2005-10-27

Afinal...

Afinal este vento traz água no bico!

"Passou- se um dia sem que a chuva descesse. Nos juntámos na varanda interrogando os céus. Sob o alpendre fazia muito silêncio. Meu avô, no assento de balanço, chefiava a vigília.
Ao lado, a cadeira sagrada de sua falecida esposa, nossa avó Ntoweni. Desde que ela morrera, o assento nunca mais fora ocupado por ninguém.

E agora ali estávamos nós, calados, incapazes de raciocínio e com medo de entender. Por fim, meu avô ousou falar.

- Essa chuva traz água no bico.

Foi de repente, meu pai se ergueu e anunciou o pensamento: havia que bater naquela água, forçá- la a tombar. Deu uns passos por diante e, e num gesto largo, comandou:

- Tudo a remexer!

Saímos todos com pás, vassouras e panos. Todos menos o avô que mal se erguia sozinho. E varremos o ar, socando as gotas como se agredíssemos fantasmas. "

(Do livro A CHUVA PASMADA de Mia Couto)

E eu digo: - Se calhar foi por isso que choveu...

Sem comentários: