2005-04-06

Mulheres da vida

Na minha meninice, a certas mulheres, chamava- se- lhes "mulheres da vida".
Perto da rua onde eu morava com a minha avó, havia até uma casa, numa travessinha escondida, onde essas mulhres prestavam os seus serviços.
Com essa gente, não era aconselhável, ficar parado na rua a conversar.
As pessoas "recatadas" não deviam sequer olhar para tais pessoas,dedicando- lhes todavia, um disfarçado cochicho.

Pois, há poucos dias, tive o prazer de rever e conversar com uma dessas mulheres, numa tasquinha em Santiago.
Eu estava a comer quando ela entrou e me cumprimentou com muita afabilidade (conhece- me desde miúda, afinal tinhamos sido vizinhas).
- Olha a Maria Carolina, então como estás?
Convidei- a para se sentar e ali ficámos, conversando das nossas vidas, dos nossos familiares, do frio e do reumático...

Não me pareceu que aquela mulher fosse menos senhora do que qualquer das outras mulheres que passavam na rua.

Saí da tasca pensando no Jorge Amado e na sua TERESA BAPTISTA CANSADA DE GUERRA.
Foi com a leitura deste livro, há muitos anos atrás, que aprendi a respeitar essa tais "mulheres da vida" e a ter por elas simpatia.

E a quem faz, ainda hoje, distinção entre" mulheres da vida" e "senhoras", dou um conselho, leiam esse livro e digam lá:
Como "arma" de afectos não usam todas o "xibiú"?
E não é o "xibiú" que tracam quando estão em guerra?
(Assim fazia Teresa Baptista).

Nota: Xibiú, vocábulo brasileiro, lido e relido nos livros de Jorge Amado.

3 comentários:

kanuthya disse...

Belíssimo livro, justa forma de pensar.

Carolina disse...

Obrigada Kanuthia! Gostei de saber que concorda comigo!

Anónimo disse...

Conheci um menino, o Cristiano, que um dia disse à mãe que os responsáveis por haver prostitutas eram os homens!...
Eu digo que é a vida, a sociedade e que é muito fácil julgar e excluir.