2005-05-28

Linhas e Entrelinhas - VI

Querida Amiga*

Se eu tivesse o coração na cabeça, como você diz, seria, como o Sérgio, um fabricante de cartas. Tenho-a sempre no coração e diante dos olhos, com a sua vida, a espiritualidade e o seu sofrimento. A minha judia (a quem falei de si, e que nutre por si uma simpatia instintiva) a cada instante me ralha porque eu não lhe escrevo. Os seus chocolates, as suas saudades e as suas palavras circulam-me no corpo. Não desespere de si, Irene. Para o seu sofrimento, o remédio virá, creia; e pense que essa dor, a luta em que vive, são o germe de muita beleza que o seu espírito revela. À míngua da expressão dos longos pensamentos que lhe dedico, mando-lhe estas duas palavrinhas que não lhe dizem nem o afecto nem a admiração. (...) Com o seu temperamento, como pode supor-se vencida, amarfanhada? É a solidão, é esse meio chocolateiro, relojoeiro, de embalagem pedagógica, que lhe arrasam os nervos. (...). Abraço-a com muito carinho o seu amigo muito dedicado

Miguéis

Estou em Tervuren, ao pé de Bruxelas,
provisoriamente - Dou-lhe o endereço dum
amigo em Bruxelas.

23/Junho/30

* Irene Lisboa

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