2005-02-28

LEITURAS 1

"Graças ao relativismo ético,a nossa sociedade renunciou à sua função educativa.A família não educa, a escola não educa, o contexto civil não educa.
De facto educar significa conduzir, apontar um caminho, mas, para isso, haveria que saber o rumo a seguir.Como se pode apontar um caminho, se a vida é um vaguear sem destino, se não há limites a respeitar, horizontes a atingir?
Portanto,mais vale confiar no acaso, a bondade natural do ser humano fará o seu papel e do resto tratarão os acontecimentos com que iremos deparar, que nunca serão bons, nem maus e de que, além do mais, não serão minimamente responsáveis.
A tarefa principal dos pais modernos parece ser apenas a de não criarem obstáculos (que poderiam provocar traumas incuráveis), não estabelecerem limites (para não correrem o risco de cortar as asas à natural criatividade infantil).Pensa-se que será a sabedoria inata da criança a fazê-la escolher o caminho que a levará a realizar-se da melhor forma.
Há um belíssimo provérbio africano que diz: «Para se educar uma criança, é preciso uma aldeia inteira.»
E é mesmo assim, precisa-se da variedade e da diversidade das releções e, ao mesmo tempo, da coesão de uma comunidade que respeita e faz respeitar as suas leis.
Talvez seja por isso que a acanhada família mononuclear, apesar de todos os seus cuidados e subtilezas pedagógicas, gera, na maior parte dos casos, crianças eternas, capazes de conjugar até ao infinito um único e importuno verbo: «EU QUERO». "

Do livro de Susana Tamaro «cada palavra é uma semente» (assim mesmo com minúsculas)

BRRR....

Está um frio dum raio!!!!

Nuvens

As nuvens espreguiçam-se e as lágrimas do canto dos seus olhos rebolam sobre a terra numa carícia suave e fugaz , e ela, sequiosa, aguarda triste, saudosa e silenciosamente o ímpeto arrebatador das suas águas, a simbiose ardente, jubilosa e fecunda, presente benfazejo para os homens e para a vida.

Palavras -IV

PALAVRAS

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio,
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade

2005-02-27

HIBERNAÇÃO

Afinal talvez me apeteça este dia!
No ouvido: Chopin
No olhar: gaivotas
No tacto: um livro (Os Olhos Do Homem Que Choram No Rio)
No paladar: chá e torradas
Quanto aos aromas:(inventam-se) talvez...um jardim de sardinheiras!
Mas o pensamento vagueia pelo livro...aquela Menina do Nenúfar... tão bonita, tão leve, tão etérea, ñ se chamará RAFAELA?

DOCE ARROZ!!!

Cremoso!
Cheiroso!
Saboroso!
Nada como um arroz-doce feito em tacho-pega-fundo!
Qual tacho novo!!!...
Ñ chega já a cafeteira para o chá e as duas facas lipo lanceta???
Ñ há orçamento que chegue!
Ou pensam que professora reformada é mina????

CHUVA!!!

Toda a noite choveu de mansinho.
Por isso, a Terra amanheceu dengosa e espreguiçadeira!
E, sacudindo os cabelos do dia, murmurejou entre dois salpicos:
-JÁ NÃO ERA SEM TEMPO!!!

Alumínio ou prata do povo?

Viva o tradicional tachinho de alúmínio, que honrou a cozinha dos nossos pais e avós e que nós queremos de volta para preparar um delicioso arrozinho doce, que para concretização de um sonho amigo, deverá ser servido numa travessa de barro do Redondo, sobrevivente, com "gatos"...
E combinará muito bem com a tal cafeteira para o chá!...
Bom apetite!

Palavras - III

NEOLOGISMOS

Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento Palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais quotidiana
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar
Intransitivo:
Teadoro. Teadora.
Manuel Bandeira

Sil�ncios...

H� sil�ncio de comunh�o consigo pr�prio, com a natureza, com a vida, com o outro, com Deus, de eleva��o interior, espiritual, promotor da paz!
H� sil�ncio inteligente, arma para combater o conflito.
H� sil�ncio c�mplice de amantes.
H� sil�ncio de mudos medrosos.
H� sil�ncio de quem preparar alguma coisa.
H� sil�ncio que n�o cumprimenta, nem agradece.
H� sil�ncio impositor de ordem.
E h� chilreios amorosos, insistentes e desafiadores que quebram sil�ncios dolorosamente in�teis!...

Chove!

A chuva beija a terra sedenta e o vento estonteado apanha gotas aqui e ali, bate às janelas, salpica de sorrisos os rostos tristes, acaricia as flores, afasta-a dos que andam perdidos na rua...

AS PRIMEIRAS CHUVAS

As primeiras chuvas estavam tão perto
de ser música
que esquecemos que o verão acabara:
uma súbita alegria,
súbita e bárbara, subia e coroava
a terra de água,
e deus, que tanto demorara,
ardia no coração da palavra.
Eugénio de Andrade

Às? Ás? Quantos há? E o à? Ah!

Quer saber?
Eles andam por aqui; é só procurá-los nos exemplos...E o segredo está no acento...Tome assento e veja como lhes assenta bem...
- Quando eu era pequena e jogava às cartas com o meu avô, não sabia qual era o ás, mas ganhava-lhe ao "burro em pé"...
- Preciso de contratar um monitor desportivo, mas tem de ser um ás.
- O " ti Sabastião" deu "dinhêro" à "ti Engraiça" para ela ir às compras - " Atão pôji"!

2005-02-26

Engomadeiras

Eu tenho umas amigas que são umas verdadeiras conhecedoras da "arte" de engomar e que muito se têm esforçado para me ensinar algumas ténicas, mas que ainda não consegui aprender...
1º Passar a ferro sentada;
2º Engomar apenas os punhos, o colarinho e o interior de um V das partes da frente das camisas dos homens, somente o que o decote das camisolas em bico mostre;
3.º Passar a ferro sem ele, após a lavagem, antes de estender a roupa, sacudindo, esticando para cima, para baixo, para os lados...
Alguém tem mais alguma proposta?

Candura...

Rosto de maçã rosada com olhinhos de castanha cintilantes e dois bagos de romã que se estendem para me beijar e donde se soltam palavras simples como: "o meu nome", que mãos puras de criança desenham numa folha de papel seguido do diminutivo, enquanto bebe o conselho maternal de mão retribuir os nomes que os meninos lhe chamam na escolinha, mas responder simplesmente: És tu!"...

Palavras - II

" As palavras não fazem o homem compreender, é preciso fazer-se homem para entender as palavras."
Herberto Helder

UF!!!.... Até que enfim!....

Finalmente no Jardim das Sardinheiras!!!

2005-02-25

Magia

É o teatro: A magia que descobre
O rosto que a cara do homem encobre
Natália Correia

Palavras - I

"Há palavras alegres e há palavras
trites. E essa tristeza ou essa alegria
umas vezes está nelas, outras no
modo de as dizer."
Sebastião da Gama

2005-02-23

Elevador...

Os elevadores já não são o que eram, por isso, hoje resisti ao prazer de subir por uns estreitos degraus de mármore até ao quarto andar para entrar num elevador de outros tempos, com portas duplas, daquelas em que, se nos esquecermos de puxar as internas, de fole metálico rendilhado, ele não nos transporta e perdemos "as vistas"...
Antes, porém, detive-me a observá-lo, encantada, mas sobretudo agradecida, porque um dia acolheu alguém especial e permitiu que, corajosamente, chegasse àquele andar, apesar de o esforço por ter de mudar de cadeira!...
Parabéns pela tua força e pelo sorriso que esboçaste nesta escalada...E pelo que merecidamente conquistaste!

Papo-seco e...troco

"Ofereceram-me",imaginem, um papo-seco (12 cêntimos) e o troco (1 cêntimo) por cada dia de trabalho...É modesto, mas acresce o subsídio de alimentação...
O pior é que eu prefiro um naco de pão alentejano...
Faço dieta? Fico a papo-seco e laranja? Ah! E com o troco!...
E a minha colega que afirma que uma carcaça custa 15 cêntimos?!...

2005-02-22

Cenário...

Entardecer do dia 21 de Fevereiro de 2005

Mar do Norte crispado, escurecido de raiva, espumando aqui e ali...
Céu manchado de nuvens espessas, lutando com o sol que insistia em esboçar um afectuoso sorriso sobre o mar para acalmá-lo...
Praia com tons menos fortes, areia espelhada, céu mais despido, sopros do Santo que lhe dá o seu nome ...
Duas amigas "piquenicam" dentro de uma caixa de metal com sapatos de borracha, pão mole - uma perdição! - com queijo, ambos cortados com um pequeno canivete, indispensável na algibeira ou saco de qualquer alentejano(a) que se preze, sobre duas toalhas transparentes, feitas de plástico, que vão recolhendo as migalhas...
A mais nova aponta para o céu onde o sol corajoso irrompe pelas nuvens, saudando-as, enquanto a amiga fala sobre uma nova história de Brancas de Neve, em que quem está adormecido são os príncipes...
Talvez também por isto, ela tenha dito, dias antes, que não queria ser príncipe, que príncipe, só em chá...

2005-02-20

O Inverno!



A Gota de Chuva

Sou uma gota
caindo do céu
onde irei parar
isso não sei eu.
................

..........
..........
Vou num rodopio
gota pequenina.
Talvez que ao soprar,
o vento me leve
ao jardim
da Carolina!

Chegado o Inverno,
os meninos gostam
da chuva
ca
in
do…
Chapinham
nas poças,
sorrindo…
sorrindo!

(A minha afilhada Carolina pediu um poema que falasse do Inverno e eu fiz.)




Faz anos...

Faz hoje 85 anos que faleceu, em Lisboa, Jacinta Marto, a pastorinha de Fátima beatificada em 13 de Maio de 2000 com seu irmão Francisco, pelo Papa João Paulo II, tendo sido fixada a sua festa para 20 de Fevereiro.
Nasceu no dia 11 de Março de 1910.
Era espontânea, comunicativa, sensível, doce, afectuosa, alegre...
Gostava de fazer grinaldas de flores, de cordeiros completamente brancos, de ver o pô-do-sol, o céu estrelado, de dançar, de aprender...
Amuava por pequenas coisas e sabia impor-se...
Foi ela quem pronunciou:
" Ai que bonita Senhora!...Ai que Senhora tão bonita!";
" Vês?! Não devemos ter medo de nada! Aquela Senhora ajuda-nos sempre. É tão nossa amiga!";

Despertar...

Os chilreios dos pássaros entram alegres pela janela, anunciando o dourado do sol que vai dando cor ao dia...
Os cães ouvem-nos em silêncio; só há pouco, um ou outro os desafiou, timidamente, em desgarrada...
O ar fresco perde-se no aroma quente do chá que de ervas diversas que se desprende da minha chocolateira escarlate...
Bom dia, Portugal!

Pé de salsa

Ontem à tarde, acocorada como se estivesse gozando os deleitosos prazeres de uma espreguiçadeira, colhi pés de salsa, ao mesmo tempo que regava a minha imaginação com tachos sobre uma bancada e a preparação de uma refeição interrompida por um salto à horta para apanhá-los na quantidade e hora certas ... - deve ser bom!
À noite, um ligeiro picadinho de salsa decorou e apaladou o bacalhau à Brás, servido não digo a que horas...
As minhas mãos não trouxeram a beleza de três malmequeres amarelos, "oferecidos" sem conhecimento do jardinheiro, mas o aroma fresco da hortelã, que suscitou o apetite de um chá e a preparação de uma sopa de grão...
Obrigada, Manos, por continuarem a pôr-nos a mesa!

Informações, ou talvez não...
A salsa é a erva aromática mais utilizada na culinária em todo o mundo.
As espécies de hortelã mais usadas entre nós são:
- a mentha viridis - hortelã -, que aromaiza sopas e pratos de carne;
- a mentha pulegium - poejo -, utilizada na cozinha alentejana, em sopas de queijo e na açorda, substituindo o coentro;
- a mentha piperita - hortelã-pimenta-, donde se extrai o mentol.

2005-02-18

Nosso?

Nosso é o Mar. Nosso e renosso.
Pla dor, pla teimosia, pela esperança.
Nosso até onde a vista o não alcança.
Nosso até onde é nosso o que for nosso.
(...)
Sebastião da Gama

2005-02-17

Momentos...

Há momentos tristes, floridos, regados com lágrimas, pincelados de recordações, envoltos de solidariedade...
Quatro mulheres: duas em que já afloravam os cabelos brancos, uns naturais, de pequenos caracóis, outros escondidos, castanhos desbotados, lisos; as outras, rostos claros, belos, transparentes, serenos, esboçandos sorrisos tímidos...
Dois nomes, significando respectivamente: "amanhecer, oriente, o princípio" e "jovem, moço", representados por pares, um de cada geração...
Laços: uma mãe, das duas flores a desabrochar, com o nome de uma delas, simbolizando a jovialidade; uma amiga, simplesmente, de ontem, de hoje, de sempre...
Recusaram, graciosamente, a entrada no quarteto de um Jorge, irmão e tio, que só poderia ser admitido, com outro Jorge, seu sobrinho, ou trazendo o seu filho Ricardo com o sobrinho do mesmo nome, ou o "Sol" da irmã e da filha, sua sobrinha, minha afilhada...

2005-02-16

Cafeteira?!...

"Linda e leve cafeteira de alumínio" - descrição da substituta do púcaro e do panelão do chá de cace...lá se vai a tradição!
Será uma arrojada chocolateira? Ou um cafeteiro em português do Brasil? (ficaria muito mais bem servida!)
E porque não comprou uma chaleira? Talvez conheça a designação em giria e ...

2005-02-15

Chá de "Cace"

Eu tenho uma amiga que gosta de servir chá num "bruto" púcaro de esmalte branco e amarelo, que vai assimilando no seu interior o tom das "ervas", a que ela ousa apelidar de "encardido", para justificar colocá-lo na máquina de lavar louça e substituí-lo por um vistoso panelão do mesmo material, ostentando a sua tampa amarela.
Muito divertida com a sua originalidade e recusando a aquisiçãoda tradicional cafeteira, que duas amigas insistentemente lhe propunham, pareceu assustada quando se apercebeu de que seria mais difícil encher as canecas, o que agilmente resolvi, recorrendo ao"cace" - caceta, em bom português, ou concha de sopa.
" Como é que não me lembrei disto há mais tempo?!..." - não parou de retorquir, indignada, enquanto durou o chá e S. Valentim com os Pires, numa mesa "bem posta "de pão fresco (prefiro mole), queijos diversos, linguiça, geleia, bolos... e muita alegria!
- "Pois agora é que não compro a cafeteira!"...

2005-02-14

O segredo...

" O segredo é amar..."

-"Tens muito que fazer?
-Não. Tenho muito que amar"
Sebastião da Gama