2005-09-30

Verbo do Dia - Amor

POEMA DO AMOR

Este é o poema do amor.

Do amor tal qual se fala, do amor sem mestre.
Do amor.
Do amor.
Do amor.

Este é o poema do amor.

Do amor das fachadas dos prédios e dos recipientes do lixo.
Do amor das galinhas, dos gatos e dos cães, e de toda a espécie de bicho.
Do amor.
Do amor.
Do amor.

Este é o poema do amor.

Do amor das soleiras das portas
e das varandas que estão por cima dos números das portas
com begónias e avencas plantadas em tachos e terrinas.
Do amor das janelas sem cortinas
ou de cortinas sujas e tortas.

Este é o poema do amor.

Do amor das pedras brancas do passeio
com pedrinhas pretas a enfeitá-lo para os olhos se entreterem,
e as ervas teimosas a nascerem de permeio
e os homens de cócoras a raparem-nas e elas por outro lado a crescerem.
Do amor das cadeiras cá fora em redor das mesas
com as chávenas de café em cima e o toldo de riscas encarnadas.
Do amor das lojas abertas, com muitos fregueses e freguesas
a entrarem e a saírem, e as pessoas todas muito malcriadas.

Este é o poema doa mor.

Do amor do sol e do luar,
do frio e do calor,
das árvores e do mar,
da brisa e da tormenta,
da chuva violenta,
da luz e da cor.

Do amor do ar que circula
e varre os caminhos
e faz remoinhos
e bate no rosto e fere e estimula.
Do amor de ser distraído e pisar as pessoas graves,
do amor de amar sem lei nem compromisso,
do amor de olhar de lado como fazem as aves,
do amor de ir, e voltar, e tornar a ir, e ninguém ter nada com isso,
Do amor de tudo quanto é livre, de tudo quanto mexe e esbraceja,
que salta, que voa, que vibra e lateja.
Das fitas ao vento,
dos barcos pintados,
das frutas, dos cromos, das caixas de tintas, dos supermercados.

Este é o poema do amor.

O poema que o poeta propositadamente escreveu
só para falar de amor,
de amor.
de amor.
de amor.
Para que um dia, quando o Cérebro Electónico
contar as palavras que o poeta escreveu,
tantos que,
tantos se,
tantos lhe,
tantos tu,
tantos ela, tantos eu,
conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu
foi amor,
amor,
amor.

Este é o poema do amor.

António Gedeão.

3 comentários:

Virginia Pereira disse...

oI, cAROLINA, aURORA, aDOREI O BLOG, ADORO POESIAS, ADORO TEXTOS QUE VÊM DO CORAÇÃO. sE ME PERMITEM VOU POSTAR ALGUMA COISA NO MEU BLOG E MENCIONAR O DE VCS, COMO FAÇO COM TODOS OS AMIGOS BLOGUEIROS. mE VISITE WWW.AMORNATURAL.BLOGSPOT.COM, lá tem poesia, mas o objetivo principal é culinária, acho que podem gostar, um beijo, parabéns!!

Carolina disse...

Lá iremos Amiga Virgínia, e obrigada pela visita!!!

Carolina disse...

Virgínia: -Culinária? Que bom! A Aurora faz e dá-me sempre um bocadinho dos petiscos!!!Venham eles!!!