2005-04-30

Verbo do Dia - Encontrar

ENCONTRAR...

... alguém;
... alguma coisa;
... -se bem disposto;
... eco em;
... solução.

Também pode:

a) Ir ao encontro de: ter com alguém; descobrir e resolver algo.

b) Ir de encontro a: embater; chocar.

Arco-íris - XXI

Dificuldades Sortidas

1. Costa de Caparica; Monte de Caparica; Sobreda de Caparica;

Santiago de Cacém

As designações apresentadas são as correctas, contrariamente às usuais, porque os topónimos* são antecedidos de artigo se forem provenientes de substantivos comuns - ex.: Alcácer do Sal; Alter do Chão; Caldas da Rainha; Figueira da Foz, etc.

* topónimo (do grego topos, lugar, e onyma, nome), nome de um lugar, sítio, povoação, rua, etc.


2. Dignitário - pessoa que exerce um cargo elevado.

Este vocábulo, mas no plural, foi correctamente empregado pela Fátima Ferreira durante a transmissão da primeira missa celebrada pelo Papa Bento XVI; horas depois, num telejornal, um colega chamava-lhes "dignatários"...


3. Empregado: única forma do particípio passado do verbo empregar.

E empregue?!... Comece a conjugar o presente do conjuntivo e verá que o encontra...

Linhas e Entrelinhas - II

"Tó,

Escusas de voltar a escrever-me porque eu não vou. Os meus pais não querem e eu respeito muito as suas ideias. Foi giro ter-te encontrado. O mundo é grande, pá. Encontrarás facilmente outra. Vai em frente, meu.
Chau.

Mimi "

Fernando Pessoa

ESTÃO TRAMADOS!

Pois é!
Estão tramados! É que não sei com conseguirão passar sem mim!
E rezem aos vossos santinhos para que as minhas tamancas não escorreguem naquelas águas "oleosas".
Bom, mas se querem saber onde ando aqui lhes deixo os endereços. Podem espreitar!

www.caldasdafelgueira.pt
www.hotelurgeiriça.pt

Bjs e portem- se"assim- assim"! (Não convém abusar...)

Pessoal!

Amigos, vocês que nos dão o prazer de espreitar o nosso Blog, façam uma "clicadela"no lado direito do ecran, no Link que tem por título "A das Artes".
Cliquem e descobrirão que o nosso amigo Joaquim, é afinal um inspirado Escritor , disfarçado de Livreiro.
Para ele, a nossa amizade solidária!
Para a Rafaela, a nossa SAUDADE!

Retalhos de Tira-Teimas - 5

Expressões Latinas de Uso Corrente

A posteriori - pelas razões que vêm depois.

A priori - antes da experiência; pelas razões anteriores.

Ad hoc - para tal fim; para isso; a propósito.

Carpe diem - aproveitar o dia.

Curriculum vitae - breve descrição do percurso académico / profissional.

Deficit - falta; saldo negativo num orçamento.

Dura lex, sed lex - a lei é dura, mas é a lei.

Errata - erros que se devem corrigir.

Errare humanum est - errar é próprio do homem.

Et coetera (etc.) - e outras coisas.

Ex-aequo - com igual mérito.

Facies - aspecto; semblante; expressão.

Grosso modo - de modo grosseiro; aproximadamente; por alto.

Honoris causa - a título de honra.

Ibidem - aí mesmo (em citações de um livro já citado).

Idem - o mesmo.

In extremis - no último momento.

In loco - no local.

Ipsis verbis - com as mesmas palavras; tal e qual.

Ipso facto - por esse facto.

Lapsus linguae - lapso de língua.

Lato sensu - em sentido lato.

Modus faciendi - maneira de fazer.

Modus vivendi - maneira de viver.

Motu proprio - espontaneamente.

Numerus clausus - número limitado.

Pari passu - com passo igual.

Per capita - por habitante.

Persona grata - pessoa bem-vinda.

Post scriptum (P.S.) - depois de escrito.

Quorum - n.º de votantes necessários numa assembleia deliberativa.

Sic - assim; tal e qual.

Sine die - sem data fixa.

Sine qua non - indispensável.

Statu quo - o estado em que as coisas estão.

Stricto sensu - em sentido estrito.

Sui generis - à sua maneira.

Superavit - saldo positivo; excesso.

Urbi et orbi - por toda a parte.

Verbi gratia - por exemplo.

Vide - veja-se.

2005-04-29

NEM UMA HORA DEPOIS...

Nem uma hora depois...MALAS feitas!!!!!

E agora...para acalmar, vou tomar meia dúzia de lexotans!!

ORA ENTÃO...

Ora então "atiremo- nos à mala"!!!!

O Verbo do Dia - Fazer

FAZER...

... a mala - boa viagem!
... anos - parabéns!
... as pazes - estar aborrecido não resolve nenhuma contrariedade / problema e faz mal à saúde.
... as vontades - eduque-se e às crianças!
... beicinho - algumas pessoas ficam lindas!
... bem - não olhe a quem!
... caretas - também é comunicação...
... despesas - cuidado!
... ginástica - faz bem à saúde.

E então? Já fez a barba? E a cama? E ainda falta fazer muita coisa?

Não faça as coisas no ar; faça, por xemplo, contas, antes de comprar.

Faça festas, festinhas, surpresas!

Faça frente e vá em frente!

Faça um bolo de fazer crescer água na boca.

Faça qualquer coisa - tudo- para ter um BOM DIA!

Vou..., porque tenho mais que fazer, mas foi um prazer!

Reflexos - XXVII

"Não sou, junto de vós, mais do que um camarada um bocadinho mais velho. Sei coisas que vocês não sabem, do mesmo modo que vocês sabem ciosas que eu não sei ou já me esqueci. Estou aqui para ensinar umas e aprender outras. Ensinar, não: falar delas. Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e no jardim e onde quer que nos encontremos".

Sebastião da Gama

12/01/1948

2005-04-28

Linhas e Entrelinhas -I

Lisboa, 18.4.1898

Minha querida Maria
Uma palavrinha para te mandar um grande beijo. A tua carta encantou-me. Todos pedem notícias tuas. Digo a todos que és uma encantadora menina muito querida. Teu papá

José

Eça de Queirós

Mala de Ter Mão

A mala, há dois dias aberta e ainda vazia, repousa sobre a cama de visitas, enquanto alguém preocupado e indeciso suspira, sem saber exactamente o que há-de pôr lá dentro.
-"Blusas finas ou grossas? Sapatos ou sandálias? Bóina ou boné"? - interroga-se, enquanto passeia pela casa, para, olha para o mar, vai petiscar qualquer coisa à cozinha...

Prepara-se para os "banhos" termais, não sei bem se à moda grega, junto aos ginásios, se estilo romano, sumptuoso com escolha de sala, ginásio, biblioteca, restaurante, ou de águas portuguesas, sulfurosas, boas para "curas" de reumático, doenças da garganta, pele, etc.

Quando voltar, terá de regar o canteiro sequioso, alimentar as gaivotas famintas, alegrar o "calçadão"...

Boa viagem e...escreva!

Comprei...

Comprei : " A Demanda de D. Fuas Bragatela"

D. Fuas, nascido em Trancoso, no dia em que D. Dinis dava os seus últimos suspiros....etc....etc...

Num romance pícaro, com um recurso à linguagem da época, onde não faltam alcoviteiras que fabricam hímenes falsos, clérigos que vendem pedaços de céu, judeus dos sete ofícios, meirinhos corruptos, taberneiros e estalajadeiros manhosos, jovens efeminados, donzelas a transbordar de carnes e, sobretudo, rapagões esfomeados - PAULO MOREIRAS oferece-nos as irresistíveis aventuras de uma personagem queixotesca, na qual existe um pouco de todos nós, porteguesinhos à beira- mar plantados.

Será??? Vou ler e depois dou notícias!!

2005-04-27

Quero lá saber!!!...

Quero lá saber que sejam só 21 h e 30 m!!!!!
Vou estarifar- me e pronto!!
Boa noite e até amanhã!
BJS

Livreiro

Gostei de ver o nosso Livreiro já no seu posto!
Coragem Sr. Joaquim!

Ainda o Manuel da Fonseca

SOL DO MENDIGO

Olhai o vagabundo que nada tem
e leva o Sol na algibeira!
Quando a noite vem
pendura o sol na beira dum valado
e dorme toda a noite à soalheira...
Pela manhã acorda tonto de luz.
Vai ao povoado
e grita:
- Quem me roubou o sol que vai tão alto?
E uns senhores muito sérios
rosnam:
- Que grande bebedeira!

E só à noite se cala o pobre.
Atira- se para o lado,
dorme, dorme...

(Manuel da Fonseca)

27 de Abril

No dia 27 de Abril de 1974, foram libertados os presos políticos das cadeias de Caxias e Peniche, e apresentado ao país o Programa do Movimento das Forças Armadas.

E a voz da Menina do Mar ergueu-se...

REVOLUÇÃO

Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta

Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício

Como a voz do mar
Interior de um povo

Como página em branco
Onde o poema emerge

Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação

27 de Abril de 1974

Sophia de Mello Breyner Andresen

2005-04-26

Pétalas de Bem-te-Quer - 8.ª

Para a Kanuthya, de uma rua com vista para o mar, que ostenta o nome do "moço de Santiago" que ela quer "descobrir mais a fundo", pétalas de flores de laranjeira, das que ainda enfeitam uma rua daquela localidade, do Largo do Barroso para nascente, feitiço perene de perfume e cor dos meus sentidos de menina...

Um pedaço da sua...

ALDEIA

Nove casas,
duas ruas
ao meio das ruas
um largo,
ao meio do largo
um poço de água fria.
Tudo isto tão parado
e o céu tão baixo
que quando alguém grita para longe
um nome familiar
se assustam pombos bravos
e acordam ecos de descampado.


E o reflexo dos seus olhos de poeta...

"O poeta tem olhos de água para reflectirem todas as cores do mundo, e as formas e as proporções exactas, mesmo das coisas que os sábios desconhecem".

Palavras - XXI

A PALAVRA

Heraclito de Epheso diz:

"O pior de todos os males seria
A morte da palavra"

Diz o provérbio do Malinké:

"Um homem pode enganar-se em sua parte de alimento
Mas não pode
Enganar-se na sua parte de palavra"

Sophia de Mello Breyner Andresen

Reflexos - XXVI

PINTA COM TINTAS

Fiz uma pinta
com tinta
Pintei o Sol
pintei o Mar
e todas as coisas
que possas pensar.
Uma pinta amarela - o Sol.
Uma pinta verde - O Mar.
Uma pinta vermelha - o morango
que te dei para merendar.
Agora é a tua vez,
tens de ser tu a pintar.
Uma pinta roxa - a violeta.
Uma pinta escura - o gavião.
Com pintas de muitas cores
tu pintas um coração.

Raquel Delgado

Papel Mata-Borrão - 7.º pingo de tinta

Esta manhã, encontrei a Menina Indefesa, com uma filhinha de cores garridas e braços caídos ao colo, pela mão da sua mãe silenciosa, que não cumprira a sua promessa...
O vento brincava com o seu chapéu de ganga azul marinho, tentando atirá-lo para o ar, despenteando-lhe os cabelinhos loiros, e ela respondia-lhe, encolhendo-se, com um discreto: "Ai, ai"..., a que a mãe acudiu com a firmeza de um gesto que voltou a colocá-lo no lugar, e lá seguiram as duas serenamente...

Ele há cada uma...

SABIA QUE...
  • Se tem medo de cães sofre de cinofobia?
  • Se tem medo de gatos sofre de elurofobia?
  • Ao pavor a relâmpagos e trovões se chama astrofobia?
  • E que a aversão às sextas- feiras também tem um nome científico?Chama- se triscaidecafobia.

(Juro que não inventei e que até estou desconfiada... Que palavrões!!!)

2005-04-25

Outro Poeta Militante!

José Gomes Ferreira escreve : " De repente, às três da madrugada, acordo e levanto- me da cama com estes versos na cabeça... Lá por fora, luar."

Apetece- me dançar
ao som do luar
- esse violino
que os outros não ouvem.

Mas hoje sou eu
que o ouço no céu
e danço na terra
com pés de cetim,
lá fora na rua...

Sou eu, pelo Ar...
Sou eu, o luar...
(... que arranquei de mim
e atirei para a lua.)

Antes do 25 de Abril...

Gente chegou às janelas,
saíram homens à rua:
- as mães chamaram os filhos,
bateram portas fechadas!

E eu, o desconhecido,
o vagabundo rasgado,
entrei o largo da vila
entre dez guardas armados:
- mais temido e mais amado
que o Deus a que todos rezam.

- Que nunca mulher alguma
se rendeu mais a um homem
que a moça do rosto claro
ao cruzar os olhos pretos
com o meu olhar de rei!

(Manuel da Fonseca)

-

25 de Abril

Esta á a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner

O 25 de Abril na Voz de Sophia (1982)

"- No 25 de Abril há um momento poético extraordinário. Hoje em dia nós olhamos para trás e perguntamos e nós próprios se foi a nossa sede de uma ilusão que criou uma espécie de fantasmagoria. Mas não há dúvida de que eu me lembro de uma cidade de Lisboa sem nenhuma política, sem nenhumas violência. Lembro-me da cidade de Lisboa onde todas as pessoas que encontrávamos sorriam, lembro-me de ver passar pequenos grupos de gente nova no Rossio que pareciam pequenos bandos de bailarinos ou de gaivotas, e atravessavam de um lado ao outro da praça. Lembro-me de bandeiras que dançavam em cima da cabeça das pessoas e das expressões e dos gestos e das vozes.
E tudo isto era um tão bonito e extraordinário momento poético e como que uma ilha noutro planeta...Talvez tivesse havido um momento em que, imagino, algo para toda a gente estava para além da política e que depois a política destroçou, a política tradicional. Creio que houve um estado de graça. Mas depois o pecado do poder destruiu esse estado de graça".

Celebração

A festa irrompe com estrondos assustadores, sons de persianas ruidosas e apressadas, vozes baixas chamando uns e outros...

O espectáculo começa com respiração suspensa e repercussões de pasmados e divertidos: "Ah! Ah! Ah!", agitando-se na minha memória sorridente...

Sobem ao céu repuxos luminosos, que se transformam em estrelas mágicas, multicoloridas, gigantes, deslumbrando a noite, chamando a lua, enfeitiçando as pessoas com o encanto de: camélias altivas, hortênsias esbracejantes, jacintos ardentes, que descem à terra com suspiros de açucenas, delicadeza de mimosas, laços de madressilva, até ao eclipse...

No ar dança o perfume de cravos lusitanos, ardentes, orgulhosamente rubros, orquestrados por notas de vitoriosa esperança...

2005-04-24

TOBIAS SCHNEEBAUM

Este senhor, pintor e professor de antropologia, escreveu entre outros, dois livros de que gostei muito.

"Lá onde o rio te leva", resultou de uma viagem que fez pelo Peru ,em cuja floresta amazónica, irá conhecer nativos por quem se sentirá atraído.
Após vários dias na selva, que percorreu sozinho e a pé, chegou junto de uma tribo de canibais. Adoptado pela tribo como um amigo, irá com ela aprender práticas culturais milenares, deixando de ser Habe, o ignorante.

"Onde os espíritos vivem", resultou de uma viagem à Nova Guiné, onde entra em contacto com os Asmat, uma tribo isolada que pratica a troca de esposas e a homossexualidade masculina.

Ambos os livros que são resultado das suas vivências, proporcionam- nos uma leitura muito interessante e surpeendente.

(Edições Antígona)

Encontro?!...

Há pessoas que têm formas muito subtis de marcar encontros - sabe-se lá com quem!
"Vou ao calçadão! ", parece-me uma delas!

Palavras - XXV

"(...) as palavras e os sinónimos são um espelho da sociedade: também se dividem em classes. No campo diz-se: comer uma tigela deCALDO; na cidade:comer um prato deSOPA. Vem a dar na mesma; mas o caldo sugere o campónio, a sopa é própria do homem da cidade".

M. Rodrigues Lapa

P.S.: Com todo o respeito, eu prefiro uma malga a uma tigela - é um sinónimo mais enraizado no campo.

Papel Mata-Borrão - 6.º pingo de tinta

Nasceu no dia de S. José, de quem herdou o nome, para grande alegria das suas irmãs mais velhas, que não se pouparam a esforços para lhe proporcionarem tudo o que necessitava e a sua inteligência merecia e se mantiveram presentes na sua vida e da família ao longo dos tempos...

Professor doce, simpático, calmo, inteligente, que reconhecia em tudo pretexto para ensinar, que se servia de exemplos do quotidiano para explicar e esclarecer, que não sabia, nem necessitava de erguer a voz...

Homem generoso e compreensivo, bom irmão - "um santo", dizem as manas -, bom esposo, pai dedicado, vigilante e nem sempre bem sucedido, tio insubstituível, cidadão digno e atento, que bradou pela justiça social.

Há algum tempo, teve de arrumar a cana de pesca, sua companheira de momentos fugidios até à praia, mercê de vicissitudes da vida traiçoeira, de quem a esposa já se despediu, destroçada pelo desgostos filiais que não superou...

Hoje, de lar e coração desfeitos, sem saúde, caminha vagarosa e silenciosamente...

Para ele, este poema de Carlos Drummond de Andrade que o reflecte na minha memória enternecida e grata.

OS PROFESSORES

O professor disserta
Sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
Cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudi-lo?
Vai repreendê-lo?
Não.
O professor baixa a voz
Com medo de acordá-lo.

Bom dia!



Vou ao calçadão!

2005-04-23

Dia Mundial do Livro

O que é um livro?

O livro é um amigo
O livro fala contigo
O livro explica-te
O livro não grita
O livro escuta-te
O livro limpa as tuas lágrimas
O livro dá-te alegria
O livro pensa contigo
O livro mostra-te o mundo
O livro ensina-te
O livro compreende-te
O livro espera por ti
O livro sorri-te
O livro beija os teus sonhos
O livro ajuda-te
O livro traz-te paz
O livro quer ser tocado
O livro faz-te companhia
O livro brinca contigo
O livro mata-te a sede
O livro alimenta-te
O livro é um prémio!

Por tudo isto e pelo que o livro é para ti...

"O que interessa mais que tudo é ensinar a ler.(...) Ler, despindo cada palavra, cada frase, auscultando cada entoação de voz para perceber até ao fundo a beleza ou o tamanho do que se lê.(...)"
Sebastião da Gama

É urgente despertar o gosto pela leitura e cultivá-lo, bem como dispor de livros a preços mais acessíveis...

Lê e oferece livros, porque, como dizia a Sophia de Mello Breyner, "o livro é uma festa!" - queres participar e aplaudir?

Pensamentos açucarados!

Pensamentos açucarados, não porque sejam doces, mas porque são recolhidos em pacotinhos de açúcar... (Isto também é reciclagem!)

ARISTÓTELES: "Pensa como pensam os sábios, mas fala como falam as pessoas simples."

SIMON BOLIVAR: "A arte de vencer aprende- se nas derrotas."

PLUTARCO: "É preciso viver, não apenas existir."

PLATÃO: "O amor é a causa do movimento da Natureza."

Reflexos - XXV

Os Poetas de Cabo Verde
estão cantando...

Cantando os homens
perdidos na pesca da baleia.
Cantando os homens
perdidos em aventuras da vida
espalhados por todo o mundo!

Em Lisboa?
Na América?
No Rio?

Sabe-se lá!

- Escuta.
É a Morna...

Voz nostálgica do cabo-verdiano
chamando por seus irmãos!

Francisco José Tenreiro

Retalhos de Tira-Teimas - 4

ÁGUA-DE-COLÓNIA - perfume obtido a partir da mistura de óleos cítricos (bergamota, limão, alecrim, etc.) com álcool.
Foi inventada por Giovanni Farina, químico italiano, no começo do século XVIII, que na época residia no n.º 4711 da Glockengasse - Colónia.
Consta que o n.º da porta - 4711 - no rótulo é a garantia da autentiicdade do produto.


BIC - nome de uma empresa de produção de canetas criada pelo barão Marcel Bich com as três primeiras letras do seu apelido, no início de 1950, que acabou por universalizar as Bic.


CARTIER - sobrenome de um francês, Louis Cartier, que em 1847 era um simples aprendiz de joalharia. Bom desenhador, dedicou-se às pedras preciosas e adquiiu a ourivesaria onde trabalhava, em Paris.
A Casa Cartier atraiu clientes aristocratas e impôs-se com a criação do relógio de pulso Cartier em 1904.


GILETE - marca de uma lâmina que tornou o seu fabricante, o norte-americano Charlie Gillette, um dos maiores milionários dos Estados Unidos, o King Gillette.
Actualmente este vocábulo emprega-se para designar qualquer lâmina de barbear.


NOBEL - Alfred Nobel, nascido em Estocolmo, no dia 21 de Outubro de 1833, químico, inventou a dinamite, em 1866, registou trezentos e cinquenta e cinco patentes, distinguiu-se como poligota e viajante permanente e instituiu uma fundação encarregada de atribuir anualmente os Prémios Nobel, destinados aos sábios, literatos e filantropos, sem distinção da nacionalidade.

Em 1901, data do quinto aniversário da sua morte, foram entregues os primeiros Prémios Nobel, em cerimónia presidida pelo rei Óscar II da Suécia.

Sabores à Portuguesa - VI

Açorda Alentejana

A açorda é uma sopa de pão, também conhecida por sopa azeiteira, muito saborosa e aromatizada com coentros, poejos ou ambos, consoante a zona, que se expandiu do Alentejo por todo o país.

Na região da sua origem, é servida como refeição, acompanhada por azeitonas - e peixe frito, no litoral - e preparada com água previamente fervida, ou onde se cozeu bacalhau, que depois se desfia.
Juntam-se ovos escalfados ou misturam-se crus e mexem-se com o têmpero, antes de se adicionar a água, à moda do Mano Zé.

Ingredientes

1/2 dl de azeite
2 dentes de alho
2 ovos
200 g de pão duro
1 molho de coentros, poejos ou ambos
água e sal q.b.
1 ou 2 postas de bacalhau demolhado (facultativo)


Preparação

Coloque numa terrina: os alhos e os coentros (ou / e poejos) picados ou esmagados num almofariz, o azeite e o pão cortado em fatias (pequenas ou médias).

Retire alguma água previamente fervida ou a do bacalhau e escalfe os ovos.

Deite a restante água, a ferver, (pode juntar a que sobrou dos ovos) sobre o preparado - utilize um passador de rede, se for a do bacalhau - mexa, prove o caldo e rectifique de sal.

Tape a terrina e aguarde um pouco até o pão amolecer ou sirva de imediato, se o preferir mais rijo, deite nos pratos e guarneça com os ovos, caso não opte pela deliciosa particularidade do Mano Zé.

BOM APETITE!

2005-04-22

Arco-íris - XX

Porque é que o Papa se chama Bento XVI (dezasseis) e não décimo sexto?

Porque na designação dos papas e soberanos, na contagem dos séculos e nas partes em que se divide uma obra, empregam-se os ordinais até décimo, e a partir daí o cardinal, sempre que o numeral se encontre depois do substantivo.

Exs.: Século V (quinto); Século XXI (vinte e um).

Gregório II (segundo); João XXI (vinte e um).

Sancho I (primeiro); Luís XIV (catorze).

Acto I (primeiro); Capítulo XIII (treze).


Mas sempre que o numeral antecede o substantivo, usa-se o ordinal.

Exs.: Vivemos no vigésimo primeiro século.

O Papa é o décimo sexto Bento.


Nota: A pronúncia correcta de sexto é: "seisto", análoga a sexta (eis)-feira; sextante (eis); sexteto (eis); sextilha(eis) - cesto (ê) é uma cesta (ê) pequena.

Ora esta!...

A inspiração varreu- se- me toda!
Já é fraca, mas hoje é nada. Bolas!!!
Vou pedir ajuda à Luísa Ducla Soares:

ENTRE QUATRO PAREDES

Pintei os sapatos de verde
para pisar um relvado.
Pus um vestido de rosas
com seu perfume encarnado.

Colei pratas nas janelas
como estrelas amarelas.

Fiz de uma vassoura
de pernas para o ar
uma palmeira
ao vento a cantar.

Baloiçando o baloiço
do velho cortinado
voei enfim
pelo meu jardim
inventado.

Palavras - XXIV

Ouve, por detrás das palavras uma voz acordada
escreve a luz,
celebra a luz,
nascer aqui être ici

António Franco Alexandre

Aquela Menina

A Menina do Mar, que já foi outra Menina, saboreia em paz e no presente este poema da Sophia, rodeada de canto ou choro de gaivotas saudosas...

As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só p´ra mim.

2005-04-21

A Náusea

Não é A Náusea de eleição que nos serviu Jean-Paul Sartre em 1938, não advém nenhuma viagem de automóvel ou "camioneta da carreira" fétida a gasóleo queimado, nem do balanço nas ondas do mar...

Este cheiro, que suponho faz crescer água na boca dos vizinhos que se vão deliciar com trincadelas suculentas e gordurosas de carne de porco frita, enche a casa e acentua o meu mal-estar de enjoo físico, provocado por uma imprudência de gente gulosa, que me faz sentir repulsa pelas laranjas que me sorriem na fruteira, pelo pacote de leite que me acena, pelo perfume do sabão líquido...

A náusea, insatisfeita pela minha prisão doméstica, pelos arrepios, tonturas e jejum deste dia, quebrado por golos de chá - sem leite, que horror! -, ataca-me...acho que vou...

Boa noite e bons sonhos para todos - as melhoras para outros enjoados!

Bélgica/Sines, em bicicleta!!!

Consulta este site:
www.ride2walkagain.be

Wim é um amigo meu, belga de 25 anos de idade , atleta de alta competição.
Ele e Wouter, num gesto de amizade e muita solidariedade, acompanham e apoiam um colega que há 3 anos teve um acidente que o deixou com incapacidade motora.

Propõem-se fazer a viagem, Bélgica/Sines em bicicleta!

Pediram- me que divulgasse a sua aventura.
Por isso peço- te que consultes o site.
Podes até contactá- los, o que os deixaria encantados.
Obrigada pela atenção!

Menina do mar...

(Para a Menina, estes versos da Sofhia)

Há muito que deixei aquela praia
De grandes areais e grandes vagas
Mas sou eu ainda quem na brisa respira
E é por mim que espera cintilando a maré vasa

Reflexos - XXIV

O Direito de Ler em Voz Alta

Eu pergunto-lhe:
- Quando eras pequena liam-te histórias em voz alta?
Ela responde:
- Nunca. O meu pai andava sempre a viajar e a minha mãe estava sempre muito ocupada.
Eu pergunto:
- Então de onde vem esse teu gosto pela leitura em voz alta?
Ela responde:
- Da escola.
Feliz por ouvir alguém reconhecer algum mérito à escola, exclamo, satisfeito:
- Ah! Estás a ver?
Ela diz-me:
- De modo nenhum. Na escola proibiam-nos que lêssemos em voz alta. O credo da época era a leitura silenciosa. Directamente da vista ao cérebro. (...) Mas, mal chegava a casa, relia tudo em voz alta
- Para quê?
- Para me maravilhar. As palavras pronunciadas começavam a ter existência fora de mim, tinham autêntica vida. Além disso, para mim era um acto de amor.
Era o próprio amor. (...) Deitava as minhas bonecas na minha cama, no meu lugar e lia para elas. Cheguei a adormecer no tapete.

Daniel Pennac, Como um Romance

Papel mata-borrão - 5.º pingo de tinta

Agressão

Ontem de manhã era uma mãe ainda jovem, sem ser adolescente, quem enchia a vida pública de gritos e ameaças, enquanto arrrancava abruptamente das mãos de uma menina de tenra idade uma sacola...
- "Nunca mais trazes boneca nenhuma para a rua, OUVISTE???"
- " É a última vez! ´TÁS A OUVIR? NUNCA MAIS!"
E lá continuou resmungando, puxando a menina silenciosa e assustada como se fosse um fardo leve, que ela podia atirar ao ar a seu belo prazer...

Hoje, ao levantar a persiana, a casa foi invadida por palavrões de estremecer, vindos da boca de uma mulher, que me fizeram hesitar na abertura da janela, imaginando alguma discussão, mas enganei-me!...
Outra mãe, jovem, franzina e azeda berrava e insultava incessantemente um menino que aparentava ter dois ou tês anos, arrastando-o pelo braço, sem piedade, nem respeito, apesar de mudo e indefeso...

Que problemas terão estas senhoras?
Como crescerão estas crianças?

Arco-íris - XIX

FÓRMULAS DE CORTESIA

Já falámos sobre a forma verbal - imperfeito de cortesia.

Hoje debruçamo-nos sobre o emprego do pronome pessoal - 3.ª pessoa pela 1.ª

Utilizamos a 3.ª pessoa pela 1.ª quando fazemos um requerimento, uma exposição, ou outro, manifestando deferência pela pessoa a quem nos dirigimos. Devemos tratar-nos a nós próprios pela 3.ª pessoa ao longo do texto.

Ex.: Nome..., requer a V. Ex.ª...
(...) solicita...
(...) apresenta...
(...) expõe...
(...) junta (ou anexa)...

2005-04-20

Ahhhhhh....

Até me engasguei!!!
Finalmente "As Sardinheiras" na "Pedra do Homem"!!!!
Espero que apanhem uns salpicos, nem que seja de água salgada, para não murcharem!
Grande honra!
Ganhei a tarde!
Duarte, estás quase a merecer a tal sopa!!!

Acalanto de John Talbot

Dorme, meu filhinho,
Dorme, sossegado.
Dorme, que a teu lado
Cantarei baixinho.
O dia não tarda...
Vai amanhecer:
Como é frio o ar!
O anjinho da guarda
Que o senhor te deu,
Pode adormecer
Pode descansar,
Que te guardo eu.

( Manuel Bandeira)

Pétalas de Bem-te-Quer - 7.ª

Pétalas sem fim de uma flor cara, deste palminho de cara de moura encantada, nem bonita, nem feia, simplesmente destapada...
Não é preciso fazer má cara, nem virar a cara...

MALMEQUER

Malmequer
bem-me-quer,
muito
pouco
nada.
se não disseres "muito"
eu fico zangada.
Eu gosto de ti,
do Sol e do Mar
e de todos os meninos.
Malmequer,
bem-me-quer,
muito
pouco
nada.
Se não disseres "muito"
eu fico zangada.

Raquel Delgado

Assinatura: Cara...ou coroa?

Palavras - XXIII

E o verbo se fez cor, aurora
boreal, multímodo
girassol.

Com pétalas desenhas
caligraficamente.

Albano Martins

O "Amor é Fogo que Arde sem se Ver"?

Hora do almoço. Dois jovens saem do café cor-de-rosa. Os seus lábios procuram-se, encontram-se, colam-se demoradamente.

Olho para duas olaias raquíticas e atravesso a rua...

Avisto uma fumaça a sair dos seus rostos. Incêndio?!... - interrogo-me graciosamente.
Não! A nicotina do cigarro que ela prendia entre os dedos da mão direita, colocada na anca como quem regateia um preço, apagara o sabor do beijo...

"Eu sou a...

Manuela..." e este é o eco do meu agradecimento de ontem à noite aos convidados do telejornal: "Muito Obrigado!".

Também podia ter dito: Muito agradecido, grato, reconhecido...

"Passei" pela TVI, depois de ter assistido ao telejornal noutro canal, e foi só o que ouvi, mas...valeu a pena! E o Miguel que estava distraído!

2005-04-19

O Casal do 28

Há mais de uma semana que observo com apreensão e alguma tristeza o casal do 28.
O Sr. está abatido, desloca-se apoiado numa canadiana ou está sentado à porta.

Por vezes, caminham de mansinho, lado a lado, e a esposa apoia-o na sua deslocação desequilibrada, dando-lhe o braço, ou reconfortam-se, em silêncio, no banco do jardim.

Ontem a Sr.ª encontrava-se sozinha à porta, esperando... Cumprimentei-a com um sorriso de esperança e perguntei-lhe pelo "vizinho", que aguardava lá dentro, sentado...

As raízes que criaram ao longo destes anos sustentam as areias que sopram e que não os detêm!

Sinal de Chuva

O som característico da sua gaita, prolongado, recuando e renovando-se como as ondas do mar, anunciou-mo antes que o avistasse e, nas notas que enchiam o espaço, reli as sábias palavras do povo: "sinal de chuva!..."

Percorre as ruas, empurrando o seu carrinho ou amparado à sua bicicleta, ansioso pela presença das donas de casa que o esperam com ofertas de trabalho, que executa por conta própria, accionando a roda de esmeril com o pé, afiando no rebordo: tesouras, facas, navalhas e outros instrumentos cortantes.

Este amolador - amola-tesouras, como se diz no Alentejo - tinha o peito curvado, denotando cansaço do peso dos anos, as barbas longas, o cabelo escondido sob um boné, o corpo magro, denunciando efeitos dos míseros proveitos do seu trabalho, os olhos fitos no chão procurando ou escondendo algo...

Faltava, atrás de si, um bando de crianças curiosas, mal vestidas e felizes, que eu via na minha infância...

A Sant'Ana

Senhora Sant'Ana
Subiu ao monte;
Onde se sentou
Nasceu uma fonte.
Vieram os anjos
Beberam dela.
Que água tão boa!
Que senhora tão bela!

(Poema tradicional)

O Tempo...

O bom do caminho é haver volta.
Para ida sem vinda basta o tempo.

(UM RIO CHAMADO TEMPO, UMA CASA CHAMADA TERRA - Mia Couto)

2005-04-18

Reflexos - XXIII

Deixa a mão
caminhar
perder o alento

até onde se não respire

Eugénio de Andrade

Palavras - XXII

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à  boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Mário Cesariny

Hoje

(7h 26m)

O dia vestiu-se de tristeza cinzenta e chorosa, porque a Menina do Nenúfar despede-se da Terra e voará, transformada em pomba branca, para além das nuvens, onde o Céu é sempre azul, os campos sempre verdes e floridos, regados com sorrisos alegres de crianças, as águas sempre calmas, transparentes e orquestradas de notas sem dor, aplaudidas pelos Anjos em hinos de Paz.
As suas asas acariciarão os rostos tristes, as flores perfumadas do seu bico limparão as lágrimas do jardineiro de olhar assustado e perdido de menino, que arrumará os livros tombados nas prateleiras...

A Menina do Nenúfar

(Pedaços dispersos do livro "Os Olhos do Homem que Chorava no Rio")

"Está e não está a menina, outra vez."
"Pé ante pé, caminhando pela margem, devagar como quem não tem pressa nenhuma, a menina do nenúfar segue o rio na direcção oposta à das águas. Vai descalça, pisando a relva e as pedras do chão. Leva na mão uma flor branca... O sopro do vento marítimo agita-lhe o cabelo e nele escreve arabescos."
"Tem doçura no rosto e, nos olhos, espanto.Parece ter crescido um pouco desde que aí está, desde que começou a ler os segredos do sonho.
O que se lhe vê nos lábios parece ser um sorriso. Sim, é um sorriso. Um sorriso sereno como as águas numa tarde de sol."
" O vulto segue-a de cara levantada e tenta respirá- la pois não lhe pode tocar,
nem dizer asa, leve, pássaro, suco."
"Está e não está a menina, outra vez..."

Inscrição para epitáfio

Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar.

(Sophia de M. B.Andresen)

2005-04-17

Retalhos de Tira-Teimas - 3

Aniversários de Casamento

1 ano - Algodão
2 anos - Papel
5 anos - Madeira
7 anos - Lá
10 anos - Estanho
12 anos - Seda
15 anos - Porcelana
20 anos - Cristal
25 anos - Prata
30 anos - Pérola
35 anos - Rubi
40 anos - Esmeralda
50 anos - Ouro
60 anos - Diamante
70 anos - Platina
75 anos - Alabastro
80 anos - Carvalho

Arcio-íris - XVIII

Na sequência do arco-íris anterior, parece-me oportuno fazer algumas referências ao futuro e ao imperfeito do indicativo, para melhor compreensão do emprego que fazemos destes tempos no nosso quotidiano (cotidiano -grafia dupla)

FUTURO

O futuro expressa:

1. Factos certos ou prováveis, posteriores ao momento em que se fala.

1.1 Facto certo e próximo do momento presente.

Ex.: Amanhã acabo de ler o livro.
(advérbio ou expressão de tempo - ex.: amanhã - e o presente do indicativo do verbo - ex.: acabo)


1.2 Acção futura imediata.

Ex.: Eu vou acabar o trabalho
(presente do indicativo do verbo IR - ex.: vou - e o infinitivo do verbo - ex.: acabar)


1.3 Acção futura obrigatória, independente da vontade.

Ex.: Eu tenho de acabar o trabalho.
(presente do indicativo do verbo TER - ex.: tenho -, preposição de e o infinitivo do verbo - ex.: acabar)


1.4. Intenção de realizar uma acção.

Ex.: Eu hei-de acabar o trabalho.
( verbo HAVER -ex.: hei -, preposição de - ex.: -de - e infinitivo do verbo - ex.: acabar)


2. Factos incertos, suposições, sobre actos actuais.
Ex.: Bateram à porta. Quem será? – Seráa Rita?


PRETÉRITO IMPERFEITO

O pretérito imperfeito expressa acções e estados passadas, mas não concluídas.


1. Descreve recordações de uma época passada.

Ex.. Nesse tempo, elas brincavam com bonecas, saltavam à corda e liam histórias de encantar.


2. Descreve uma acção passada repetida habitualmente.

Ex.: Dantes eu lia e escrevia muito.


3. Apresenta um facto geral que pode opor-se ao presente.

Ex.: Em 2000 um pão custava 180$00.


4. Duas acções simultâneas: uma que está a decorrer quando acontece a outra.

Ex.: Ele estava a almoçar quando ouviu a notícia.


Alguns Advérbios e Expressões de Tempo mais Usadas com o Pretérito Imperfeito:

- antigamente;
- dantes;
- em tempos;
- nesse / naquele tempo.

2005-04-16

Pétalas de Bem-te-Quer - 6.ª

Pétalas de despedidas-de-verão para coroar os cabelos da Menina do Nenúfar, que se despendeu da Terra e voa em direcção ao Paraíso, deixando atrás de si o seu doce olhar, a sua voz suave, a delicadeza dos seus gestos e expressão, instantes que não viveu, lágrimas para limpar no rosto do seu amado, dor para confortar no seu coração, livros mudos e tristes, num abraço de até ao céu...
..."Car, là-haut au ciel, le paradis, n´est-il pas une immense bibliothèque?" Gaston Bachelard

LEITURAS 5

" A Chuva Pasmada", mais um belo livro de Mia Couto!

«Ante o frio
faz com o coração
o contrário do que fazes com o corpo:
despe- o.
Quanto mais nu,
mais ele encontrará
o único agasalho possível
- um outro coração.»

(Conselho do avô)

A Ávore de Cabeleira Roxa

A árvore da Primavera, de cabelos roxos ao vento, que esvoaçam na direcção de Sines, chama-se olaia, segundo informação dos jardineiros da Câmara deste município, que cuidam de algumas parentes suas, ainda "meninas", dispersas no Jardim das Descobertas - a D. Delmira, que as conhece melhor, confirmou a sua identidade.
Uma delas, orgulhosamente instalada à beira do lago, é das que leva a vida a mirar-se ao espelho. Abrigada pelos prédios que a protegem do vento norte, cresce harmoniosa e elegantemente, privilégio de que não desfrutam as suas irmãs, vizinhas da ponte perto do coreto.
As suas flores em cacho, cor-de-rosa forte, sempre prenderam a minha atenção, sobretudo quando se mesclam com as folhas viçosas que despontam, e me chamam com o perfume que inalam, se passo apressadamente por elas sem as beijar com o olhar - despeço-me de algumas, porque já se vão transformando em vagens...
A olaia, oleira - grafia dupla -, é uma árvore ornamental cultivada em parques e jardins.

Papel mata-borrão - 4.º pingo de tinta

Com tinta azul, calma e contemplativa, reescrevo o circo, espectáculo único da minha meninice, de um dia especial em que o meu filho mais velho dançou alegremente no meu ventro ao som de um órgão - instrumento que veio a aprender a tocar com destreza, segundo a professora -, de renovada vivência durante doces anos entre entusiasmos, gargalhadas e silêncios meio assustados dos meus meninos e demais crianças...
O vento trazia a voz rouca, apressada e ansiosamente esperada do anúncio da festa, antes de se avistar o carro iluminado com a insígnia do circo, e da leitura imaginária e hipnótica dos cartazes.
A entrada para os espectadores de palmo e meio podia ser gratuita, mas muitos pagavam os seus próprios bilhetes antecipadamente com colheradas de comida engolidas sem apetite, com bons comportamentos indesejados, mas oportunamente necessários...
As "roulottes" encantadas, as jaulas robustas, os carros cansados de transporte de animais, a azáfama ininterrupta dos empregados, a elevação da tenda com a sua cúpula - "chapiteau"- decorada com luzes apelativas e freneticamente cintilantes, faziam antever: a pista; as bancadas; os músicos com os seus fatos vermelhos de galões e botões dourados; o apresentador enérgico e palrador; as exibições emocionantes dos acrobatas; os perigosos, suspensos e silenciosos voos e saltos mortais dos trapezistas; os temerários domadores de feras obedientes, que mostravam os dentes ao som do chicote; os ginastas de corpo elástico e flexível; os mágicos que faziam aparecer e desaparecer coelhos, pombas, lenços e faziam nascer moedas das orelhas e dos narizes dos espectadores mais próximos; os malabaristas, exibindo arcos e esferas; os macaquinhos ciclistas; os cavalos inteligentes e habilidosos, ao compasso da música, e os cavaleiros heróis; os elefantes possantes e ginastas; os esperados palhaços de vestimentas fantásticas, garridas, desmedidas, de sapatos de gigante pobre, de rosto de cal, de enormes narizes vermelhos e esborrachados, de bocas de peixe, que faziam rir com os gestos e com palavras, mas pareciam magoar-se nos pregos, nas trampolins, nas cambalhotas...; os doces, as fotografias e as recordações que uma bonita e elegante artista / vendedora "oferecia" num tabuleiro que pendia do seu pescoço...; os aplausos antecidos de choros de crianças sensíveis e de gritinhos de senhoras "frágeis"; o doloroso desfile final, as pirâmides coloridas de animais, artistas, misturado com o brilho encandeante de lantelojas, entre sorrisos e gestos de despedida e de agradecimento de todos os protagonistas do espectáculo, suscitando vontade de permaner ali ou voltar na sessão seguinte...

2005-04-15

O Sócrates antes do José

O Sócrates da História da Filosofia não publicou nenhuma obra escrita, mas foi um excelente comunicador com os seus concidadãos - nas reuniões, festas, ginásios, assembleias - e influenciou gerações.
O seu aspecto humilde contratava com a sua inteligência e capacidade de argumentação.
Participou em batalhas, evidenciando-se pela sua coragem, patriotismo e resistência física, mas achava que lhe tinha sido confiada a missão de levar os seus conterrâneos a conhecerem-se a si mesmos.
Tradicionalmente, ficou conhecido como o filósofo douta ignorância - só sabia que não sabia; abriu o caminho para a lógica clássica; conduziu os outros à abertura para a sabedoria e à purificação do espírito, utilizando o método interrogativo, que apelava à reflexão; defendia que ninguém erra voluntariamente
Segundo Aristóteles, "trouxe a Filosofia do Céu para aTerra" - desviou a atenção dos pensadores da Natureza física para o Homem.
Foi injustamente acusado de corromper a juventude e de introduzir novos deuses na cidade, tendo acabado por ser condenado à morte e a ingerir cicuta, o que enfrentou com estoicismo.
Platão, seu discípulo, apresenta-nos a sua filosofia nos Diálogos e descreve a sua morte, de forma idealizada, no Fédon.

Com Sócrates no café!

Não, não foi o 1º ministro que encontrei no café.
Foi o outro, o filósofo grego, nascido lá para o ano 400 a. C., filho do escultor Sofronisco e da parteira Fenareta (juro que ñ inventei tal parentesco).

Pois, no café, ao pegar no pacotinho de açúcar, lá estava um pensamento do Sócrates:
"NÃO CONHECER O PRÓPRIO VALOR É IGNORAR- SE A SI PRÓPRIO."

Não sendo para mim , esta frase uma revelação, gostei de saber que eu e tal celebridade partilhávamos os mesmos "pontos de vista"!

E só por isto, valeu a pena ir tomar o pequeno almoço fora.

Os coelhinhos!

Iam dois coelhinhos
andando apressados
para o céu- com medo
de serem caçados.

E também com medo
de passarem fome.
Pois- quando não dorme-
o coelhinho come.

E ainda tinha os filhos
que a coelha esperava...
Õ Céu era longe
e a fome era brava.

Jesus riu, com pena:
Fez brotar da Lua
- para eles- florestas
de cenoura crua.

(Odylo Costa, Filho - Brasil)

Cartão-de-Visita

Escrito no dia seguinte ao acontecimento, aniversário do segundo mês de existência, e a lápis, à boa maneira dos nossos avós, as sardinheiras entregam "em mão" o seu cartão com dobra perfumada, agradecendo todas as visitas ao seu jardim multicor e as regas dos que chamaram o jardineiro.
Muito Obrigada e um dia alegremente florido!
Aurora e Carolina

2005-04-14

Mar, Maria, Mariana, Mário...

O SR. Mário!
Lá estava ele, hoje.
Sentado num banco, na avenida da praia, conversava com um imaginário interlocutor.
Não ouvi o que dizia, mas isso também não importa, porque sei que o que ele diz não faz muito sentido para as nossas "cabeças lúcidas".
O Sr. Mário imagina- se um eléctrico, (desses que circulam nas ruas de Lisboa), e calcorreia todos os dias Kms e Kms num ininterrupto "pára- arranca" solitário.

Não fala com ninguém e ninguém fala com ele!

Aqui há uns tempos atrás, ele parava para falar comigo, e chamava- me "madrinha da amizade", agradecendo a atenção que eu lhe dava: -SOU UM EXCLUIDO DA SOCIEDADE- repete ele com muita frequência.

Numa dessas tardes, o Sr. Mário (mais eléctrico do que nunca) disse- me:
- Olhe minha senhora, eu até a levava, mas na verdade não posso porque estou cheio.
Respondi: - Obrigada, mas eu preciso mesmo é de andar a pé!
E lá seguimos, eu caminhando para um lado, e ele deslizando nos seus carris imaginário, para o outro.
Então, a minha "lúcida cabeça" ficou a pensar: E se ele não tivesse a lotação esgotada, como é que eu iria recusar tão amável convite sem o ofender?

É, Sr. Mário!
Talvez que o senhor se imagine um eléctrico, para poder fingir que a sua "lotação esgotada"é afinal um numeroso e solidário grupo de Amigos.

Não me ofereça boleia, por favor, mas pode contar sempre com o meu -"Bom dia, como está?"


Palavras - XXI

Na Praia

Estava na praia
E comecei a brincar
A formar palavras
Começadas por Mar.

Marciano, lá de Marte.
Marmelada, no meu pão.
Martelada, no dedão.
Março, mês da Primavera.
Marta, Márcia e Martinho,
Estes são meus amiguinhos,
Que no nome têm Mar.

Mar tão lindo,
Mar tão verde,
Mar agradável de se olhar...

A Moderna Magia do Saber

Um abraço de Mar para os meus amigos que o têm no seu nome: Maria, Margarida, Marina, Mariana, Mário, Marisa, Marla, Marta, Márcio..., e para os que o trazem e a mim no coração - eles têm um poder mágico de transformar a vida numa MARavilha!

Reflexos - XXII

L de letras
- das letras simples
com que escrevo estes versos claros.

L de livros
- desses companheiros
em que a vida se disfarça de silêncio
e a vida não amarelece com as páginas.

L de lilás
- essa flor breve
com um cheiro azul de paz.

L de um anseio
de que está o mundo cheio;
L de um grito
que nos há-de rebentar o peito
e encher toda a cidade:
este L
alto e direito
da Liberdade.

José Carlos de Vasconcelos

2005-04-13

Arco-íris - XVII

Ainda as palavras e a "moda", - hoje no Arco-íris, porque carece de explicação -, a propósito do que acabei de ouvir da boca de um jornalista numa entrevista transmitida pelo canal 2:
- " Falamos na semana passada"(...)

Será que este profissional não conhece a diferença entre o presente do indicativo - falamos - e o pretérito perfeito -falámos e não tem noção da responsabilidade que tem perante o público?!...
Lembrei-me, também, de um texto de João de Araújo Correia - médico e escritor nascido em 1899 -, do qual transcrevo breves excertos pela sua actualidade:
-" Com locutores e actores é preciso cuidado...Cada um fala como quer, e, se diz asneiras, ninguém lhe vai à mão. Têm carta branca para destruir a pronúncia como lhes der jeito.(...),que ninguém lhe bate. Protege-lhe as costas a rica Irmandade da Complacência Nacional.
Rádio e teatro deveriam ser escolas de pronúncia da língua portuguesa. Pois, não são... "

Deixo algumas notas sobre os referidos tempos verbais, que me parecem úteis:


a) PRESENTE DO INDICATIVO

O presente expressa :

1. Acto quer acontece no momento em que se fala - presente momentâneo.
Ex.: Hoje está calor.

2. Acção ou estado permanente - presente durativo.
Ex.: O mês de Setembro tem 30 dias.

3. Acção Habitual - presente habitual.
Ex.: Eu não bebo e não fumo.

4. Acto futuro - presente com valor futuro – com advérbio ou expressão de futuro.
Ex.: Amanhã vou ao Porto.


b) PRETÉRITO PERFEITO

O pretérito perfeito expressa um acção passada e completamente acabada.
Ex.: Ontem falámos sobre o Papa.


Alguns Advérbios e Expressões de Tempo mais Usadas com o Pretérito Perfeito:

- ontem; anteontem; há pouco; há dias; há semanas; há um ano; há algum tempo; há muito tempo; no domingo( semana, mês, ano) passado.

Para a minha afilhada Carol e irmãos!

A zebra quis
ir passear
mas a infeliz
foi para a cama

- teve de se deitar
porque estava de pijama.

(Sidónio Muralha- Portugal)

Irene no céu

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor

Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro Bonacheirão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

(Manuel Bandeira - Brasil)

Pétalas de Bem-te-Quer - 5.ª

Com pétalas transparentes e luminosas de diamante reflectindo o brilho e todas as cores do arco-íris com raios de verdade e de esperança, como um jorro de luz solar sobre um manto branco, chamo-te, enquanto esfregas os olhos ainda adormecidos, para veres que...

"Em nouvas coutadas
Junto de uma hera
Nascem flores vermelhas
Pela primavera"

Zeca Afonso

Palavras - XX

Uma palavra ainda
para sentir a terra
uma palavra
onde descubra a boca
acesa, o corpo do amor

Eugénio de Andrade

Reflexos - XXI

O amor continua muito alto
Muito acima, muito fora
Da vida, muito raro
E difícil: maravilhoso
Quando devia ser fiel,
Fiel em cada dia,
Paciente e natural em cada dia,
Profundo e ao mesmo tempo aéreo.
Verde e simples
Como uma árvore!

Alexandre O´Neill

2005-04-12

A vida é... reencontrar um poema!

A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;

De casa de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;

De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu pai a erguer uma videira
Como uma Mãe que faz a trança à filha.

Miguel Torga!!! (Pois claro! E há anos que eu tentava descobrir onde tinha este poema e quem era o autor. ENCONTREI!!! O meu dia está ganho!)
A vida, também é : Reencontrar um poema!!!

O que é?

A vida é baloiçar em constante vaivém, serenamente ou em saudável agitação.
A vida é sentir uma mão amiga que acciona o movimento ou que o modera.
A vida é hesitar, parar, reflectir, erguer-se e prosseguir corajosa e alegremente.
A vida é plantar sementes, regá-las cuidadosamente e esperar que crescem.
A vida é colher flores em caminhos e valados com mãos calejadas.
A vida é manjar de frutos suculentos e agridoces que nos são oferecidos.
A vida é cantar baixinho canções de embalar e hinos de agradecimento e esperança.
A vida é olhar o céu, o sol, as estrelas, o mar, o campo, as pessoas.
A vida é voar no sonho, com coração de criança, dando passos de gente grande.
A vida é visitar o mundo real e imaginário, partilhar e regressar de mãos cheias.
A vida é escutar palavras, mares, ventos, gemidos e gritos silenciosos.
A vida é navegar num mar de diversas ondulações, cores, vozes, direcções.
A vida é dizer com alegria sentida e ternura transbordante: OLÁ, BOM DIA!

Menina do Mar

Reflexos - XX

MARIA

Apresento-me:
Maria

36 anos
seis filhos

Trabalhando desde
os 15

Apresento-me:
Maria

Dobrada sobre
o soalho

na tábua a passar
os dias

Apresento-me:
Maria

Maria Teresa Horta

Arco-íris - XVI

1.TRÁS - advérbio e preposição, após; depois de; em seguida.

Precedido das preposições: a, de, por, para forma locuções adverbiais - tempo ou lugar posterior.

1.1 Trás! - interjeição, som imitativo de pancada ou queda.
Ex.: Trás! Foi o vento! - pensou.

1.2 Trás - elemento de composição que transmite a ideia de anterior.
Exs.:Trás-ante-ontem, trasanteontem, trasantontem; trasmontano - transmontano, grafia dupla - ; trasviar


2. Detrás, Por trás, Detrás de, De trás

2.1 Detrás - advérbio, lugar donde.
Ex.: O Filipe surgiu detrás.

2.2 Por trás - locução adverbial, lugar por onde.
Ex.: O Miguel surgiu por trás.

2.3 Detrás de - locução preposicional, lugar donde.
Ex.: A Rita surgiu detrás da casa.

2.4 De trás - locução adverbial de lugar ou / e espaço.
Ex.: Esta situação já vem de trás.(de tempos atrás).
A Joana observou a escultura de frente e de trás. (lugar)

Além disto, ...
Quem vier atrás que feche a porta, se faz favor!
Mexe as pernas, senão ficas para trás.
Para trás! - ordenou o agente!
Não estejas triste! Deixa isso para trás!
Se ela te ignora, dá-lhe para trás!
Aquele fulano deve estar por trás desta tramóia!

Segundo reza a sabedoria popular...
Atrás da cruz se esconde o diabo.
Atrás de ano ano vem.
Atrás de apedrejado pedras chovem.
Atrás da mentira, mentira vem.
Atrás de mim, vem a encente.
Atrás de mim virá *quem de mim bom fará ( *quem te ensinará; *quem me vingará).
Atrás de morro tem morro.
Atrás de nós virá quem melhor fará (nem todos querem /admitem).
Atrás de queda coice.
Atrás de quem corre não falta valente.
Atrás de quem pediu nunca ninguém correu.
Atrás de tempo vem tempo ( tempo vem)
Atrás de trabalho vem dinheiro com descanso.
Atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher.
Atrás do consentimento anda perto o arrependimento.
Atrás do mel correm abelhas.
Atrás de um dia vem outro. - Até amanhã!

2005-04-11

O Alberto (2)----mais uma vez

O Alberto traz- me à lembrança o Renato.
O Renato foi meu aluno em Alvalade do Sado e durante os 4 anos de escolaridade foi prometendo:
- Professora, a minha mãe tem lá uma galinha para lhe oferecer!...
(Nunca vi tal galinha, nem mais gorda nem mais magra.)

O Alberto há meses que tem para me dar um saco de bóias,(pequenas peças de plástico que se prendem às redes, para que estas flutuem).
Todos os dias de manhã me diz:
-À tarde trago- te as bóias, vens cá? (Assim mesmo, porque eu e o Alberto somos,tu cá, tu lá...)
Mas, tal como a galinha, também as bóias não chegarei a ver...

Hoje, como de costume, lá estava ele e eu perguntei:
- Então, não trouxeste as canas de pesca?

- Não- respondeu ele- vim pôr os pés de molho!...
E já vocês o estão a imaginar passeando à beira- mar refrescando os pés.
Pois enganam- se!
Encheu de água um plástico amarelo, em forma de campânula (desses lixos que a maré atira para a praia) e ali ficou sentado numa rocha com os pés de molho, olhando os pescadores.
Depois, pousou- os ( os pés), numa tábua para que secassem ao sol.
E ao meio- dia lá foi... bem calçado e desareado, praia fora, em busca do almoço!

E eu, que não pus os pés de molho, vim almoçar e escrever isto...


E agora...

E agora vou ao calçadão, não à procura de príncipes, mas de gente mais plebeia!
O Alberto, o ti Artur, o Courelas, o homem das gaivotas, o marido da Maria ... e todos os outros que aparecerem.
E já levo preparado o prazenteiro "bom dia" !

Reflexos - XIX

UM AMIGO

Esta noite deitei-me triste.
Abri um livro, passei uma folha, outra folha.
Quando cheguei ao fim tinha o coração cheio
de folhas e de flores...

Matilde Rosa Araújo

Palavras - XXVIII

Ó palavra impossível cuja vizinhança
A outra, útil ou portátil, não consente
Abre o poema, símil da lábil criança.

Rui Belo

2005-04-10

O Primo Luís!

Era Verão e a casa cheirava a café!
A prima Maria Joana e o primo Luís vinham passar férias.
Moravam em Lisboa.
Ele tinha uma loja de tecidos e ela, um "lugar de fruta".( Penso que a loja dela era apenas uma maneira de conservar as cores e os cheiros da sua infância, passada na província entre hortas e pomares).

Mas, vinham no Verão e traziam café!
Café que eu não bebia, mas cujo cheiro conservo até hoje na memória olfactiva. Aromático, penetrante, e conservador de "águas passadas"...
O odor do café, os paladares (caramelos multicolores,que se apregoavam nos Cacilheiros "cada cor seu paladaaar!", e as histórias do primo Luís, serão sempre águas que não passaram.

O repouso (hora da sesta) , fazia- se "estarifados" em cadeiras de lona, debaixo das figueiras.
O Monte chamava- se "Figueira dos Mariais".
E era nessa hora das cigarras que o primo pegava na minha mão e subíamos a um socalco.
Dali avistava- se o Mundo!
Sentava- se numa pedra, comigo ao colo, e... cada casa que se via ao longe era sempre um castelo, ou um palácio e o tema para mais uma das suas histórias.

Tantos anos se passaram, primo Luís, mas olha que naquela casa grande , lá ao fundo, ainda vive a fada boa!
E naquele aglomerado de árvores escuras, donde sai uma nesga de fumo, esconde- se a bruxa má, sempre remexendo o caldeirão dos venenos!
E o cavaleiro? O cavaleiro do cavalo branco, tão formoso, tão valente e tão ágil que passava por cima dos telhados? Lembras- te?
Sabes que ainda há pouco tempo o vi de novo passar, procurando sempre a tal princesa?!

Andarás agora pelo céu, sentado nas nuvens, com os anjos ao colo? Então, conta- lhes.
Conta- lhes, que o café, os paladares e as tuas histórias encheram a minha infância de cheiros, sabores e fantasia!

Sabores à Portuguesa - V

Para os amigos da minha amiga que tem uma cafeteira de bico, Zé A. e Zé P., grandes pescadores de achigãs e não só - demais pescado de água doce e espécies marinhas.

ACHIGÃ À VIANA (MInho)

O achigã é originário da América do Norte. Existe nos Açores desde 1898 e foi introduzido nas águas continentais em 1952. É muito apreciado frito.
Aqui fica uma sugestão para um prato diferente.

1Kg de filetes de achigã
2 folhas de aipo
3 cebolas
1 ramo de salsa
2 dentes de alho
75g de manteiga
5dl de molho de tomate
2,5 dl de vinho branco seco
Azeite, sal e pimenta preta q.b.

Tempere os filetes com sal e unte-os com azeite.
Barre uma assadeira com a manteiga e coloque no fundo as cebolas, o aipo, a salsa e os alhos picados.
Ponha os filetes por cima, polvilhe com pimenta, regue com o vinho e leve ao forno. Passados 10 minutos, cubra com o molho de tomate e deixe acabar de cozer - cerca de mais 10 minutos.

Bom apetite!

Palavras - XXVII

A PALAVRA

Só conheço, talvez, uma palavra.
Só quero dizer uma palavra.
A vida inteira para dizer uma palavra!
Felizes o que chegam a dizer uma pala-
[vra!

Saul Dias

A cigarra

Lá vem a cigarra
Tocando violão
Alegrando o ar
Com a sua canção

Lá vem a cigarra
Com a sua alegria
Canta sem parar
Enfeitando o dia

Lá vem a cigarra
No seu preguiçar
Uns nasceram tristes
Outros a cantar

carolina (cantigas para os meus alunos,1993)

A Borboleta

De manhã bem cedo
uma borboleta
saiu do casulo.
Era parda e preta.

Foi beber ao açude.
Viu- se dentro de água.
E se achou tão feia
que morreu de mágua.

Ela não sabia
- boba! - que Deus deu
para cada bicho
a cor que escolheu.

Um anjo a levou,
Deus ralhou com ela,
mas deu roupa nova
azul e amarela.

(Odylo Costa, Filho) Brasil

Retalhos de Tira-Teimas - 2

ECO - repetição de um som reflectido por um corpo; fama.

ECOLOGIA - ciência que estuda as interacções entre os sers vivos e o meio ambiente.

ECOSSISTEMA - sistema vivo que abrange: ar, água, solos, plantas e animais - ex.: recife de coral, floresta virgem.

EFEITO DE ESTUFA - aquecimento da atmosfera terrestre causado pela acumulação de gases produzidos, principalmente: dióxido de carbono, metano, óxido de azoto e clorofluorcarbonetos, os quais estão na origem do aquecimento global.

ENERGIA - capacidade que um corpo tem de produzir: trabalho, força, vigor, firmeza.

ENERGIA RENOVÁVEL - energia inesgotável proveniente: do sol, das marés, das ondas e do calor do subsolo.

RECURSOS NÃO RENOVÁVEIS - quando formados, não se reproduzem, tais como: combustíveis fósseis, carvão, petróleo, gás, metais.

2005-04-09

Reflexos - XVIII

FAZ DE CONTA

- Faz de conta que eu sou abelha
- Eu serei a flor mais bela.

- Faz de conta que eu sou cardo.
- Eu serei somente orvalho.

- Faz de conta que sou potro.
- Eu serei sombra em Agosto.

- Faz de conta que sou choupo.
- Eu serei pássaro louco,

pássaro voando e voando
sobre ti vezes sem conta.

- Faz de conta, faz de conta.

Eugénio de Andrade

Nota: Cuidado com o "faz de conta", porque, por vezes,as contas saem erradas!

Arco-íris - XV

Imperfeito de Cortesia

I
Eu vinha fazer uma reclamação.

II
- Queria um garoto, se faz favor.
- Queria? E já não quer?
- Claro que sim! O Sr. não percebeu que lhe fiz um pedido delicadamente?!
- Desculpe, estava a brincar! Trago já!
- Podia dar-me um copo de água, por favor?
- Com certeza!

Emprega-se o imperfeito em vez do presente do indicativo para atenuar uma afirmação - I, "vinha"- ou formular um pedido de forma mais cortês - II, "queria"; "podia".

2005-04-08

Reflexos - XVII

BAILIA PRIMEIRA

Vamos bailar! Ai bailar,
Vamos bailar a bailia:
Ai! Quando eu bailo contigo,
À meia-noite é meio-dia.

Matilde Rosa Araújo

Palavras - XXVI

" A minha palavra favorita é "género" uma palavra deliciosa, que nunca mais acaba.
Adoro dizer que alguém "não faz o meu génro". Adoro palavras como "jaez" "estirpe", "têmpera", "feição" e sobretudo "laia". Em português pode ser-se do memo género sem ser da mesma laia. Adoro ver alguém a "fazer género" .
(...)
"Dentro do género" é uma maravilha. (...)
Gostamos é de falar. Calados é que não ficamos. A indefinição e a incomunicação tagarelas são a nossa especialidade. "Dentro de género" é a pérola das pérolas(...)

Miguel Esteves Cardoso

Pétalas de Bem-te-quer - 4ª

Pétalas de um amor-perfeito, a "Daiela" - anteriormente "Danana" -, desenhando palavras da sua boquinha risonha numa pequeninha gravata de cartolina azul, imitação da pintura natural dos seus olhinhos celestiais e cintilantes:

" O pai é amigo!
Dá palmadas e castigo!
Dá miminhos com as barbas!
Dá bolachas!"

Dia do Pai
(2005)

2005-04-07

Arco-íris - XIV

SINTAXE D0 VERBO HAVER

Existe a palavra ,
Mas à existe também:
Quando é tempo tem h;
Quando é lugar ... não o tem.

Havia um, ali perto,
É muito bom português;
Mas continua a estar certo,
Se, em vez de um, havia três.

Aguiar, Irondino T. de


O verbo haver emprega-se em português com dois significados:

1. ter, integralmente conjugável.

Ex.: Eu hei-de conseguir...
tu hás-de fazer...
ele há-de dormir...
nós havemos de aprender...
vós haveis de sorrir...
eles hão-de ajudar-nos...

2. existir, unipessoal - só se conjuga na 3.ª pessoa do singular -, de sujeito considerado indeterminado.

Ex.: Há homens.
Havia rapazes.
Houve raparigas.
Haverá mulheres.


POBRE DO VERBO HAVER

- Olha lá, tu não és burro,
Acaso serás casmurro?...
Cheio de anos de liceu

Tu estudaste mais do que eu,
Foste a universidades...
Porque é que tu dizes HÁ-DES
Em vez de hás-de? És tu parolo,
Ou distraído, meu tolo?!...

Também há-dem é tolice
Pois é: hão-de; assim é que é!
Oh! meu pobre verbo HAVER
Com tais tratos de polé...

Disseste: - Houveram e haviam
Homens na terra e no mar...
- Para que andaste a aprender?
Não sabes que o verbo HAVER

Aqui vai prò singular?!...
Havia, Houvera, haverá
Sábios de... caracacá!
Pois se até assim o diz
Da Língua, um pobre aprendiz!...

Pedro Pires, Ortografia

Palavras - XXV

Ponho palavras como coisas feitas:
Só entre elas, enquanto jogam, leves,
Seu rodado sem cor nem qualidades,
Minha ciência existe, e já não minha,
Ou só tão minha como tua e delas,
Ar entre os dedos, sumo de verdades.

Pedro Tamen

Reflexos - XVI

PERGUNTAS DOS PÉS À CABEÇA

A planta do pé dá flores?
A barriga da perna pode ter apendicite?
As cabeças dos dedos pensam?
As maçãs do rosto devem proteger-se com insecticida?
As meninas dos olhos com que idade se
tornam senhoras?
As asas do nariz voam?
O céu da boca tem estrelas?
As raízes dos cabelos devem ser regadas de manhã ou à noite?

Luísa Ducla Soares

BARCAROLA DOS TRÊS ANJOS

Remando vão remadores
Barca de grande alegria;
O patrão que a guiava,
Filho de Deus se dizia.
Anjos eram os remeiros,
Que remavam à porfia;
Estandar- te de esperança,
Oh quão bem que parecia!
O mastro da fortaleza
Como cristal reluzia;
A vela com fé cosida
Todo o mundo esclarecia;
A ribeira mui serena,
Que nenhum vento bulia.

(Gil Vicente, no auto da Barca do Purgatório)

2005-04-06

Mulheres da vida

Na minha meninice, a certas mulheres, chamava- se- lhes "mulheres da vida".
Perto da rua onde eu morava com a minha avó, havia até uma casa, numa travessinha escondida, onde essas mulhres prestavam os seus serviços.
Com essa gente, não era aconselhável, ficar parado na rua a conversar.
As pessoas "recatadas" não deviam sequer olhar para tais pessoas,dedicando- lhes todavia, um disfarçado cochicho.

Pois, há poucos dias, tive o prazer de rever e conversar com uma dessas mulheres, numa tasquinha em Santiago.
Eu estava a comer quando ela entrou e me cumprimentou com muita afabilidade (conhece- me desde miúda, afinal tinhamos sido vizinhas).
- Olha a Maria Carolina, então como estás?
Convidei- a para se sentar e ali ficámos, conversando das nossas vidas, dos nossos familiares, do frio e do reumático...

Não me pareceu que aquela mulher fosse menos senhora do que qualquer das outras mulheres que passavam na rua.

Saí da tasca pensando no Jorge Amado e na sua TERESA BAPTISTA CANSADA DE GUERRA.
Foi com a leitura deste livro, há muitos anos atrás, que aprendi a respeitar essa tais "mulheres da vida" e a ter por elas simpatia.

E a quem faz, ainda hoje, distinção entre" mulheres da vida" e "senhoras", dou um conselho, leiam esse livro e digam lá:
Como "arma" de afectos não usam todas o "xibiú"?
E não é o "xibiú" que tracam quando estão em guerra?
(Assim fazia Teresa Baptista).

Nota: Xibiú, vocábulo brasileiro, lido e relido nos livros de Jorge Amado.

Mana Bia

De nome próprio Maria das Dores, docemente tratada por "Bia", mais conhecida por "Mana Bia", para mim "Bibi", para os especiais mãe, avó, prima, amiga...
Fazia hoje anos, não sei quantos, e este é o 1.º aniversário que não festeja entre os seus entes queridos. Delicia-se, certamente, com os encantos do Paraíso na companhia do seu saudoso Mano Zé, o do bigode, o falador, o seu companheiro de sempre, o pai dos seus lindos filhos.
Uma presença, um olhar, um sorriso e uma voz inesquecíveis, um bonezinho na cabeça que lhe dava um toque único, a boa disposição, a brisa de S. Torpes acariciando a sua pele de seda, as relações públicas do restaurante da sua iniciativa e por sua conta, a retirada para "cuidar" das galinhas, as viagens em serviço, inadiáveis - pão insuficente, por exemplo - que efectuávamos, entre outras, todas recheadas de prazer e alegria, as saborosas refeições tomadas em família, independente do espaço físico em que nos servíamos, da quantidade de vinho existente no garrafão, dos quilómetros percorridos...
De olhos postos nos seus rebentos, desafiando a menina que sabia que tinha pernas para ainda andar muito - faz Kms medidos a candeeiro público -, zelando pelo seu menino de coração bondoso, temendo que alguém o magoasse, teve a felicidade de ver nascer e crescer a mais bela flor da família.
Abraço com ternura e bendigo os nossos últimos encontros, partilhados com a sua menina, particularmente os sorrisos que me ofereceu, o carinho que permitiu que lhe manifestasse, a tranquilidade que respirava quando lhe respondia, vezes sem conta, à pergunta: "O meu Zé?" - Obrigada, querida Bibi!

Papel mata borrão - 3.º pingo de tinta

Recado

Corre entre os pinhais e bebe a brisa marinha, mas não fujas!
Silencia a tua boca na discrição, mas não sejas mudo!
Protege-te e defende-te, mas não te escondas!
Escuta os pássaros, mas canta com eles!
Fecha-te no castelo, mas abre uma janela!
Aceita o anoitecer, mas acende uma luz!
Reconhece a tristeza, mas abre-te à alegria!
Sente a saudade, mas sorri-lhe!
Adormece, mas acorda para um novo dia!
Tropeça e cai, mas ergue-se com coragem!
Chora, mas deixa que te limpem as lágrimas!
Ama uma criança, mas ouve e segue a sua voz!...

E...
Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Miguel Torga

A vida é hoje, é aqui, é agora!

Menina do Mar

Palavras - XIV

Procurei sempre um lugar
Onde não respondessem,
Onde as bocas falassem um murmúrio
Quase feliz,
As palavras nuas que o silêncio veste.

António Ramos Rosa

2005-04-05

Reflexos - XV

X
A minha história?

Não conto.

Se não conto
não é por falta de conto.
Um ponto mais? Há sempre um ponto.

Se não conto
a minha história
nem é sequer
por falta de memória.
É só porque
a minha história é ser feliz.

Podes marcar com um X.

Mário Castrim

Para a minha afilhada Carol!

A minha casinha

Fiz uma casinha
de chocolate,
tapei-a por cima
com um tomata.

Pus- lhe uma janela
de rebuçado
e mais uma porta
de pão torrado.

Pus-lhe um chupa- chupa
na chaminé;
a fazer de neve
açúcar pilé.

A minha casinha
bem saborosa...
comi- a ao almoço
sou tão gulosa!

(Luisa Ducla Soares)

Papel mata borrão - 2.º pingo de tinta

Cotovelos afundados num "chouriço" macio, mãos em concha segurando o rosto quase colado à janela voltada para a praceta, contemplo três estrelas que me piscam o olho, ouço o silêncio, busco as árvores prometidas, acompanho o baloiçar de roupa despida, vislumbro uma senhora a passar a ferro numa cozinha distante...
Já não me apetece fazer mais nada, nem tenho sono - que estranho! Cogito, indiferente ao saboroso cheiro a sopa fresca e a maçã assada, e limpo o vidro embaciado...
A presença de três pessoas de quem gosto em particular, com matiz e intensidade distintas, gira à minha volta, toca o meu coração, prende o meu pensamento...
Abraço uma delas com mel, sol e chuviscos... e ela desprende-me com flores que posso partilhar com uma voz forte de poeta e com uns olhos tristes...
Regresso à janela. Não há luz para além daquela vidraça e as estrelas também foram dormir...
Quando o dia acordar, é preciso caminhar!

Menina da Ribeira

2005-04-04

Francisco

Nasceu em 11 de Junho de 1908, em Aljustrel, Fátima, cresceu num ambiente familiar simples, caloroso e cristão e faleceu no dia 4 de Abril de 1919, às 22h, sorrindo, na mesma casa onde se ouvira pela primeira vez o seu choro - o quarto e a cama estão expostas.
Francisco era calmo, falava pouco, evitava companheiros turbulentos, relacionava-se bem com toda a gente, não reclamava o que fosse seu, se lho retiravam, acolhia todos e manifestava a sua disponibilidade constante, prontificando-se, por exemplo, a reunir as ovelhas de alguma vizinha,
quando fugiam.
Amava a verdade e a natureza, preferencialmente os pássaros cujo canto imitava, protegia os seus ninhos e soltava-os quando eram apanhados; deliciava-se a contemplar o pôr-do-sol e o céu estrelado.
Apaixonado pela música e pela dança, levava horas a tocar flauta e, por vezes, acompanhava a irmã, Jacinta, e a prima, Lúcia, a cantar e a dançar ao som do seu instrumento.
Interessado em aprender, sobretudo a religião cristã, reflectia muito, era obstinado e também pregava partidas aos seus irmãos.
Após a aparição de 13 de Junho de 1917, perguntou à irmã e à prima:
- "Para que estava Nossa Senhora com um Coração na mão espalhando sobre o mundo aquela Luz tão grande, que é Deus?(...)"
Via, mas não ouvia as palavras da Senhora, oferecia orações, sacrifícios pela conversão dos pecadores e visitas ao Santíssimo Sacramento " para consolar a Nosso Senhor"; despediu-se de Lúcia dizendo:
- "Adeus, até ao Céu!"
No dia 13 de Maio de 2000, o Papa João Paulo II proclamou-o e à sua irmã Jacinta Beatos.

LEITURAS 4

Estou a ler "O Silêncio De Um Homem Só" de Manuel Jorge Marmelo.( Campo da Letras)
Um conjunto de contos que me parecem escritos duma maneira muito original.
Estou a gostar!

Manuel Jorge Marmelo, nasceu no Porto em 1971 e é jornalista desde 1989.
Tem cerca de uma dúzia de obras já editadas e tem publicado regularmente textos e contos em diversas antologias e publicações, em Portugal, no Brasil e em França.
Talvez seja um nome a reter na memória...Manuel Jorge Marmelo.