
Quando eu era miúda, se alguma galinha aparecia estrangulada no galinheiro, dizia-se que durante a noite, tinha lá ido um zorra.
Mais tarde, eu soube que uma zorra era o mesmo que uma raposa.
Acontece que, em frente da casa onde eu morava com a minha avó, havia uma mercearia muito antiga, daquelas onde os cheiros a café, petróleo, pão fresco, sabão amarelo, (e sei lá que mais...) se misturavam num odor inesquecível que associamos à nossa infância e às lojinhas onde íamos buscar o que as nossa mães ou avós mandavam.
E assim era a loja das nossas vizinhas Zorrinhas, duas irmãs já velhotas que tinham (vá-se lá saber porquê), este nome.
E lá íamos nós comprar: meia quarta de café, um litro de feijão, meio litro de petróleo e às vezes dois rebuçadinhos que custavam um tostão. A Dulce do Carmo, minha querida amiga de infância, contou-me no domingo que ia buscar bacalhau. No caminho ia comendo pedacinhos "do dito cujo"deixando as postas de bacalhau todas "ratadas". Ao chegar a casa levava um estalo da mãe.
Recordámos com alegria e emoção histórias como esta da nossa infância. Rimos de modo a ouvir-se de longe e o pessoal no restaurante pasmava de ver duas senhoras (nós, apesar de não parecer), rir até às lágrimas como duas tontas.
Amigos que estais lendo este texto, digo-vos que recordo as senhoras Zorrinhas como duas simpáticas senhoras de xailinho nas costas e um um penteado de carrapito. Mas, por mais que tente não consigo dar-lhes outro rosto que não seja o de duas raposinhas, sorridentes e matreirinhas.