2007-04-25

Memórias

Alvalade do Sado! Faz hoje 33 anos!
Levantámo-nos às 7 da manhã como habitualmente. A Escola começava às 8h.
De repente a D. Luzia, dona da casa onde morávamos (eu e a minha colega Ana Maria), apareceu na sala meio estremunhada, meio apreensiva: "Senhoras, na telefonia diz que houve uma revolução e que devemos permanecer em casa. As escolas estão fechadas!"
Um nervoso miudinho tomou conta de nós. Passámos a manhã com o ouvido colado na dita telefonia.
Não me recordo já como foi, mas penso que no dia seguinte fomos trabalhar.
A população de Alvalade estava eufórica como de resto todo o País.
Nós também eufóricas!
E começou a "operação limpeza"!
"Limparam-se" duas ou três fábricas que havia na terra.
E falava-se que se iria também limpar a Escola.
Eu e as minhas colegas aguardávamos a "vassoura", confesso que sem grande temor pois tínhamos cá uma fé, que nada nos iria acontecer porque fazíamos falta. Quem tomaria conta dos filhos daquela gente?
Uma noite houve uma reunião "muito assanhada" na escola. De repente ouço uma voz de homem (o Sr. Romão, pai de um aluno meu) :
"Como algumas professoras que em vez de ensinar os moços, os mandam dar uma voltinha a correr em volta da escola para acalmarem!"
Santo Deus, ele não nomeou ninguém mas a visada era Eu! Fiquei mais "caladinha que um rato!..." Eu, acabadinha de sair do Magistério, cheia de ideais pedagógicos, onde se aplicava normas como :
«Se um aluno estiver muito inquieto e desatento, em vez de lhe ralhar, deixemo-lo ir dar uma voltinha no pátio e voltará com mais calma e disponibilidade para aprender.»
Era esta norma pedagógica que eu aplicava ao meu aluno Francisco Romão. Era um garoto de 7 anos, verdadeiro pardal sempre à solta pelos campos, e que agora na escola era obrigado a estar "engaiolado" cinco horas. E digo-vos que a voltinha resultava e era pedagógicamente muito correcta!
Mas... (acobardei-me) e nunca mais me atrevi!
O 25 de Abril não tinha chegado para todos!
O meu aluno nunca se deve ter apercebido porque razão, apartir daquela reunião na Escola a sua LIBERDADE foi afectada e os seus passeiozinhos pelo recreio foram cancelados.
Para ele o 25 de Abril não foi naquela data!
Fiquei sempre com este "remorso"!
Quem sabe se fosse hoje, eu não seria mais corajosa capaz de enfrentar "as massas" e defender os meus pontos de vista em relação à pedagogia e aos interesses dos meus alunos?!

10 comentários:

Anónimo disse...

Ola Amiga Carolina, palavra que me custa acreditar, nem parece teu ( mas todas temos "pedritas" no sapato)Decerto que este teu aluno percebeu e hoje por tu teres sido professora dele deve ser Um excelente Homem.Beijos e um bom Feriado para ti silvana ramosd sapage

lami disse...

Se há coisas que a idade e a experiência nos trazem sem dúvida são a força e coragem de defendermos aquilo em que acreditamos. Carolina, a maior parte de nós faria o mesmo, no ínicio de uma profissão tão exposta e que tem de lidar com tanta gente e mil situações. É assustador para a nossa inexperiência e juventude! Hoje parece-nos uma certa cobardia, mas somos já outras pessoas e outra época e ainda bem!

Carolina disse...

Pois, acho que estou perdoada. Lembro-me que quatro anos depois (estive seis em Alvade), um dia um polícia me entrou pela sala para levar um aluno contra o qual alguém tinha feito uma queixa.
Aí, defendi o aluno como uma leoa, escorracei o polícia que estupefacto não teve outro remédio a não ser ir embora completamente aturdido com tal fúria!
Hoje, os Meninos "pintam o caneco" e ninguém toma providências. Naquele tempo ao mínimo deslize lá ia a polícia "resolver o assunto".
Tramaram-se comigo e olhem que nessa altura ainda eu não usava bengala...

Anónimo disse...

Olá Carolina
Palavra que não consigo imaginar a cena.....Adorava ter sido uma "mosquinha" tal o susto que esse policia apanhou....ahahaha
Decerto, este policia jamais te esquecera......beijos silvana ramos sapage

Jelicopedres disse...

Também apanhaste um "susto", não Carolina!?
Afinal por um, ou outro motivo a preocupação era geral e todos passaram o dia de ouvido "colado" na telefonia...
Mas correu tudo da melhor maneira!
:))))

O céu da Céu disse...

É tão bom recordar...Passaram-se 33 anos...Sabes onde estava a 25 de Abril de 1974? Numa escolinha no campo,longe do bulício e das notícias...quando à hora do almoço,regressava a casa fui surpreendida por uma patrulha da GNR...mandou-me parar,fez-me uma série de perguntas e mandou-me para Sines e que ouvisse as notícias...e tinha um bebé lindo com dois meses deitado na alcofinha ,no banco de trás...o filho que nasceu no ano da Revolução,o Tiago.

Anónimo disse...

Olá Carolina
Hoje e ontem reguei uma papoila que é tua ,só tua e que esta num terreno na mha Aldeia....È só tua....
beijos (Para não dar nas vistas levo um frasquinho disfarçadito com àgua de manhã só para ela)para a papoila da minha amiga Carolina
beijos silvana ramos sapage ( Não vale, chamarem-me maluca que eu ja sei que sou....ahahahaha) Fiz -te rir?????Sorrir ??????

Carolina disse...

Tá, muito obrigada pela papoila!

Anónimo disse...

Pois minhas amigas já lá vão 33 anos, como o tempo passa !!!
Eu nesse dia estava em casa, em Moçambique, ( Nacala ) não vou recordar mais nada, porque apartir desse dia foi tudo muito complicado, bj :)))

Carolina disse...

Calculo que deve ter sido! É verdade!