2005-03-10

Palavras - X

Silêncio

A vida que não se troca por palavras
tão íntima, tão discreta, tão secreta
(tão em contradição com o dia a dia)
faço o mal que não quero e não faço o bem que desejo:
ensejo de verificar o barro de que somos feitos.
Mas afinal nesta animal aflito
interdito por às vezes trocar as voltas do caminho
Do efémero, do frágil e do passageiro pendente,
neste animal aflito, o grito
de apelo, anseio de infinito, com palavras
se exprime. Ou será no silêncio, inteiro,
que há-de guardar-se, verdadeira, a vida que se não
troca por palavras?

Maria de Lourdes Belchior, Gramática do Mundo

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