2005-03-10

A gaivota

Todos os dias a gaivota saltita alegre e determinada no calçadão e poisa repousadamente no muro, observando o mundo, de olho vivo e brilhante, cogitando...
Debaixo da sua asa traz merenda para as outras gaivotas. Chama-as quando estão distraídas e distribui-lhes o pão que amorosamente amealhou...
Os seus olhos navegam por mares e mares e aportam em terras distantes ou logo ali...
Do seu bico soltam-se sorrisos para quem passa, palavras alegres, simpáticas, graciosas...
E sabe guardar silêncios carinhosos e sussurrar ais medrosos de algum cão gigante que passa...
O seu coração é um guarda-jóias que abre e fecha e com ele e com a sua imaginação voa, voa...E ecoam ritmos discretos e cantos de amor arrebatadores e persistentes de vencedora!
Lá está ela, sacudindo as asas feridas, molhadas de dor, batendo-as, desafiando o vento que só a leva para onde ela quer, dançando, desenhando palavras no céu, espalhando estrelas azuis por onde passa...

São assim,as...

AS GAIVOTAS

As gaivotas. Vão e vêm. Entram
pela pupila.
Devagar, também os barcos entram.
Por fim, o mar.
Não tardará a fadiga da alma.
De tanto olhar, tanto
olhar.
Eugénio de Andrade

1 comentário:

Anónimo disse...

Ora...ora...