2005-07-07

Reflexos - XLVII

A Língua

Língua viperina, logo depois da prova da maçã?
Língua de mel, antes de babel, saboreando os frutos
do paraíso? Porquê língua de sapo?
Porquê língua afiada, amolada em pedra de esmeril?
Pela língua morre o peixe. Dobre a língua - diz-se-
sugerindo reverência. Sinal de maledicência o dar à
língua?

Dar com a língua nos dentes
e não se parte a língua de encontro à muralha canina...
Na língua reside o paladar, o prazer de saborear
Dom de gostar, degustar sólidos e líquidos
vegetais, peixes e outros animais,
frutas agri-doces e sumarentas, suculentas,
Mas a língua porquê a língua? deu nome à comunicação
foi feita para falar. Dizia-se, em tempos antigos,
língua, o tradutor intérprete, o elo de ligação.
Comunicação -comunhão fazem-se através da língua.
Discretos gestos de agressão fazem-se com a língua:
deitar a língua de fora... só inocente zombaria?
Em cada dia a língua cumpre a sua missão de
sentido gustativo e órgão adjuvante do falar
Se a língua se me entaramelar, será, acaso, Senhor
porque de Sião me esqueci? E como o salmista perdi
(ou não perdi?)
a memória do teu gosto e do teu rosto?

Maria de Lourdes Belchior

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