
Era enorme o salão.
As portas de todos os quartos abriam para aquela grande sala.
Uma mesa ao centro e vários sofás compunham a mobília.
Ela subia para um dos sofás:
"Vem por aqui! - dizem-me alguns com olhos doces
Estendendo -me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem . Vem por aqui!"
Atravessando o salão, as colegas alunas como ela do Magistério Primário em Évora, encolhiam os ombros abanavam a cabeça e murmuravam : Pirou de vez!...
Indiferente a este comentário, mais carinhoso do que reprovativo ela continuava:
"Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos..."
E passava horas declamando poemas; este e outros.
E era como se o Mundo todo atravessasse aquele salão.
Uns, seguindo por aqui.
Outros, seguindo por ali.
E ela:
"Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"
Tinha vinte e poucos anos.
Chamava- se Carolina.
(Memórias de Évora com excertos do poema Cântico Negro de José Régio.
Lar de S. José. Rua das Fontes.
No alto o Jardim Diana.
Década de 70.)
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E depois:
"Não, não vou por aí!Só vou por onde me levam meus próprios passos..."
Irei contando aos poucos!
bjs
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