
A MINHA AVÓ PALMINHA
Fez este mês dois anos que morreu o 3º e último filho da minha avó Maria Palminha.
Claro que a minha avó já morreu há muitos anos.
Tinha três filhos homens: o José Francisco (meu pai), o Zeferino e o Francisco José .
Este seu filho, o mais novo, foi no "tempo da mãe", uma espécie de "dona de casa".
É que a minha avó deixou de fazer a lida da casa quando tinha cinquenta e tal anos.
Não tinha "trambelho" para nada, diziam os "entendidos"...
Hoje, diríamos que sofria de um esgotamento, de uma depressão ou, se calhar, de stress...
Mas, naquele tempo, não havia contemplações para estes "males"!
Na verdade, uma grande inquietação dominava a minha avó.
Perdera a faculdade de dormir, e deambulava noites inteiras pela vila( Santiago), de rua em rua, visitando familiares, amigos e conhecidos.
Muitas vezes nos entrou pela porta dentro às 3 ou 4 horas da manhã. Deitava- se um pouco nas nossas camas mas, logo se levantava dizendo: - Não consigo dormir! ( E lá ia ela bater a outra porta).
Toda a gente a conhecia, a estimava e lhe dava agasalho nocturno!
O seu "grande inimigo" era o médico!...
Sempre a ouvi descompor o médico.
Se lhe receitava calmantes ela dizia-lhe: -"Bardamerda", senhor doutor, você quer é matar- me!
Se não receitava nada: - Raios o partam, senhor doutor, não me receita nada. Quer que eu morra?
O médico sorria, cheio de paciência e nunca "lhe levava a mal" !
Era uma mulher muito generosa, que andava sempre com moedas no bolso, para distribuir pelos netos. Cumprimentava-nos com aperto de mão e na nossa (mão) deixava sempre uma moeda.
Era um segredo nosso! (Às escondidas do meu avô que fingia não saber...)
Pois agora, minha avó Maria Palminha, já te podes reunir com os teus três filhos.
Estou certa que lá nos céus, haverá como na tua casa, uma grande lareira onde fumegava sempre uma cafeteira de barro com chá de "bela- luísa".
Sentam- se por lá em banquinhos de nuvem, bebendo uma "chazada" e pondo a conversa em dia.
Claro que o meu avô estará, a ouvir "à socapa" a Rádio Moscovo. ( Não deve ter perdido o hábito).
E o meu tio Chico, no fim do serão, irá lavar as canecas, como sempre fazia. (É que eu duvido muito que a minha avó tenha voltado a interessar-se pelas lides caseiras...nem mesmo que elas sejam celestiais!
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( Dedico-te esta música onde ouvirás a voz da tua bisneta. Tenho a certeza de que vocês gostariam de se ter conhecido).
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(Publicado nas Sardinheiras em Outubro de 2006)