
Quinta-Nova.
Quinta-Nova do Ti Zé do Brito e da Ti Luísa que distava meio quilómetro, dos Mariais, monte onde eu vivia com a minha avó.
No nosso "monte" havia uma telefonia, que trabalhava com uma bateria, visto que a electricidade ainda lá não tinha chegado. A bateria, essa, tinha que ser muito poupada e só se ligava o aparelho naquela "hora sagrada".
14 H e 30 m, "Teatro Tide" apresenta o romance... "SIMPLESMENTE, MARIA!
Quinze minutos antes chegava a vizinhança. E lá vinha a nossa vizinha Ti Luísa da Quinta-Nova, mais a vizinha Graça, ouvir o "romance".
Sentavam-se as duas com a minha avó (provavelmente, eu também), mesmo em frente da telefonia, olhos postos no aparelho, não fosse escapar alguma das cenas (nesse tempo cenas, apenas auditivas...claro!)
Lembro-me de pensar: Um dia ainda alguém vai inventar uma caixinha destas, onde se possam ver as pessoas! (Poucos anos depois surgia a televisão).
E durante meia-hora era a concentração total. Às vezes chorava-se, vivendo-se intensamente o drama que se desenrolava dentro da caixinha!
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Hoje também temos vizinhos, e rádios e televisões (às vezes duas ou três). Mas já não nos juntamos!
Encontramo-nos nos elevadores, quase nem sabemos o nome uns dos outros e trocamos frases banais, durante os escassos segundos que demoramos a chegar ao rés-do-chão.
Felicito daqui os bem-aventurados que ainda têm vizinhos a sério, daqueles que em conjunto viviam connosco as nossas alegrias e as nossas tristezas!
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Aproveito para saudar, daqui, os meus vizinhos pois, apesar de só nos vermos nos elevadores, considero-os gente muito simpática!
Coisas dos tempos de hoje! Tão perto uns dos outros e tão longe afinal!...