2005-05-23

Platero e Eu (2)

Platero é pequeno,peludo,suave;tão macio,que dir-se-ia todo de algodão,que não tem ossos.Só os espelhos de azeviche dos seus olhos são duros como dois escaravelhos de cristal negro.
Deixo-o solto,e vai para o prado,e acaricia levemente com o focinho,mal as roçando,as florinhas róseas,azuis-celestes e amarelas...Chamo-o docemente: «Platero»,e ele vem até mim com um trote curto e alegre que parece rir em não sei que guizalhar ideal...
Come o que lhe dou.Gosta de tangerinas,das uvas moscatéis,todas de âmbar,dos figos roxos,com a sua cristalina gotita de mel...
É terno e mimoso como um menino,como uma menina...;mas forte e seco como de pedra.
Quando nele passo,aos domingos,pelas últimas ruelas da aldeia,os camponeses,vestidos de lavado e vagarosos,param a olhá-lo:
-Tem aço...
Tem aço.Aço e prata de luar,ao mesmo tempo.

(Juan Ramon Jiménez)

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