2005-04-19

Sinal de Chuva

O som característico da sua gaita, prolongado, recuando e renovando-se como as ondas do mar, anunciou-mo antes que o avistasse e, nas notas que enchiam o espaço, reli as sábias palavras do povo: "sinal de chuva!..."

Percorre as ruas, empurrando o seu carrinho ou amparado à sua bicicleta, ansioso pela presença das donas de casa que o esperam com ofertas de trabalho, que executa por conta própria, accionando a roda de esmeril com o pé, afiando no rebordo: tesouras, facas, navalhas e outros instrumentos cortantes.

Este amolador - amola-tesouras, como se diz no Alentejo - tinha o peito curvado, denotando cansaço do peso dos anos, as barbas longas, o cabelo escondido sob um boné, o corpo magro, denunciando efeitos dos míseros proveitos do seu trabalho, os olhos fitos no chão procurando ou escondendo algo...

Faltava, atrás de si, um bando de crianças curiosas, mal vestidas e felizes, que eu via na minha infância...

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