A ANA DE CASTRO OSÓRIO*
Macau, 3 de Junho de 1921
Minha bondosa amiga
Escrevo esta ao largar do vapor de Hong Kong, para ser portador dela o meu amigo Sr. Raul Boaventura Real, meu antigo companheiro da maçonaria daqui - que muito deseja ser-lhe apresentado, e que eu muito estimo a minha bondosa amiga tenha ocasião de conhecer e ouvir.
Sobre os muitos assuntos que me acodem à mente em turbilhão (o que eu queria estar aí a conversar), escrever-lhe-ei ainda hoja, sem falta, uma carta tão extensa quanto a minha anemia mental o permitir.
Mas não quero deixar de agradecer-lhe, penhoradíssimo, a publicação da esquecida Clepsidra, e os cuidados da disposição (que é como eu próprio a faria) e da ortografia.
Igualmente me cativou a notícia da conferência feita pelo João, que tão meu amigo é e cujo fino e equilibardo talento eu tanto aprecio. Não haveria meio de eu a poder ler?
Acredite que foi das mais doces comoções da minha vida e da minha surpresa, ao ver assim evocada a carinhada diante dos meus próprios olhos a minha pobre alma - há tantos anos morta...
Muitas saudades para todos; e, por tudo, lhe beijo reconhecido a mão.
Camilo Pessanha
P.S. - Seria uma iniquidade pedir-lhe que me escrevesse; mas, quando houver jornais, continuo a pedir-lhe que não se esqueça de me mandar um ou outro, de vez em qaundo - e que eu reconheça no endereço a sua letra. É também para mim uma doce evocação familiar.
* Escritora e pedagoga portuguesa (1872-1935), natural de Mangualde, fundadora da literatura infantil em Portugal.
2005-08-17
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