2005-10-31

Psssst!...

Durmam bem!!!!...
(Hoje não tive vagar para "bloguices").

2005-10-30

e...

...devagarinho, pé ante pé, lá se vai o Domingo!

2005-10-29

Memórias...

Lá fora há sementes tuas
sob o vento das ruas

Caminha a noite tão leve
tão leve
que tu és a sua transparência

Impossíveis fosforescências
acordam os teus sentidos
em mim

Fogos fátuos tristonhos
únicos, tão nítidos
nem choram

Derramam a sua voz de luzes
imperceptíveis
silenciosos

Com medo
que desapareças

(Do amigo E. L. , a quem não posso pedir autorização e a quem peço desculpa pela ousadia de publicar este poema).

2005-10-28

ternas alquimias

nas rotas do teu corpo
cumprem- se traços de gazela
escultura irreal
como irreal
é a cidade que te habita
talhada a golpes de maço
com a delicadeza de quem esculpe libélulas transparências
arranha- céus frágeis que baloiçam firmes ao vento
soltos à nortada de um suspiro
um respirar nocturno
e nas montras iluminadas viajam formas fugidias
fadas e monstros
duendes em transe
poção de druida
velho mago inspirado
que lança palavras secretas
ao poço de um último poema
em gestos voláteis
de ternas alquimias

(Do CD "ternas alquimias" de Jorge Casimiro)

2005-10-27

Afinal...

Afinal este vento traz água no bico!

"Passou- se um dia sem que a chuva descesse. Nos juntámos na varanda interrogando os céus. Sob o alpendre fazia muito silêncio. Meu avô, no assento de balanço, chefiava a vigília.
Ao lado, a cadeira sagrada de sua falecida esposa, nossa avó Ntoweni. Desde que ela morrera, o assento nunca mais fora ocupado por ninguém.

E agora ali estávamos nós, calados, incapazes de raciocínio e com medo de entender. Por fim, meu avô ousou falar.

- Essa chuva traz água no bico.

Foi de repente, meu pai se ergueu e anunciou o pensamento: havia que bater naquela água, forçá- la a tombar. Deu uns passos por diante e, e num gesto largo, comandou:

- Tudo a remexer!

Saímos todos com pás, vassouras e panos. Todos menos o avô que mal se erguia sozinho. E varremos o ar, socando as gotas como se agredíssemos fantasmas. "

(Do livro A CHUVA PASMADA de Mia Couto)

E eu digo: - Se calhar foi por isso que choveu...

2005-10-26

Dança matinal!

O céu hoje está "coalhado" delas!
Milhares!
Bailam em círculos de voos acrobáticos, ao som duma música que só elas ouvem.
Nem precisam bater asas!
O ventinho que sopra de sudoeste, dá- lhes o ritmo e a leveza.
Chegam em Setembro e vão ficar até à Primavera.
São as gaivotas!!!

2005-10-24

Barquinhos...

Lá voltam apressados.
Doze pequenos barquinhos apressam- se, regressando da faina.
Um deles, o mais pequeno, pintado de vermelho pertence ao Ti Artur.
Todos os dias, por volta das dez e meia, chega ao canto direito da praia.
Descarrega o seu "baldinho" de peixe que pousa na areia.
Depois, com uma corda (tipo roldana), vai puxando e o pequeno barco sozinho entra de novo na água onde o fica esperando até à madrugada seguinte.
Pega no balde, sobe a rua da Restinguinha e vem vender o seu peixe a clientes que certamento já o esperam algures.
É assim todos os dias!
Não sei a que horas da madrugada parte para o mar mas, se soubesse punha-me à janela e cantava- lhe:

Parte parte ó pescador
vai à pesca da sardinha
louvado seja o Senhor
que leva a tua barquinha

Quero bem ao vento norte
que me faz andar à vela
quero bem ao vento sul
que me leva à minha terra

la la la la ra la la la...............

2005-10-23

Mário...

Lá ia ele, o senhor Mário...
Vale a pena conhecê- lo e cumprimentá- lo!

(Se vos interessar saber quem é, vejam o meu texto de 14 de Abril de 2005).

Para vocês um Domingo soalheiro!

2005-10-22

Janelas...

... são Mundos!
O que a vista não abarca
abarca a imaginação!...

(Resposta ao 1º comentário de ontem)

2005-10-21

Nampula


Nampula é nome de terra.
Nampula é um nome bonito, como bonitos são quase todos os nomes de Moçambique.
Nampula, Nacala, Malema, Inhambane, Quelimane, Quissanga, Mandimba...
São nomes que têm musicalidade e ritmos de "marrabenta"; têm a cor dos poentes de "África Minha"; têm o cheiro do tabaco e o sabor do cajú!
Nampula é nome de terra.
Nampula é nome de gente.
Nampula é nome D'AMIGO!!!

2005-10-20

A todos...

...os Amigos.
Aos mais antigos e aos mais recentes desejo :
Uma aconchegante e pacífica noite!

2005-10-18

O Sol!

Num turbilhão de amarelos
entre montanhas de nuvens
esgueirando- se entre dois petroleiros
lá se deitou(preguiçosamente)
num mar de chumbo!

2005-10-16

Mistérios da noite

Duas horas da madrugada.
Acordei sobressaltada com o ruído de um veículo que passava na rua.
Depois, gritos. Gritos aflitivos.
Acidente? Choque entre carros? Alguém teria sido atropelado e abandonado na estrada?
Enquanto vestia o robe para ir à janela, os gritos continuavam e pensei que talvez fosse caso para telefonar para os bombeiros. (Não o fiz sem primeiro ir ver o que se passava.)
Abri a janela; dois guardas passavam na rua e um deles atendia um telemóvel.
Os gritos tinham parado.
Inesperadamente uma voz límpida começou a cantar.
Não sei de que lado vinha.
Não sei se era homem ou mulher.
Mas, era um belo e impressionante canto cigano ou, talvez árabe!...
Ouviu- se durante dois ou três minutos.
Depois o silêncio.
(Foi tudo tão estranho, que eu só tenho a certeza de que não sonhei, porque o robe ficou aqui na sala fora do seu lugar habitual.)
Mistérios da noite...
A lua, se falasse, ter-me- ia esclarecido.
Mas, não; desenleando- se das nuvens, indiferente a gritos ou cantes, espanejava- se prazeirosamente na baía.

2005-10-14

Lusco- fusco!

Era Setembro.
A maré estava assim. Vazia.
Um homem caminhava deixando atrás de si, os passos desenhados no areal deserto.
Conhecemo- nos.
Era alemão.
Durante oito dias ele ficou por ali.
Conversámos numa mistura de inglês, francês, espanhol e sei lá mais o quê.
Rimos.
Embebedámo- nos.
Tivemos insónias.
Lembro o seu último gesto. Um copo de vinho, erguido em jeito de saudação ou despedida.
Os anos passaram. Muitos!
Nem lembro o nome do homem.
Mas os seus passos estão muitas vezes lá!
Hoje estavam.
Desenhados, vivos, nítidos, apesar do lusco- fusco.
Não há maré cheia que os apague de vez.
Ao longe, as luzes de Sines acendem- se.
Em jeito de saudação ergo um imaginário copo de vinho...

vou...

Vou ali beber um cafezito e já volto!

2005-10-13

Sonho alheio...

Acuso- te, realidade
desta noite longa
a estender- se de estrelas
até o frio do espanto.

Acuso- te de seres um sonho alheio
que não cabe no meu canto.

( J. Gomes Ferreira)

DESPEDIDA

Colhe
todo o oiro do dia
na haste mais alta
da melancolia.

Eugénio de Andrade

Linhas e Entrelinhas - XXII

AO EDUARDO LOURENÇO,
NA FLOR DA IDADE

Era bonita mas tão provinciana
a cidade. Dos seus muros pasmados
a luz fina caía preguiçosa
nas areias do rio. Mas o resto
era vulgaridade e sonolência.
Só as árvores não eram vulgares:
de tão formosas, tornavam o céu
de cristal, como se o verão fora
imortal entre plátanos e choupos.
Ali nos encontrámos certo dia,
éramos jovens e mais jovens que nós
era a poesia que nos acompanhava.
Holderlin, Keats, Pessanha, Pessoa
eram então - e não o serão ainda? -
os nosso amigos. O mais, gente ideias
costumes, tudo tinha o mesmo cheiro
de caserna aliada a sacristia.
Dessa cidade em nós nada ficou.
De nós, que ficará nessa cidade?

21.10.83

Eugénio de Andrade

Verbo do Dia - Chuva

CASA DA CHUVA

A chuva, outra vez a chuva sobre as oliveiras.
Não sei por que voltou esta tarde
se a minha mãe já se foi embora,
já não vem à varanda para a ver cair,
já não levanta os olhos da costura
para perguntar: Ouves?
Oiço, mãe, é outra vez a chuva,
a chuva sobre o teu rosto.

Eugénio de Andrade

Faúlhas de Cupido

ADEUS

Como se houvesse uma tempestade
escurecendo os teus cabelos,
ou se preferes, a minha boca nos teus olhos,
carregada de flor e dos teus dedos;
como se houvesse uma criança cega
aos tropeções dentro de ti,
eu falei em neve, e tu calavas
a voz onde contigo me perdi.

Como se a noite viesse e te levasse,
eu era só fome o que sentia;
digo-te adeus, como se não voltasse
ao país onde o teu corpo principia.

Como se houvesse nuvens sobre nuvens,
e sobre as nuvens mar perfeito,
ou se preferes, a tua boca clara
singrando largamente no meu peito.

Eugénio de Andrade

Palavras - XLI

ADEUS

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as paredes das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais dava mais tinha para dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo:meu amor,
já não se passa absolutamnete nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que toda as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade

2005-10-12

"ESPERA"

Canções ecoam mansas pelos vales
e sobem as montanhas docemente
e delas adormece o solo quente
e eu sobre ele sonho a cor dos males…

Tudo está em mim à espera que tu fales…
Por essa terra for a, terra quente
só aos ecos respondem docemente
os sons cruéis que eu quero que tu cales!…

A tua voz não vem com a dos ecos…
Ao pé de mim só estalam ramos secos…
E de ti nada chega aos meus ouvidos

E em mim vou sempre esperando a tua voz…
Será somente o meu pensar em nós?
Ou tocar-me-á em todos os sentidos?…

11/9/38
19/11/39

Jorge de Sena

Que inveja...

Que "inveja" tenho da Kanuthya que sabe partilhar connosco as suas músicas preferidas!
É que eu estou numa de PAVAROTTI! (Parece que faz, hoje, 70 anos; informação Antena 2).
Logo cedo
enchi a casa com a "Chitarra romana"
iluminei-a com " O sole mio"
e certamente que à noite
vai correr por aqui em mansas águas
o "Moon river"!
E... graças a "Santa Lucia luntana"
cai uma chuva miudinha
que refresca a terra
alimenta as plantas
e enche de brandas ternuras o coração da gente!!!!!
Por isso:
PARA VOCÊS, UM DIA BOM!!!!

2005-10-11

Canção...

Canção de Hans, o marinheiro

Se tu suobesses
que em todos os portos do mundo
há uma mão desconhecida
a acenar- adeus, adeus- quando se parte pró mar;
se tu soubesses
que o mar não tem fronteiras nem distâncias
é sempre o mar;
se tu soubesses
a noite nas águas
onde os barcos são berços
e os marinheiros meninos a sonhar;
se tu soubesses
o desamor à vida quando o vento grita temporais
e a morte vem abraçar os homens na espuma das vagas;
se tu soubesses
que em todos os portos do mundo
há um sorriso
para quem chega do mar;
se tu soubesses vinhas comigo pró mar.
Vinhas comigo pró mar
embora as nuvens do céu
e os ventos que vêm do este e do oeste, do sul e do norte
digam ao mundo que vai haver o temporal maior que todos!

( Manuel da Fonseca)

2005-10-10

Ai este mar

Ai este mar de gaivotas arrepiadas.
Este vento soprado de sul que despentei e refresca.
Respirem fundo, encham os pulmões de maresia.
Soprem ventanias e libertem estas ondas prisioneiras, afogadas pelos dias de calmaria!
Alguém reparou como a baía de Sines hoje estava viva???
Desgraçado mar sufocado, "entalado"entre portos, molhos, docas e lotas.
Eu, se fosse mar antes queria ser um Mar do Norte!...


Ai este mar

Reflexos - LXX

Com a minha língua
crio novos mundos a partir do nada
e vivo no nada sem me aniquilar nele
Não sujeito a vida
deixo-a vir com o seu dom de vida
e transformo-a em pássaros e janelas
que sobrevoam as cabeleiras das mulheres
abraçando as suas ancas redondas numa
fábula verde
Tenho dois rostos
quando digo sim digo não
e o meu não cruel vibra um sim radioso
Ó mulher quando banhas o teu corpo
e o lavas com as tuas mãos
não é outro corpo que tu sentes no teu?
Eu sou a tua interrogação
eu sou a tua respiração
e a cor da tua respiração
Eu saboreio-te poro a poro
tacteio-te e no teu corpo toco uma melodia
nua

Eu sou um ser errante não sei fixar-me em
nada
sou um criador volúvel
propago as minhas ondas e raízes
e amo quase sem necessidade de amar
Porque amo como o vento e com as raízes
do vento
e com as raízes da água

Tudo o que em mim entra
transforma-se numa exalação de pétalas
em flores de água
em espaços e páginas
em navios errantes

António Ramos Rosa

2005-10-09

Magotes

Havia magotes no pátio da Escola agrupados por cores - entre alguns brilhava um ou outro tom diferente; talvez de um amigo -, de ar apreensivo, ansioso de quem anseia a vitória e arrogante de convencidos que se vêem num espelho de aumentar / "formar " a sua própria imagem.

Percorriam os eleitores com olhar desconfiado, espreitando os seus cumprimentos, observando os seus interlocutores, tentando adivinhar as conversas que os intrigavam, tantas vezes de cariz pessoal, entabulando conversa com quem passava, de expressão subtilmente suplicante...

Fecham-se as urnas, cumprem-se as formalidades, contam-se os votos e... divulgar-se-ão os tão esperados resultados das escolhas dos portugueses ... Surpresa ou talvez não!...

2005-10-08

Sem palavras

As palavras
podem estar
na boca
nos olhos
no gesto
na mão

a ausência
das palavras
é uma fria roupagem
com que por vezes
sentimos vestido
o coração


Centenário das palavras

"Todos os dias faz anos que foram inventadas as palavras.
É preciso festejar todos os dias o centenário das palavras."

(Almada Negreiros)

As palavras

As palavras fogem- me!
Onde andarão as palavras?
As palavras e o resto...

Reflexos - LXIX

CORAÇÃO HABITADO

Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.

Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Alguns pensam que são as mãos de deus
- eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.

Não lhes toques: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.

Eugénio de Andrade

2005-10-07

Linhas e Entrelinhas - XXI

Carta dirigida a José Régio

" Queridíssimo camarada:

Acabo de ler, por inteiro, e num só hausto feliz, o seu livro
"Biografia", há meia hora recebido.
É um livro admirável, porém a sua leitura, para em seu effeito
ser mais admirável, faz-me saudades. Faz-me saudades do meu maior
amigo, do único grande amigo que tive - o Mário de Sá Carneiro, a quem
a leitura dos seus sonetos enthusiasmaria como uma boa nova. Sonhei
sem querer - em um d´aquelles sonhos retrospectivos e erroneos - que
estivesssemos lendo junctos os seus sonetos, e reconheço a voz d´ elle
e a minha no consenso enthusiástico da apreciação.
Explico. Há uma íntima analogia entre o seu modo se sentir e o modo de
sentir que distinguia o Sá-Carneiro. O modo de sentir e o modo de sentir é
que é differente, como convém a dois que são dois, e não commumente o
terceiro que não é ninguém.
- Estes semi-dizeres não chegam a ser palavras; são contudo a expressão
immediata, spontanea e inteira com que, orgulhando-se mysteriosamente
de V., o abraça e amigo e muito admirador

Fernando Pessoa

17.1.1930 "

Ler...

"O verbo ler não suporta o imperativo. É uma aversão que compartilha com outros: o verbo «amar»...o verbo «sonhar»...
É evidente que se pode sempre tentar. Vejamos: «Ama-me!» «Sonha!» «Lê!» «Lê, já te disse, ordeno- te que leias!»
- Vai para o teu quarto e lê!
Resultado?
Nada.
Ele adormeceu sobre o livro."

(É assim que começa o livro de Daniel Pennac, "COMO IM ROMANCE".)
O livro fala-nos da conhecida preocupação de pais e professores pela falta de interesse e gosto que os jovens manifestam pela leitura.
Daniel Pennac, professor, pai de família e romancista escreve este ensaio com muito humor.
Não querendo usar o "imperativo", dir-lhe-ei, todavia, que é um bom livro para você ler!

2005-10-06

"quadrinhas"para o meu amor...

meu amor disse que eu tinha
os olhos da cor do mar
são como asas de gaivota
voando para te avistar

meu amor vive no mar
canta o canto da sereia
minha alma é uma praia
em noites de lua cheia

meu amor lembra-me o vento
que faz andar a barquinha
e eu voo num sopro de brisa
para que não ficar sozinha

meu amor disse que eu era
uma gaivota no mar
perdi as asas no vento
e não o pude encontrar














2005-10-04

Linhas e Entrelinhas - XX

"Lisboa, sábado, 21 de Junho de 1997

Olha lá, menina:

Aquele teu amigo de ontem, de ar freak, que levou o
intervalo inteiro a falar de direitos humanos, completamente
a despropósito, não me agradeceu o bilhete de cinema.
Achas normal?"


"(Na mesma noite, escrito no verso do bilhete)

Mãe:

Lembrei-me da sua amiga que esteve cá a semana
passada a pedir ao meu amigo Barroso, com um ar
romântico, que a levasse a casa depois do jantar.
Acha mais normal?

P.S. Deixe-me dinheiro para a ginástica, please."

Rita Ferro

Informo que...

Informo os interessados que, hoje (dia 4) no Canal 1 à noite, dará um documentário sobre o poeta moçambicano Reinaldo Ferreira.

O Livro

Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria.
Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido.
No entanto, as pessoas que entravam na livraria estavam todas muito bem vestidas de quem precisa de salvar- se.

(A Invenção do Dia Claro, de Almada Negreiros- edição fac-similada).

2005-10-03

Pétalas de Bem-te-Quer - 26

(...)
"...em ti acostam os barcos e a sombra dos grandes
navios do mundo
vive o peixe, agitam-se algas e medusas de mil desejos

... em ti descansam os pássaros chegados doutras rotas
secam as redes, põe-se ao sol

---em ti se abandona a ressaca das ondas e o sal
dos meus olhos
as ávores inclinadas, os frutos e as dunas

... em ti pernoita a seiva cansada das palavras, o suco
das ervas e o açúcar transparente das camarinhas

...em ti cresce o precioso silêncio, as ostras doentes e as
pérolas dos mares sem rumo

...em ti se perdem os ventos, a solidão do mar e este
demorado lamento..."

Al Berto

Reflexos - LXVIII

"Porque é que estranhas tanto que um deputado deixe o partido e vá ser deputado para outro lado? O jogador de futebol também muda de clube".

Vergílio Ferreira

Palavras - XL

Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, são fortes
como o javali.
(...)
Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não tem carne e sangue
Entretanto, luto.

Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate.
(...)
Já vejo palavras
em coro submisso,
esta me ofertando
seu velho calor,
outra sua glória
feita de mistério,
outra seu desdém,
outra seu ciúme,
e um sapiente amor
me ensina a fruir
de cada palavra
a essência captada,
o subtil queixume.

Mas ai! é o instante
de entreabrir os olhos:
entre beijo e boca,
tudo se evapora.
(...)
O teu rosto belo,
ó palavra, esplende
na curva da noite
que toda me envolve
(...)

Carlos Drummond de Andrade

Olhem lá!....

Sabem onde se pode comprar um dia de chuva???...
Até a alma, a gente já tem ressequida.
Os verdes já perderam o verde.
o sol até já se esconde (envergonhado) atrás da lua...
Chega de brincarmos aos Verões!
Amanhã vamos reivindicar. (Não estamos na época das reivindicações?)
Então pessoal, amanhã tudo de chapéu de chuva aberto gritando "em plenos pulmões":
QUEREMOS CHUVA!
QUEREMOS CHUVA!
QUEREMOS CHUVA!
(E se por acaso vier um ou outro trovãozito, também será bem recebido!)

Hoje estou romântica!...(Foi do eclipse)

Por isso, de Eug. de Andrade :

ESPERA

Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.

Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.

2005-10-02

Sabores à Portuguesa - XVII

Esta receita é dirigida especialmente à minha amiga Anna, grande apreciadora da gastronomia portuguesa – paladar e confecção.

A Raia de ( ou com Molho) de Pitau é um prato tradicional do litoral português.

RAIA DE PITAU À MODA DA ANTÓNIA

Ingredientes

1,5 Kg de raia
1 Kg de batatas
2 cebolas
3 dentes de alho
1 folha de louro
4 colheres de sopa de azeite
1 colher de chá de colorau doce
1 colher de sopa de vinagre branco
sal q.b.
pimenta q.b., facultativo

Preparação

Amanha-se a raia, lava-se, corta-se às postas e coze-se, com a pele, em água com sal..
Põem-se as batatas a cozer em água com sal – se forem novas, cozem-se com a casca.
Prepara-se um molho saudável com: o azeite, as cebolas cortadas às rodelas, os alhos picados, o vinagre, o colorau, o vinagre, o louro, a pimenta e um pouquinho de água, para ir cozendo em lume brando.

Quando a raia estiver cozida, escorre-se, retiram-se as peles e dispõe-se numa travessa ladeada das batatas. Cobre-se com o molho e serve-se, acompanhada com salada a gosto.

Nota: o molho pode ser apaladado com tomate (dois para esta receita) sem peles e sementes, cortadinho, e tirinhas de pimento.

Bom apetite!

Linhas e Entrelinhas - XIX

França, 1669 – 1.ª publicação de LETTRES PORTUGAISES, retrato de amor entre uma religiosa portuguesa, Mariana, e um fidalgo francês, Sr. de Chamilly.

Artifício literário ou verdadeira expansão de uma louca paixão da freira de Beja, as CARTAS PORTUGUESAS constituem uma obra-prima da literatura universal.

Saboreemos alguns excertos da obra:

“ Considera, meu amor, até que ponto foste imprevidente! Oh!, infeliz, que foste enganado e a mim enganaste também com esperanças ilusórias. Uma paixão sobre a qual tinhas feito tanto projectos de prazeres (…).

E esta ausência (…) há-de então privar-me para sempre de fitar esses olhos onde eu via tanto amor, esses olhos que me faziam saborear emoções que me cumulavam de alegria, que eram o meu tudo, a tal ponto que deles só precisava para viver? (…)

Como podem ter-se tornado tão cruéis as lembranças de momentos tão agradáveis? (…)

Mas não importa! Estou decidida a adorar-te toda a vida e a não ter olhos para mais ninguém (…)

Se me fosse possível sair deste malfadado claustro, não esperaria em Portugal que se cumprissem as tuas promessas: iria eu, sem qualquer inibição, procurar-te, seguir-te e amar-te por toda a parte.(…)

Lamento, só por amor de ti, os prazeres infinitos que perdeste (…) e terias experimentado que se é muito mais feliz e que se sente algo de bem mais tocante quando se ama com violência do que quando se é amado! (…)

Mas, finalmente, regressei deste encantamento. (…)

É preciso que o deixe e que não volte a pensar em si. Julgo mesmo que não voltarei a escrever-lhe. Tenho alguma obrigação de lhe dar contas dos meus actos?”

Nota: espero poder mostrar-vos neste espaço, ou nalgum bloque “próximo”, a capa da edição supracitada.

Faúlhas de Cupido

Floriram por engano as rosas bravas
No Inverno: veio o vento desfolhá-las…
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?

Castelos doidos! Tão cedo caístes!…
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!

E sobe nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos…

Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze – quanta flor! – do céu,
Sobre nós dois, sobre os nosso cabelos?

Camilo Pessanha

Verbo do Dia - Outubro

OUTUBRO

Do latim octu(m), oito e imber, chuva (october); oitavo mês do calendário romano.

É o mês:
- do termo das vindimas;

- da fermentação do mosto;

- da colheita das mais variadas maçãs;

- das castanhas;

- das sementeiras de: centeio, trigo e aveia;

- das plantações de: flores e de árvores;

E ainda...

- do nascimento de algumas pessoas especiais;

- de casamentos de afilhados e primos;

- de eleições;

- de tantos eventos!


Diz a sabedoria popular que:

Em Outubro, pega tudo

Se em Outubro te sentires molhado, lembra-te do teu gado.

Em Outubro, recolhe tudo

Outubro suão, negaças de Verão

Outubro nublado, Janeiro molhado.

Em Outubro centeio ruivo.

Em Outubro ou secam as fontes, ou passam os rios por cima das pontes.

Em Outubro não vás ao mar para pescar, mas vai ao celeiro e abre o mealheiro.

"Não vale a pena pisar"

"Não vale a pena pisar"

O capim não foi plantado
nem tratado,
e cresceu. É força
tudo força
que vem da força da terra.
Mas o capim está a arder
e a força que vem da terra
com a pujança da queimada
parece desaparecer.
Mas não! Basta a primeira chuvada
para o capim reviver.

(Manuel Rui - Angola)

2005-10-01

Depois...

Depois de um dia atribulado, com simulacros de atentados por mar e explosões ( a sério), no prédio em frente, desejo a todos e, especialmente a mim, uma boa noite se possível sem sobressaltos!
Até amanhã!