Fito o céu com olhos cintilantes de esperança, à espera de uma chuvada de pétalas de rosa branca - "...ao peito e tudo está bem" -, de botão-de-ouro, regando de alegria "a ocidental praia lusitana", de bocas-de-lobo multicoloridas, sussurrando desejos sorridentes e opltimistas no ser Português...
Revisito a História e a Cultura Portuguesas e detenho-me na imagem fatalista e dorida do povo português...
- A saudade, vocábulo português que não encontra tradução directa noutros idiomas, expressa um sentimento doloroso e nostálgico pelo passado que impede a vivência presente.
- O fado, canção nacional, melancólico e choroso, "fatal como o destino" sobre o qual não se tem controlo.
- A revolução cultural das " Conferências do Casino" em 1871, constituída por Antero, Eça, António Nobre, Manuel de Arrriaga e Teófilo Braga, entre outros, e a decadência de Portugal - "(...) acabaram por se impor como formando o retracto único e verdadeiro de Portugal, iniciando-se assim o calvário de um povo e de uma pátria(...) ", António Quadros.
Dizia, na época, o poeta Manuel Laranjeira:
"Às vezes, em horas de desânimo, chego a crer que esta tristeza negra nos sobe da alma aos olhos; e então tenho a impressão intolerável e louca de que em Portugal todos trazemos os olhos vestidos de luto por nós próprios.".
- A perspectiva de Miguel de Unamuno, grande amigo e conhecedor de Portugal, contemporâneo da geração dos "vencidos da vida", sobre:
* os portugueses: "constitucionalmente pessimistas; um povo triste, até quando sorri (...); gente feliz com lágrimas e orgulhosa do seu passado mas pouco confiante no futuro."
* Portugal: " (...) terra por fora risonha e branda e por dentro atormentada e trágica, terra de um povo de uma enorme tristeza e de uma resignação desesperada, para quem o sofrimento é uma forma superior de consciência, para quem o suicídio é uma paixão."
- A filosofia regeneradora da Renascença Portuguesa - Teixeira de Pascoaes, Pessoa, Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros e Amadeu Cardoso -, após o Ultimato e a queda da monarquia, contribuiu para uma nova esperança nacional.
Escrevia Unamuno a Pascoaes:
"Vocês, os da Renascença, tomaram o melhor papel e o mais patriótico, ao assumir o de Maria e não o de Marta. Acaso estão preparando e formando os formadores de amanhã."
- Nova esperança com o pós-25 de Abril, mas a contínua reprodução das marcas pessimistas e a perseguição dos fantasmas, fruto de uma realidade dura e não madura, árida e não florescente, navegações e tormentas em águas aparentemente tranquilas, barcos à deriva sem amarras, nem portos seguros...
Um encolher de ombros? Um faz de conta? Um deixa andar? Um...?
" (...)
Feliz de nada ser,
De nada desejar,
E de nada sentir,
Agradecido ao mar de nunca me acordar,
E agradecido ao céu de sempre me cobrir."
Miguel Torga
ou um...
DESPERTAR
É um pássaro, é uma rosa,
é o mar que me acorda?
Pássaro ou rosa ou mar,
tudo é ardor, tudo é amor.
Acordar é ser rosa na rosa,
canto na ave, água no mar.
Eugénio de Andrade
2005-06-11
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1 comentário:
Acordou com veia!...
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