhe não pertence; quem o saboreia, isento de perturbar o gosto com sensações adjacentes."

Miguel Torga


" Livraria que uma criança possa revolver e folhear à vontade é divertida como um presépio e mais instrutiva que uma Universidade."

Aquilino Ribeiro

Palavras - XXX

POEMA DA VOLTA PELO BAIRRO

As palavras saíam-lhe da boca
altas e frondosas como as árvores,
e o vento que soprava levava as palavras consigo
e deixava-as cair nas terras férteis
onde se multiplicavam e cresciam.
Eram essas palavras sonorosas,
pesadas e sumarentas como as laranjas escolhidas,
e nelas se comparavam as virtudes às flores,
e o vício à lepra,
e a vida inteira ao caudaloso rio
que flui, estreito e efémero,
tropeçando nas pedras e nos limos.

Recolhi-me no quarto com as palavras fervendo nos ouvidos,
e aí me entretive a pesá-las,
uma a uma,
numa balançainha que lá tenho.
Pesei-as, e arrumei-as nas prateleiras.
Aqui, a boca; além, as árvores frondosas.
Deste lado, a virtude; do ouro, as flores.
Aqui o vício; mais além, a lepra.
Aqui, o rio efémero; além, a vida.
E como a noite estivesse realmente agradável
saí, e fui dar uma volta pelo bairro.

António Gedeão

Era (e é) uma vez um livro...

(Há dois anos abriu a porta A das Artes...2003/2005- 4 de Julho)

ERA (E É ) UMA VEZ UM LIVRO...

Cheguei a este espaço,vai fazer quase dois anos.
Vim metido numa caixa, apertadíssimo, entalado entre outros livros.
Senti que o carro onde vinha, parou e alguém atirou para o chão, com alguma força, a caixa.
Até a lombada me estremeceu e ainda hoje sinto uma dorzita ali entre as páginas 25 a 30.
Fiquei algumas horas apertado entre os outros até que finalmente, senti que a caixa era aberta e quatro mãos começaram a despejá-la.
Lembro-me como se fosse hoje...De repente senti-me no ar e uns dedos fininhos, a cheirar a alecrim afagaram-me a capa e uma voz mansa disse:
- Olha, Joaquim este livro chama- se "O livro da saudade".(Era o meu título).
Folheou-me com delicadeza e leu algumas das minhas folhas.
Depois arrumou- me numa alta estante.
Lugar privilegiado!
É que daqui posso avistar o balcão e a mesinha do canto!
Gosto de " vê-la" ali, com o seu sorriso bonito a falar com as pessoas e a preparar as suas florinhas do campo para enfeitar os embrulhos.
Acho até, que ela de vez em quando, também dá uma olhadela na minha direcção e não é raro, dar -me um leve toque na lombada à laia de cumprimento.
Mas...ando preocupado porque há um certo tempo que não a vejo!...
O que terá acontecido?
Onde andará?
O que fará?
Até já me inclinei um pouco para ver se a vejo passar na rua. Começo a achar que, quem me pôs o título sabia que eu viria a ser um "livro com saudades"...
O Livreiro, que não é para brincadeiras, já por três vezes me deu um "piparote" na lombada para me repor no lugar.
Se eu pudesse falar perguntava- lhe:
- Onde anda ela???
Mas ele não me dá confiança e para falar verdade, também o acho, ultimamente, meio esquisito.
Até já pensei: - Será que ele também tem saudades???...


2005-07-03

Há meninos que perderam o sorriso...

Pin
gos
de
chu
va
são sinfonia

asas
de pássaro
são uma dança

jardins
com flores
são aguarelas

risos
de criança
são cristal fino

Então...
porque não ri
aquele menino?!

2005-07-02

A foca...

GREVE NO CIRCO

Uma foca equilibrista
cansada de equilibrar
ficou desiquilibrada
e confessou ao artista:
- amigo, estou esfomeada,
se me não dão de jantar
não equilibro mais nada!

(Sidónio Muralha)

2005-07-01

Que secura...

Estou para aqui às voltas, mas isto hoje está mesmo seco!
Assim sendo... boa noite!